novohamburgo.org – No que o Ralfe tem pautado o mandato?
Ralfe – Na fiscalização do executivo. Não abro mão de fazer.
novohamburgo.org – E tu te sente sozinho nisso?
Ralfe – (Pausa) Acho que a Câmara deveria vibrar mais nesse aspecto. Eu não me sinto só, mas acho que a Câmara enquanto instituição deveria fazer mais, vibrar mais. Individualmente há preocupação, acredito que dos 14. Mas acho que a Câmara, individualmente, não está preparada para fazer a fiscalização efetivamente.
A Câmara hoje não domina a execução orçamentária. A Câmara não domina os mecanismos que fazem do orçamento a principal ferramenta de governo. Acho que é preciso mais energia da Câmara, nesse aspecto, para auditar o sistema público de transporte coletivo, para verificar efetivamente o sistema público de saúde.
Outra coisa que eu não abro mão de fazer é instrumentalizar a sociedade, principalmente entidades com informação e possibilidade de ação. Os conselhos municipais a gente vem tentando de alguma forma alimentar, seja de informação, seja de recurso mesmo para o debate.
Emenda ao orçamento eu não lembro de ter feito alguma que não tenha vindo de uma discussão e de uma compreensão. Fiz emenda que trata, por exemplo, do fundo da criança e do adolescente. Fiz emenda para o fundo social. Fiz emenda para a associação do skate.
novohamburgo.org – Quem vive uma relação bastante delicada, não é?
Ralfe – A relação da sociedade com o skate acontece de uma forma precária. É preconceito mesmo. Vai ter a pista de skate? Então, vamos fazer uma escola de skate. Muita gente hoje trabalha com o skate, seja em cima dele, sendo atleta, seja produzindo tênis, produzindo roupa, vendendo roupa. Esse meio movimenta muita coisa.
E qualquer vício que a sociedade tenha, ali também tem. Mas no futebol tem, na natação tem. Só que acaba sendo mal visto o skate. Aparece mais porque alguns grupos andam em bando. Ele incomoda mais porque não está no padrão.
Então, instrumentalizar a sociedade com informação, com recurso, seja com a presença no debate, eu acho que é outra marca da minha atuação. Por segmento, desde o primeiro mandato, sempre foi a juventude, a cultura e a educação, que são interligados e em alguns momentos são, inclusive, a mesma coisa.
novohamburgo.org – Quem são as principais lideranças do PSOL hoje, em Novo Hamburgo?
Ralfe – De expressão temos a Sharon, que hoje é presidente do partido, o Daniel, o Filipe, mas muita gente que ajuda a carregar o piano.
novohamburgo.org – A ex-vereadora Celina Grezzana, não?
Ralfe – Não, mas porque ainda não conseguimos conversar. Mas teria o maior prazer em compartilhar o partido com ela, com pessoas como o Betinho e a Anita, que tem um belo trabalho. O PT tem boas pessoas em Novo Hamburgo.
novohamburgo.org – Mas de figuras conhecidas, grandes lideranças, o PSOL está carente?
Ralfe – É, mas aí é aquilo que falávamos… se as pessoas quiserem vir, que venham! Mas primeiro, tem que ter uma vontade enlouquecida de mudar o mundo. Que saibam que este é um partido socialista, e que tem um programa que é socialista. Mas se tiver alguma dúvida em relação a qualquer uma dessas coisas, não é o melhor lugar. Vai ser atrito e não vai ser solução, nem para nós nem para quem quiser vir. Sabendo disso ou disposto a aprender sobre isso, será bem vindo.
Temos que ter um partido orgânico. Não se pode ter um partido vinculado a cargo de confiança. E aí falo do Executivo e do Legislativo. Não pode ter partido vinculado a resultado de eleição.
A cada eleição, os grandes partidos arrecadam muito dinheiro e montam um exército para fazer campanha. Botam camisa de uma mesma cor para distribuir material e é uma forma de agir, e eu não concordo com isso. O cara que fez campanha para o fulano na última eleição, na próxima não faz para ele. E normalmente não vota nele. É o padrão. É uma relação, inclusive, do ponto de vista trabalhista, promíscua. E é um jeito de construir o partido.
Não vale qualquer coisa para chegar ao poder, qualquer aliança ou qualquer apoio. No momento de chegada ao poder, tem que chegar, seja por ter conquistado a consciência, seja por ter conquistado o apoio popular. O Lula teve isso na primeira eleição e abriu mão. O Lula tinha legitimidade nos primeiros seis meses de governo para fazer o que quisesse.