Na sua atuação, como exemplo no crime do Caso Ruschel, o senhor é visto saindo do MP, indo à cena do crime, é visto em ação. Por outro lado, os crimes políticos, como de desvio de dinheiro, são tratados pelo MP mais na formalidade do que na ação. Como o senhor vê isso?
Amorim – O que acontece é que teríamos que ter um sistema como dos Estados Unidos e da Europa, onde o Ministério Público tem a sua investigação, mais profissionalismo. Ontem estava aqui o candidato a Procurador Geral de Justiça, o meu candidato, Carlos Otaviano Brenner de Moraes, oposição. O MP está sendo comandado pelo mesmo grupo há três gestões. Mais do que isso eu não posso falar, mas vejo como incompatível com o MP um grupo ficar tanto tempo no poder.
Eu e ele falávamos exatamente nesta questão do profissionalismo. O pessoal da política, do jornalismo ainda e o MP e o Judiciário não estão fora disto. A gente é muito amador. Em todos os cantos deste país, somos muito amadores.
Eu estou fazendo o júri do Sanfelice, e o cara tem uma problemática psicológica tremenda, tem que ter um psicólogo, um psiquiatra do meu lado, alguém pra saber como está o filho dele, um sociólogo, tem que ter todo um funcionamento que não é difícil de fazer. Falta uma estrutura extremamente profissional. Somos todos ainda muito amadores. Eu sou um improvisador.
De que forma o senhor faz uso deste improviso?
Amorim – Naquele júri, preparei uma música do Chico Buarque de Holanda, com o rosto da mulher, fiz uma declaração teatral – e o teatro também não é pecado, mas isso é uma coisa que ainda enchem o saco, não é pecado nenhum desde que seja verdade – a situação das fotografias, colocamos no computador, fizemos alguma coisa de profissional em equipe. Isto era pra ter sido feito institucionalmente. Mas acabamos fazendo as coisas no improviso e é por isto que o cidadão vira herói.
Tenho certeza de que, se eu concorresse a alguma coisa em Novo Hamburgo, me elegeria. Ainda mais neste momento, sem dinheiro sem nada. Só com a imagem.
O povo é tão carente que, quando alguém faz o que todos deveriam fazer, ele vira herói. Aí o povo se agarra naquela imagem. Por isto, hoje eu tenho certeza de que, se eu concorresse a alguma coisa em Novo Hamburgo, me elegeria. Não tenho a menor dúvida disto. Ainda mais neste momento, sem dinheiro sem nada. Só com a imagem. É aí que está o perigo, pois a oratória e o carisma de muita gente do mal leva à eleição e aí vai para Brasília e vem o problema todo.
Na última eleição municipal, inclusive, seu nome chegou a ser cogitado. Passa pela sua cabeça disputar uma eleição?
Amorim – Tem muita gente que fica chateada quando eu digo que não posso. De acordo com a decisão do Conselho Nacional do Ministério Público e Conselho Nacional de Justiça, embora a minha interpretação não seja a mesma para a lei, não é o que a Constituição diz, o promotor não pode concorrer, nem se licenciado. De modo que eu teria que me exonerar.
Poder, não pode, mas gostaria de concorrer?
Amorim – Seria uma possibilidade. Não digo que gostaria, mas é uma coisa que teria que ser estudada. Penso que o Legislativo em especial, porque eu não queria ser prefeito. Que ninguém se magoe por eu dizer isso. Por ser promotor e pela relação que já falei, eu seria legislador, sempre.
E tem mais uma coisa: ser do Executivo hoje em dia, com a Lei da Improbidade Administrativa do jeito que está, basta você não ser muito simpático ao promotor que apura e a coisa pode complicar. A lei é muito subjetiva. Um promotor pode arquivar e outro pode denunciar a mesma situação. A lei é perigosa. Você pode permitir a um corrupto administrar impunemente e pode derrubar um bom político por um problema de interpretação.
Por exemplo: eu entreguei a Promotoria Eleitoral agora, no fim do mês de janeiro. E houve muitas situações de rejeição de contas. A lei diz que pode se impugnar alguma diplomação, mas eu percebi que na maioria dos casos é despreparo. Deve haver alguma punição, claro, pois quem entra na política tem que ter preparo.
Embora tenha algumas contas muito suspeitas, considerando de quem elas partiram, mas esta é uma questão que eu não vou entrar. Mas não nos enganemos: o promotor conhece todo mundo. Eu sei quem é quem em Novo Hamburgo. E aprendi uma coisa, e aqui talvez seja uma mácula minha: sou um promotor que admira o filme do Poderoso Chefão. E nesse filme tem uma lição de vida, que é conseguir transitar bem, com estratégia e inteligência, entre todos, até entre seus inimigos.