novohamburgo.org – E o senhor aceitou o desafio de ser pintor militar?
Scheffel – Eu era cabo, mas estava por dar baixa. Sozinho, eu fui levado em um avião de pára-quedistas com 15 trabalhos e tirei 1º lugar, no Clube Militar do Rio de Janeiro. Como tinham comandantes, generais, oficiais, e eu era só cabo, me disseram que como eu tinha a medalha de ouro, seria gentil da minha parte renunciar, pois então criariam duas de prata. Como cabo, consenti.
Me adaptei a situação e fiquei 3 meses. Me deram um apartamentinho lá no clube. Isso permitiu que eu conhecesse o grande pintor Oswaldo Teixeira que o Canal me falava que tinha conhecido no Rio. Foi um dos maiores pintores do Brasil e, na época, do mundo. No mundo, há sempre poucos. Nós até contávamos sempre quatro. Isto que são divulgados. Hoje, através da internet, nós não podemos nos esconder.
Teixeira escreveu militarmente para o governo do estado para que eu tivesse uma bolsa e aqui isso foi providenciado pelo prefeito Odon Cavalcanti e pela secretaria de educação. Em março de 50, estou partindo de trem até São Paulo. E foi uma viagem muito pitoresca. Quando chegou-se ao Paraná o trem ia tão devagar que eu podia passar a mão no trigo, no meio do campo.
Em São Paulo, eu tive que trocar para o trem elétrico, um pouco frágil, mas moderno, até o Rio de Janeiro. Aí fui com minha mala e já carregava aquele esboço da Hecatombe (obra pictórica). Foi iniciado só em 53.
O Teixeira já tinha me convidado para a casa dele. Os desenhos que mostrei ele escreveu que atestava que seria um grande artista. Mas eu tenho 1,74m (risos). Aí, encontro Teixeira, me torno seu assistente e o substituo na escola livre da prefeitura do Rio de Janeiro.
novohamburgo.org – E como foi esta experiência?
Scheffel – Esses anos foram terríveis. Uma verdadeira guerra de trabalho. Eu não me agregava aos grupos, que depois se protegiam uns aos outros. Eu não me interessava. Com isso, eu era sempre aquele que estava interferindo. E quando eu passei a concorrer, a partir de 56, eu era um caso separado, mas que desmanchava o júri. Em 58, recebi o prêmio.
Então, o Fritz (referência que faz a si mesmo, na terceira pessoa) foi para a Europa, conhecer os museus. Isso aconteceu em 10 de maio de 1959, com um prêmio muito forte em dinheiro, mas que era pago mensalmente, por dois anos, quando recebia como um diretor de banco.
Lá, até se espantavam: “Mas que prêmio o senhor recebeu? Aqui, não existem prêmios desse valor!” Mas a minha irmã Lia disse: “Dinheiro que não precisares manda para cá, que compramos um terreno e futuramente tu constróis uma casa.” Eu fiz assim, e minha irmã comprou três terrenos, na subida da Fundação.
Depois, eu vendi para comprar a casa ao lado (do lado direito de quem entra na Fundação), que vai ter prosseguimento. Vamos criar uma ponte. Isso já está desenhado.
Então, estou na Europa e passo por Viena, onde encontro Maura Moreira, minha colega de coral no Rio de Janeiro, onde cantei como solista. Eu quis mostrar minhas primeiras composições ao maestro. Mas ela queria ouvir minha voz, por causa da musicalidade. Eu não queria cantar em público. Eu era tímido na época. Larguei, porque queria composição.
novohamburgo.org – E foi aí que a Itália surgiu na sua vida?
Scheffel – Chegando em Florença, em pouco tempo, fui apresentado ao chefe dos laboratórios de uma galeria e mostrei as fotos do Caramuru, Gerânios, até os 31 anos. E tinha sobre o cavalete os Quatro Filósofos de Rubens. E esse quadro havia sido limpo e ficou todo esburacado. Ele fez de tudo para que eu tomasse pé, e eu achei que era uma grande ocasião, que eu não podia esperar e não podia perder.
Fiquei 3 anos com ele. Ele já estava com 77, 78 anos. Ele então me disse: “O meu pai havia sido o primeiro restaurador daqui. Desde 1800. Eu sou o segundo, mas eu não tenho filho. E você tem todas as possibilidades, sensibilidade, respeito e capacidade.”
Os professores achavam que eu devia seguir na escultura. E eu, na realidade, queria a música.
Eles entregavam para um artista que levava para casa e limpava com soda cáustica. Parcialmente perdia. Depois, vinha pronto. Mas não se sabia, não era fotografado, não era documentado. Fora isso, eu me escrevi logo na escultura, em Florença. Os professores achavam que eu devia seguir na escultura. E eu, na realidade, queria a música. Nem pintura, nem escultura. Eu queria a música.
Aqui eu tinha iniciado com a Elza Zottman, em Hamburgo Velho. Eu bati na porta. Ela disse: “O que você quer?” Eu queria ter noções de piano. Ela me disse: “Tu não podes ser mais concertista. Já estás muito grande!” Eu disse que gostava muito de música e que queria conhecer melhor. E assim ela fez.
Me deixou a chave no vaso de Gerânios, e eu ia todos os dias fazer os exercícios. Isso eu fiz por três meses e achava que já tinha aprendido. E comecei eu mesmo a executar com notas. Escrevia o número do dedo nas notas e aprendi logo. Tem dois prelúdios de Chopin que até hoje eu gosto de tocar. Coisa pequena, claro, mas eu tinha a impressão que estava regendo uma orquestra.