novohamburgo.org – Quanto tempo o senhor pretende ficar no Brasil?
Ernesto Frederico Scheffel – Ah, pretender é uma coisa. Talvez até 15 de janeiro, 15 de fevereiro, 15 de março. E aí vem “porque o meu casamento”, “porque o meu aniversário de casamento”, aí chega outro “mas em abril”…
A minha passagem de volta dá para voltar até agosto. Em 18 de outubro, haverá os 200 anos de casamento do meu antepassado, que fez seis filhos lá na Alemanha e um filho em Lomba Grande. Mas, quanto à entrevista, vamos ver o que pode interessar. Podemos falar disso tudo mais tarde. Vamos ver o que é essencial!
novohamburgo.org – Gostaríamos de recuperar a sua trajetória, do seu nascimento até atingir a idade adulta.
Scheffel – Isso tem que ser dito muito velozmente. Isso não interessa às pessoas. Nasceu… viveu… morreu…
novohamburgo.org – O que colaborou em sua trajetória para o senhor ser a referência que é hoje?
Scheffel – Campo Bom, 8 de outubro de 1927. É o ano também que nasce o cinema mudo. Em uma aldeia bastante pobre, como era também, relativamente, Novo Hamburgo. Toda essa área do Vale do Sino. Sino, desculpe-me se conto isso, mas o sino trazido da Alemanha caiu no rio. Por isso o correto é Rio do Sino, e não Rio dos Sinos.
Continuo. Em 35, por razão da exposição do centenário da Guerra dos Farrapos, todo aquele parque da redenção era ocupado por estandes, e as famílias de Campo Bom tiveram o privilégio de viajar de ônibus, facilitado pela prefeitura. Passamos por São Leopoldo, visitamos a igreja, aquela praça bonita que praticamente hoje não existe mais. Foi de tal forma modificada, aqueles balaustres retirados, e eu acho que por essa razão, em poucos dias, meu pai resolveu, sem perguntar para nós, mudar aqui para Novo Hamburgo.
Depois de dois anos, nos transferimos para a General Osório, 142. Depois, foi demolido para construir aquele edifício, que eles chamam elefante branco. Eu estava por completar 8 anos aqui e freqüentei velozmente meio semestre em língua alemã na Evangelisches Stift, a Fundação Evangélica de Hamburgo Velho.
Depois criou-se, em 37, o 2º semestre, aqui dentro mesmo, o Grupo Escolar Antônio Vieira, onde eu também estive por dois anos, quando o professor Ernesto Bernhoeft procurou meu pai para que eu ingressasse na escola evangélica, hoje Pindorama. Ali havia uma sala de trabalhos manuais e como eu já pintava a óleo pequenos trabalhos, de criança, me aconselhou a tentar um quadro de imaginação.
Então, eu pintei a Descoberta do Brasil pelas Crianças, que está lá embaixo, onde os índios eram crianças, abanando para as três naus. E depois, em seguida, ele pediu que eu pintasse a casa do prefeito, Odon Cavalcanti, porque estava por fazer uma visita.
Estes professores às vezes eram um pouco desinteressados. Eles achavam que o talento se desenvolvia por si mesmo.
Por isso, em setembro foi organizada em Porto Alegre uma apresentação de crianças, coloninhos, né? Foi no desfile da semana da pátria, e eu fui levado, escolhido pelo prefeito, entre aqueles 15 que ficaram 10 dias dentro do Palácio Farroupilha.
E aí foram chamados dois professores, um da Escola de Belas Artes e outro da Parobé, que tinha estudado em Paris, o João Cândido Canal, que era português, um homem de grande garra, que fazia desenhar melhor os técnicos, que o de belas artes.
Estes professores às vezes eram um pouco desinteressados. Eles achavam que o talento se desenvolvia por si mesmo. No segundo semestre, praticamente o estado me adotou, por 6 anos. Até que, em 47, quando completo 20 anos, no final do ano o comandante me chama se estou disposto a representar o Rio Grande do Sul como pintor militar.