Quem vê o discurso do vereador Ralfe Cardoso (PSOL) talvez o veja como um sonhador, um utópico. Mesmo em meio a tantos escândalos de corrupção, com o dinheiro público sendo roubado, maltratado e o cidadão humilhada, ele acredita em indignação reação da sociedade.
Formado e eleito pelo PT, ele fez a escolha pelo jovem PSOL e repete em Novo Hamburgo, incansavelmente, a ideologia que move a sigla: “Roubar não é normal, ser ético é obrigação, não uma qualidade”.
Nesta entrevista, concedida ao portal novohamburgo.org, o parlamentar, que está no seu segundo mandato na Câmara Municipal, fala por que não desiste da oposição, defende um diálogo aberto com a sociedade para definição das prioridades, analisa os governos pelo viés da inoperância e corrupção, e reafirma acreditar em uma reação.
Parte deste sentimento, ele atribui ao projeto de iniciativa popular lançado pelo partido em Novo Hamburgo, que irá buscar assinaturas nas ruas para limitar o número de cargos de confiança no Município.
novohamburgo.org – Tu defendes qual caminho para uma sociedade melhor?
Ralfe Cardoso – Enquanto sociedade nós precisamos reagir ao que está acontecendo. O movimento sindical está imóvel. É preciso voltar a discutir as questões estruturais a partir da organização dos trabalhadores.
A remuneração dos sindicatos será muito forte. A reforma sindical aponta para este panorama. Hoje existem três centrais sindicais que recebem verba do governo. Dentro do PSOL existem militantes ligados a Conlutas e a Intersindicais, que caminham para um luta unida, senão a própria ligação das duas centrais.
Em Novo Hamburgo, também o movimento sofre com a própria crise, que não é uma crise apenas do calçado. Hoje, as centrais não se colocam contra o Lula, mas contra o Meireles, como se fosse possível dissociar as duas coisas.
Tivemos um debate sobre a moção de repúdio contra a privatização, a venda das ações do Banrisul. E só o Banrisul. Construímos uma discussão com a bancada do PT e com o Volnei, do PCdoB, mas no acordo só definimos a moção contra a privatização do Banrisul. Só que na defesa da moção, que é contra a privatização do Banrisul, eu inclui a discussão do Banco do Brasil, da Pretrobrás e de todos os ativos que o governo Lula vem vendendo.
Não mudou. O Fernando Henrique fazia, o Lula faz, e o próximo vai fazer igual. E acho que isso tem relação com o movimento não estar conseguindo reagir, e acho que isso vai estar mais vivo na eleição do ano que vem. E o governo vai colher o que esta política de alianças está criando.
novohamburgo.org – E vai colher os frutos disso?
Ralfe – Vai colher inclusive os frutos podres. E o que esperar de um partido que em âmbito municipal se faz presente nos mais variados encontros, seja do PDT, do PTB ao PP. Tudo o que eu vejo hoje só reforça a minha certeza na decisão que tomei quando troquei a legenda. Não tenho dúvidas. Diferente do compromisso que eu tenho com o PSOL, e eu acho que tenho, no PT, com o “frentão”, eu não seria candidato.
Alguns podem pensar que eu digo agora que não estou mais no PT. Mas se a minha pretensão fosse carreira eleitoral, eu teria ficado no PT. Seria mais cômodo, o partido está mais bem estruturado. A eleição em qualquer pleito seria mais provável do que pelo PSOL. E vejo que os eleitores souberam compreender isso, haja vista a última eleição. O passo dado era a expectativa das pessoas.