Casado e pai de três filhos, o advogado Ruy Noronha é natural de Novo Hamburgo, ex-presidente da Fenac e há 30 anos presta consultoria às prefeituras da região na área de direito público. Em entrevista ao Portal novohamburgo.org, Noronha fala sobre sua infância, família, militância estudantil e política e o legado de seu pai. Como pré-candidato à prefeitura de Novo Hamburgo pelo PTB, o tema não poderia ser diferente: sua candidatura, alianças políticas, os problemas da nossa cidade e suas idéias para fazer dessa, segundo ele, uma “cidade viva”.
novohamburgo.org – Quem é Ruy Noronha?
Ruy Noronha – Sou natural aqui de Novo Hamburgo. Comecei meus estudos no Grupo Escolar Pedro II. Eu cresci na época em que a Nações Unidas (avenida) terminava ali na 5 de Abril. Andávamos de tonel cortado no arroio branco (hoje Luiz Rau ou arroio preto), tomava banho no matinho dos Friedrich, brincávamos no morro onde hoje é a Fenac. Nos fundos de casa passavam os trilhos do trem. Brincava de pegar carona no trem, ir no carro-motor até Porto Alegre. Tínhamos essa liberdade. A violência de hoje não permitiria essas brincadeiras. Depois fui para o 25 de Julho, quando inaugurou o novo prédio. Tive uma vivência no movimento estudantil, na União de Estudantes, como militante. Mais tarde ingressei na faculdade de direito da PUC, e ali sim participei como vice-presidente do Centro Estudantil com o Francisco Barbosa, que era o presidente, na época delegado de polícia.
“Senti muito orgulho naquele momento. É uma lembrança que me marcou muito. Uma homenagem não preparada, espontânea.”
Ainda estudante me filiei ao MDB. Só havia dois caminhos: a favor ou contra o regime de exceção. Em 76 me candidatei à Câmara de Vereadores de Novo Hamburgo, onde fiquei como suplente e acabei por atuar na área jurídica da prefeitura em 77 e desde então, por sucessivas administrações, venho prestando consultoria. Sempre na área administrativa municipal. Durante cinco anos fui presidente da Fenac, como representante do poder público. Se buscava compartilhar a gestão da entidade com os empresários.
Com a extinção do MDB não me filiei a nenhum partido, permaneci como consultor da prefeitura, e não só Novo Hamburgo, mas Cachoeirinha, Gravataí, Estância Velha, Portão, Caí. Tenho dois filhos do meu primeiro casamento, com quem tenho uma relação muito boa, e também um relacionamento de muito respeito e amizade com a minha ex-esposa. Tenho mais um filho do segundo casamento. Hoje estou casado há 27 anos. Com todos meus filhos procurei ter uma relação de amigo, de parceiro e não apenas de pai. Sempre busquei incutir neles o conceito do que é certo e errado. Tenho um filho vidrado em informática, outro que cursou medicina e a menina, a mais velha, fez faculdade de direito, mas não quer advogar. Está mais direcionada para as artes. Sempre estimulei que deveriam fazer o que os fizesse feliz.
novohamburgo.org – O que de mais importante o senhor aprendeu com o seu pai, Ruy Noronha, dentro da ampla vivência pública dele?
Ruy Noronha – Eu aprendi com ele que às vezes, mesmo havendo a perspectiva de não alcançar os objetivos, o fato de perseguir, de perseverar, talvez seja mais importante que o próprio objetivo. Como político e como profissional, ele sofreu algumas represálias pelo posicionamento político. Sofreu constrangimentos. Aquela época era muito complicada. Não se concebia sentar-se na mesa com sindicato operário para estabelecer uma pauta mínima. Aprendi com ele a gostar muito da nossa terra e a ser leal.
novohamburgo.org – Qual a lembrança mais forte que o senhor tem dele?
Ruy Noronha – Ele era uma presença permanente e muito forte na vida da família. Recentemente um vereador amigo pediu um histórico dele para uma homenagem, para que fosse indicado como cidadão honorário. E o pai me disse que daqueles vereadores ele não queria nenhuma homenagem. Conversei com este amigo e disse: ele não quer. No ano passado, próximo aos dia do advogado, ele foi laureado pela OAB com a comenda Oswaldo Vergara, que é uma homenagem àqueles advogados que ao longo da vida tiveram uma atuação comunitária destacada. Eu acompanhei-o na solenidade. Estava presente o Paulo Brossard, que foi meu professor, e outros advogados de renome. E ele com 89 anos se emocionou. Ficou realmente agradecido. Senti muito orgulho naquele momento. É uma lembrança que me marcou muito. Uma homenagem não preparada, espontânea.