novohamburgo.org – Lhe parece que a sociedade não recebe a informação como deveria receber?
Paulo Feijó – Nem eu recebo.
novohamburgo.org – A respeito do Banrisul, por exemplo, quanto da dívida do Estado é oriunda do banco?
Paulo Feijó – Eu não posso precisar, porque não me passam as informações. Tenho de forma extra-oficial. Estimo que a dívida do Banrisul possa representar algo equivalente a 4% ou 5% da arrecadação. Se o Banrisul tivesse que pagar esta dívida, certamente ele não seria viável, mas quem está pagando é a sociedade, é o Estado.
Quero deixar claro que, durante a nossa campanha, nos comprometemos a não promover um plebiscito sobre o Banrisul e sua privatização. Por conseqüência, eu vou cumprir com aquilo que prometi. Não quer dizer que eu apóie e ache que é o melhor caminho, mas vou cumprir com a minha palavra. Agora, se isso é bom ou ruim para o Estado, acho que cabe o debate, claro e aberto.
novohamburgo.org – Vale refletir também sobre o exemplo do vizinho, Santa Catarina, que recentemente negociou seu banco, o Besc?
Não sou contra o Banrisul, só quero que ele compita no mercado e não tenha privilégios.
Paulo Feijó – Não só Santa Catarina. Foi Paraná, São Paulo, Rio, Minas, Bahia. Acho que só dois estados da federação têm banco próprio. Nós e o Pará. Mas não sou contra o Banrisul, só quero que ele compita no mercado e não tenha privilégios. Folha de pagamento das prefeituras, por que tem que ficar no Banrisul? O IPVA também. Por quê? Folha de pagamento do funcionalismo, a mesma coisa. Tem que ficar naquele que prestar o melhor serviço pelo melhor custo.
Em segundo lugar, nunca defendi a privatização do Banrisul e sim a federalização. Entregar para o governo federal e deixar de pagar a dívida e investir esse dinheiro em segurança, saúde e educação. O que é mais prioritário para a população gaúcha? Ter um banco ou saúde, ou segurança, ou educação? É essa a pergunta que deve ser feita.
novohamburgo.org – Quanto a questões de governabilidade, como o vice-governador acompanha o atrito entre o Executivo e o Poder Judiciário por cortes no orçamento?
Vamos primeiro olhar para o nosso umbigo e fazer o dever de casa.
Paulo Feijó – Eu não teria comprado essa briga. Como Executivo, entendo que o Judiciário é um poder independente. Defendi, não agora com essa crise, muito antes, que o Estado tem que prover para a sociedade segurança, saúde, educação e justiça. Temos que ter uma Justiça forte, ágil e bem equipada. Se considerarmos que a justiça leva 7% do que se arrecada, é muito pouco. Nós ficamos com 93% e estamos criticando alguém que fica com apenas 7%? Vamos primeiro olhar para o nosso umbigo e fazer o dever de casa.
novohamburgo.org – O senhor defende uma revisão dos percentuais do orçamento?
Paulo Feijó – No meu entender, segurança pública não leva só 7%. Hoje, a justiça leva 7%, educação leva 15% e saúde leva 6%. Se estas são as prioridades, cada uma teria que ter 15% ou 20% do que se arrecada. O Judiciário tem razão. Não vamos criticar uma instituição que tem alguns benefícios. Temos que criticar aquela que cobra muito e que não tem benefício nenhum, que é o Poder Executivo.
novohamburgo.org – As suas posições divergem do discurso do governo, embora o senhor seja parte dele. De alguma forma lhe frustra elas não terem espaço?
Paulo Feijó – De certa forma sim, pois foi para isso que fui convidado a participar do governo e ser vice-governador.
novohamburgo.org – É a sua primeira eleição?
Paulo Feijó – Sim, nunca tinha participado de nenhum projeto político.
novohamburgo.org – E tem se decepcionado com a política?
Paulo Feijó – Não. Tenho aprendido a cada dia. Agora, tenho mais convicção, por estar deste lado do balcão, de que há como fazer. É só querer.
Sou vice-governador e continuarei sendo.
novohamburgo.org – Isto significa que seu nome pode liderar uma futura candidatura?
Paulo Feijó – Há muito tempo para se definir isto. Meu compromisso é até o último dia de governo. Sou vice-governador e continuarei sendo. É muito cedo. Não se abordou ainda. Há muita coisa para acontecer até lá. Não estou pensando nesta hipótese ainda.