novohamburgo.org – Mesmo assim, o senhor não se considera sozinho?
Scheffel – Onde vivo, existem cerca de cem pessoas, em um lugarejo medieval. Tem pessoas que se oferecem para limpar minha casa uma vez por semana, cozinhar para mim. Mas isso me atrapalha. Aproveito todos os momentos para fazer alguma coisa.
novohamburgo.org – E os anões não fazem isso para o senhor?
Scheffel – A história dos anões partiu da casa. Ela ficou com a janela baixa, banquinho baixo de madeira. E as janelas em cima são tão baixas que no meu quarto levanto a perna e posso ir para o telhado.
No ano seguinte, veio a notícia que os Irmãos Grimm se inspiraram em uma princesa e um pai também para descrever a história da Branca de Neve. O castelinho que tinham transformado em museu da ciência tinha as janelas em ébano preto, como a mãe fala: “que seus cabelos sejam pretos como a janela e branca como a neve”.
Outra coincidência é que a mina de prata e cobre, que fechou em 1820, tem a abertura só de 78 centímetros. Para entrar nesse túnel, se supõe que seriam anões ou crianças pobres que trabalhavam ali. Se acha que aqueles chapéus coloridos serviam para identificar-se entre si, porque eles tinham pouca iluminação. Eles estão encontrando as explicações. Só não encontraram o príncipe.
Ela ficou quase cega aos 14 anos por causa de uma maçã que teria comido, envenenada. O farmacista do lugar iniciou um movimento pelo turismo. Hoje eles fazem a caminhada pelas sete colinas, muito parecidas, entre o castelo e a mina. Uma bela caminhada, uma série de coincidências.
Os Irmãos Grimm moraram lá perto e o pai, depois da morte da mãe, casou novamente, com uma mulher muito bonita e rica. Se supõe que ela teria ciúmes dessa menina tão querida pela população e especialmente pelo pai. Ela nasceu em 1729 e faleceu em 83, por aí. Eles tinham um livro de presenças no castelo e aparece, antes dela falecer, sozinha, quase cega, a visita de dois rapazes. Eles viviam procurando histórias para convertê-las em contos. Eles escreveram cerca de 300.
novohamburgo.org – O senhor é pintor, escultor, músico, restaurador…
Scheffel – Eu estou fazendo para que todos saibam a importância da filosofia. Em geral, quem a lê, não entende, como eu a li e não compreendia a base. Para mostrar como é necessário saber onde estamos, em que mundo se está e como funciona a sua organização.
Aí, um dia, me deu a luz. Foi em 1986. Eu estava numa crise terrível e fora estavam acontecendo horrores. E eu queria saber por quê? Aí veio uma idéia: qual foi a primeira forma de organização dentro da sociedade humana?
Antes eram tribos, nômades, que depois se fixaram. E eles criaram já a forma da fazenda. Isto é, o mais forte, mais esperto. Usa seus afins, com intermediação política, para criar riqueza e conservação da espécie humana, que continua sempre. As nações funcionam assim e vai continuar funcionando assim. Enquanto nós não nos tornarmos independentes, como eu sou.
A palavra é provocação. Se nós quisermos ajudar alguém é pela provocação. Provocação positiva, dando exemplo.
novohamburgo.org – O senhor é uma pessoa que em sua arte não é revolucionário, com suas características renascentistas e outras influências. Mas é instigante, provocador…
Scheffel – Exatamente! A palavra é provocação. Se nós quisermos ajudar alguém é pela provocação. Provocação positiva, dando exemplo.
novohamburgo.org – O que o Despertar da Adolescência (obra pictórica) representa?
Scheffel – Isso se refere à dificuldade do adolescente em se aceitar no momento em que ele é desviado por grupos, que as pessoas justamente demonizaram algo que é absolutamente natural.
novohamburgo.org – É autobiográfico?
Scheffel – Sim, é autobiográfico.
novohamburgo.org – E a Hecatombe (outra obra pictórica)?
Scheffel – Hecatombe era o meu escândalo! Quando eu era muito jovem, pensando que se todos fossem honestos, os adultos, como meus professores, ingenuamente, que em dois, três anos o mundo todo se encontraria, teria diálogo. E quando fiz esse trabalho, vi que esse diálogo só vinha quando as coisas estivessem resolvidas. Isto é, as coisas só podem melhorar através do diálogo.
Esse dois lados opostos da concentração, a direita e a esquerda, é a servidão humana.
Esse dois lados opostos da concentração, a direita e a esquerda, é a servidão humana. Até hoje, os partidos acham que se a esquerda governar, como chegou ao governo na Itália, vai poder dirigir. Não vai poder. Porque ela se transforma no poder, na concentração.
E aconteceu um fato glamuroso: quando ela chegou ao poder, ao mesmo tempo os juízes descobriram as ligações dos bancos da Itália, mas uma coisa vergonhosa, vergonhosa, para defender o pequeno grupo. Era um processo que envolvia escândalo, fotografia, pelo telefone, com provas!
Só que o grupo da esquerda que foi eleito ia conversar com quem? Ia governar com qual dinheiro? Dos bancos. Então, resolveram criar uma lei libertando todo mundo que de 3 anos para cá tinha problema com a Justiça. Seis mil pessoas, entre pequenos ladrões. A Itália está sendo invadida! E os diretores? Está tudo bem, salvos. Então, está aqui o dinheiro.