Calçado briga por competitividade
O novo presidente da Abicalçados, Milton Cardoso, fala de suas expectativas para o setor calçadista
Empresário, paulista, 51 anos, e diretor da Vulcabrás, Milton Cardoso é, desde o dia 12 e julho, o novo presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados). Ele sucedeu ao empresário Élcio Jacometti, que esteve à frente da entidade nos últimos anos.
Cardoso conversou rapidamente com o portal novohamburgo.org sobre as perspectivas do setor calçadista frente ao câmbio, políticas do governo federal, concorrência internacional e oportunidades de mercado.
Segundo o dirigente calçadista, o ideal é que o país tenha um câmbio realista, que permita ao setor empregar 14 pessoas por hora, ou o equivalente a 120 mil empregos anuais. Confira, a seguir, o que pensa o novo comandante da Abicalçados.
novohamburgo.org – Como deverá ser o câmbio brasileiro para que ele se tornar mais “realista”?
Milton Cardoso – Um câmbio realista é aquele que proporciona competitividade às empresas. Competitividade esta que o setor não tem em virtude dos custos de produção que tornam o calçado nacional muito caro.
Os países que competem conosco têm uma estrutura de custos que não onera a produção, como os encargos trabalhistas, fiscais e de juros. O setor não pede que nenhum direito do trabalhador seja retirado, mas que os impostos que as empresas paguem sejam reduzidos. Com menores custos, poderemos produzir mais, produzindo mais, poderemos contratar mais, num círculo virtuoso onde todos só têm a ganhar.
Com uma política industrial adequada, todos os setores podem crescer.
novohamburgo.org – Como o senhor visualiza a próxima década da geração de emprego no setor, frente ao crescimento da concorrência chinesa?
Cardoso – É difícil fazer previsões com um mercado tão dinâmico. Mas nós temos como manter nosso crescimento a longo prazo, caso tenhamos uma política de crescimento e de geração de renda. Com uma política industrial adequada, todos os setores podem crescer.
novohamburgo.org – O avanço da Índia no setor calçadista é um problema a mais ou uma oportunidade?
Cardoso – Há lugar para todos, desde que as condições de competitividade sejam iguais. O mundo hoje consome 14 bilhões de pares, e há uma imensa população que ainda pode consumir mais. Então, temos que aproveitar todas as oportunidades.
novohamburgo.org – O senhor acredita que o governo federal poderá adotar a desoneração da folha de pagamento, antiga reivindicação do setor?
Cardoso – Esta é uma das reivindicações do setor que levamos à reunião com o ministro Guido Mantega, no dia 18 de julho.
O processo de qualidade e de inovação no setor é irreversível.
novohamburgo.org – Os fabricantes continuarão investindo para produzir calçados, com maior tecnologia agregada, ou tendem a reduzir quantidade e qualidade de matérias-primas utilizadas?
Cardoso – O processo de qualidade e de inovação no setor é irreversível. Mas a decisão de usar mais ou menos tecnologia é da empresa. Depende do seu foco, do tipo de produto que faz. Há sapatos que são um sucesso e não dependem de muita tecnologia, já outros têm na tecnologia o seu maior sucesso. O setor é muito dinâmico.
novohamburgo.org – Os calçadistas que tradicionalmente dirigem suas produções para o mercado internacional vão continuar buscando novos clientes?
Cardoso – Com certeza, a busca de novos clientes é uma constante para o setor. E há uma gama de mercados alternativos muito grande para os calçadistas explorarem. Como eu disse, tudo depende do foco da empresa.