novohamburgo.org – Recentemente, houve a divulgação do teor das caixas pretas, narrando os segundos de horror dos pilotos do vôo. E a oposição pode estar usando a tragédia para movimentar a CPI do Apagão Aéreo. Como tu vês o aproveitamento dessa situação para bater no governo federal?
Lucas Redecker – Cada um sabe o peso da sua dor. Não era o deputado que morreu. Foram 199 pessoas. Ele era uma pessoa que tinha um mandato parlamentar e o exerceu com muita responsabilidade e da melhor forma possível. Eu não conhecia os outros passageiros e tripulantes, mas tenho a certeza de que todos buscavam igualmente exercer a sua função da melhor forma possível. O valor deles todos era igual. A diferença para mim é que ele era o meu pai. Mas eram 199 vidas, seres humanos.
O que me preocupa nisso tudo são duas coisas: o lado pessoal e o lado político. A gente tenta imaginar o sofrimento. O que se passou dentro do avião naqueles instantes finais. Alguma coisa aconteceu e eles notaram que iam se acidentar. Isso para nós é inconveniente. Eu não gostaria que isso fosse divulgado, mesmo que nós tivéssemos conhecimento da conversa. Isso gera comentários. E são comentários desagradáveis. A gente sente a dor e não gostaria de ouvir estes comentários.
Por outro lado, vem a questão política. Essa investigação deveria ter um sigilo, para que se chegue aos culpados de fato, sem pressões, sem condenações prévias, sem especulações. E, ao se chegar aos culpados, que sejam responsabilizados. Isso tudo é desagradável pessoalmente ao saber o que o familiar sofreu lá dentro e é triste no Brasil que as investigações que acontecem sofrem influências externas, fazendo com que muitas vezes não se chegue a verdade, ou que se tenham responsabilizações.
Eu cresci vendo, vivendo a política. É como respirar.
novohamburgo.org – E o teu caminho político, como está se desenhando? Estás conseguindo imaginar a caminhada? De certa forma os primeiros passos já foram dados na última eleição para prefeito.
Lucas Redecker – Olha, vou falar de uma coisa que é natural para mim. Eu cresci vendo, vivendo a política. É como respirar. Na primeira eleição do pai, eu tinha um ano de idade, usava uma camisetinha da campanha, com o nome dele. Segunda eleição, em 86, eu tinha 5 anos de idade. Terceira eleição, eu tinha 13. Isso nas que ele concorreu, fora as que ele só apoiava. Mas sempre participava das eleições.
Eu comentava com a governadora da primeira vez que eu representei ele. Nós estávamos em um roteiro e o pai passou mal, teve uma grande indisposição e foi obrigado a voltar para casa. Ele me pediu que eu o fosse representar na próxima cidade. Eu nem sabia o que fazer. Estava eu ao lado de Celso Bernardi, candidato ao governo do estado, o candidato a senador, dois candidatos a deputado federal e outras lideranças. Auditório cheio. E eu perguntei a ele: o que eu vou falar? E ele me disse que eu estava acostumado a acompanhar ele, e que saberia o que fazer.
Eu me emociono em falar, mas ele não era um pai. Eu enxergava ele como uma montanha, um ponto de referência.
E eu fui, sentado no banco do carro, sem me mexer até chegar no evento. Caladinho ali, pensando. E aí me chamaram para que eu ocupasse a tribuna. Claro que mais tremia do que falava. E esses eventos foram acontecendo, e eu participando cada vez mais. E na última eleição do pai, antes de eu concorrer a prefeito, montamos o roteiro onde eu participava muito, e discursava em vários eventos. E isso acabou virando uma coisa normal.
Meus primos têm a mesma idade que eu e muitas vezes eu optava por não sair com eles para acompanhar o pai nos roteiros pelo interior. O pai em casa não estava, e eu era grudado no pai. Às vezes, era a forma da família estar junta: acompanhávamos ele nos roteiros. Eu estava sempre com ele.
Eu me emociono em falar, mas ele não era um pai. Eu enxergava ele como uma montanha. Eu admirava… ele era um ponto de referência. Tudo, ele era tudo. Se o pai falasse “não faz”, eu podia querer fazer, mas não fazia. Tudo isso serve de exemplo para mim, para o resto da minha vida.