novohamburgo.org – Sobre o caos aéreo, teu pai foi praticamente um vidente. Ele praticamente previu o que iria acontecer, e infelizmente a imprensa deu mais importância para o que ele falou depois do acidente.
Lucas Redecker – A verdade é que o caos aéreo… não é de hoje que se sabe que existe problema com a aviação. E depois vem o presidente nos dizer, achando que a gente tem nariz de palhaço, que não sabia que a crise era tão grande. Mas desde o acidente com o avião da Gol (em setembro de 2006), todos acompanhamos tudo isso! E o pai foi um dos que participaram da CPI do Caos Aéreo, apontou essa crise aérea, esse apagão aéreo.
São crises contínuas, porque uma hora não funciona o radar, outra hora não funciona isso, outra hora greve daquilo. Como é que um presidente da República não presta atenção nisso? Como é que ele não põe a Anac e a Embraer para analisar realmente o que está acontecendo? E não podemos esquecer do que se comentou sobre as reformas que foram feitas em vários aeroportos brasileiros, com suspeita de superfaturamento, que estão sendo investigadas.
Naquele discurso do pai, ele falou: “Será que mais tragédias vão ter que acontecer para que seja resolvido?” Ninguém queria que isso tivesse acontecido, e ele também não. E aconteceu com ele.
Mas o mais interessante eu ouvi da boca do pai e depois do Arlindo Chinaglia… o Arlindo Chinaglia foi uma das pessoas mais importantes na questão do apoio familiar. Ele fez tudo o que alguém poderia fazer. Independente do partido. Ele foi para o hotel da mãe lá em São Paulo, e não saiu do lado dela e das minhas irmãs. Foi até o aeroporto quando a mãe embarcou. E, quando o corpo do pai veio, ele veio junto no mesmo vôo e ficou até que enterrássemos o pai.
O Arlindo Chinaglia disse que o pai colocou a prioridade do país, e não a prioridade da oposição.
E o Chinaglia me comentou que eles foram numa reunião com a cúpula do controle aéreo brasileiro. Só os dois. E lá eles ficaram sabendo da real situação do caos aéreo. Os controladores pediram que aquilo ficasse em “off”, ou o caos aumentaria muito. Os dois saíram e entraram no elevador. A imprensa estava toda lá embaixo esperando. O pai apertou o botão da emergência, parou o elevador e perguntou ao Chinaglia o que eles iriam falar. Combinaram o que iriam falar. Ficou acertado que levariam juntos ao Lula todo o relato. E o Arlindo disse que o pai colocou a prioridade do país, e não a prioridade da oposição.
E o pai também me contou essa história e me disse: “Eu poderia ter criticado o governo Lula como nunca ninguém criticou. Só que nós prejudicaríamos o andamento do país. E eu botei o país em primeiro lugar”. O Arlindo me falou a mesma coisa: “O Júlio era uma pessoa ética, íntegra, que se preocupava primeiro com os interesses do país, depois com a sua missão que era a oposição, que era criticar o governo”.
Pode haver milhares de pessoas que o critiquem pela posição ideológica. E eu aceito isso.
novohamburgo.org – Esse reconhecimento serve como consolo?
Lucas Redecker – Essas são coisas que nos consolam. A gente vê o caráter, o estilo de política que o pai sempre fez. E eu sempre digo que o pai sempre buscou seriedade, integridade, e ser família. Pode haver milhares de pessoas que o critiquem pela posição ideológica. E eu aceito isso, assim como eu critico muitos outros. Mas criticar o caráter e a ética eu não admito! Eu não concordo com isso!