Entrevista realizada no dia 05/12/2006, na redação do portal novohamburgo.org
No vôlei também tem a questão do eixo Rio-São Paulo-Minas?
Politicamente sim, tecnicamente não. Nos anos de 97, 98, 99 e 2000, os títulos da Super Liga foram para Campinas. Em 2001, voltou pra Minas. Em 2002, 2003, 2004 e 2005, foram todos para Santa Catarina. Desses nove títulos da Super Liga, quatro foram de Santa Catarina para baixo. A biotipia, a qualidade de vida e a competência das pessoas que hoje estão na região Sul, entre treinadores, dirigentes e jogadores, é notável. Basta ver a Super Liga deste ano: são 15 equipes, quatro do Rio Grande do Sul e três de Santa Catarina. Então são sete equipes, quase 50% do campeonato é de Santa Catarina para baixo. Isso até há um tempo atrás não existia. Rio de Janeiro, São Paulo e Minas, por estarem em uma região que aglomerava investimentos financeiros, dominavam. Hoje, investir no esporte fora dessa região política também é um grande negócio.
E o projeto que você tinha na Ginástica de fazer um time de vôlei, vai continuar?
Está de pé ainda, com certeza. A minha decisão de ir para Portugal ocorreu há de oito dias. Existiam rumores, mas havia um convite. Fui até lá e aí assinei o contrato. Agora, categoricamente, eu vou pra lá. Por mim e pela minha família está definido. Mas o projeto esportivo do clube não é de uma pessoa, ele é de uma filosofia. Achamos que o esporte tem que ser sempre um ganhar e perder. Quando perde, tu tens que saber o porquê perdeste. A gente diz muito mais coisa na derrota do que na vitória, mas a gente tem que ser meio obstinado com vitórias. Porque se ganhar o voleibol da Ginástica, o associado vai estar melhor, o clube vai estar melhor, a cidade vai estar melhor, o Estado vai estar melhor. É um ciclo vicioso.
Muita gente te criticou quando tu saíste da Ginástica nos anos 90. Como foi essa experiência? O que tu guardas disso tudo?
Sou fanático por Novo Hamburgo. Vivo hoje uma situação profissional e já neguei três vezes para ir para o exterior porque a minha família não podia ir. Sou um cara muito quadradão com relação a isso. O Marcelo e a Betina hoje estão jogando em Vitória e São Paulo, mas assim que terminar o campeonato Brasileiro, eles vão para Portugal. Daquele episódio, não tenho nenhuma mágoa. Nada. Quando eu ia buscar as crianças no Colégio Pio XII ou no Santa Catarina, no fim do ano, escreviam “vendido” no meu carro. Mas nunca me estressei, nem tive raiva. Quando fui campeão pela Super Liga em maio de 98, o Jornal NH fez uma reportagem comigo. Dizia a manchete: “A resposta de Jorginho”. Tenho em casa essa página ainda. Eu não dei resposta nenhuma! Eles queriam fazer uma reportagem para que eu me pronunciasse. Tentaram cassar o meu laureado da Ginástica quando eu fui campeão mundial de punhobol. Queriam me tirar porque eu havia competido contra a Ginástica. Vários advogados me ligaram. Disseram: “Não te preocupas, deixa conosco”. Eu nunca fui atrás disso, nunca tive nenhuma mágoa disso, muito pelo contrário. A cidade me dá esse fed back. De novo, acho que sou um cara muito sortudo. Não tenho porque ser demagogo nessa hora. A cidade hoje é uma conseqüência dos teus atos, se eu nasci nessa cidade e sempre me dei bem com ela, acho que isso é uma conseqüência. Eu tenho paixão por Novo Hamburgo.
Tu foste da geração de ouro da Ginástica na época do punhobol. Este esporte não cresceu tanto como o vôlei. Por quê?
Eu vou te dizer. Não teve um Luciano do Vale para incentivar isso, colocar na mídia. Não tem esporte hoje sem televisão. Pode ter o dinheiro que tiver, o cara ser o mais poderoso que for, mas se não tiver a televisão junto, não vai vingar. Eu confesso que sou um viciado em TV. Acordo à noite, às 4 horas, e vou olhar TV. Olho muito os vídeos das equipes, tenho até um fone de ouvido para não atrapalhar ninguém. Isso é rotina para mim. Assim, o punhobol é um esporte meio sui generis. Ele é praticado por alemães. Então isso o limita um certo ponto. Não dando certo em determinados meios políticos e mercadológicos, não tem jeito. Faltou uma pessoa pra levar adiante. Nós atletas sabemos disso. Mas o punhobol também não é rentável. Não adianta bater em uma tecla que não vai dar retorno.
Podes falar um pouco da importância do esporte na vida das pessoas?
Levanto e vou caminhar, sempre estou numa organização física isso é uma rotina pra mim. Muitas pessoas, até pela condição de aparência física, estão ligadas ao esporte. A gente acha que isso acaba dando uma satisfação. Sinto-me muito satisfeito em participar de uma reunião esportiva, mas uma reunião de negócios eu fico maluco. Me ofereceram a coordenação esportiva de 16 esportes na Ginástica e me deram uma sala. Até agora eu não esquentei a cadeira deste espaço ainda.
O que você acha da utilização do esporte para a recuperação de meninos de rua?
Tem que cuidar muito quando a gente fala nessas coisas. Acho pouco inteligente a gente associar uma coisa extremamente séria com pessoas infelizes. Temos um emprego onde nos esforçamos muito, mas acho que a situação dos meninos de rua deve ser analisada com cuidado. Muitos aproveitam essa “fabricação” e se colocam como meninos de rua. Eu sou fraterno, gosto de ajudar, mas gosto de ver a pessoa gostar daquilo que vai receber. Caso contrário, não sou de fazer filantropia só para estar na coluna social. Nunca menti em coluna social. Não porque não gosto disso, mas porque essa não é a minha característica. O esporte, hoje, para meninos de rua, não se faz só com intenção. Tem que ser dentro de um clube, de uma associação, mas que a escola capte as pessoas, e não a sociedade. A escola tem que levar a criança para lá. A escola não é formadora e sim condutora. O esporte não é um fim, é um meio. Então a gente tem que cuidar quando se encaixa nessa situação. O Bernardinho esteve palestrando na Feevale há 60 dias e disse: “Vocês não podem usar o esporte como plataforma de reconhecimento. Vocês vão se dar mal se pensarem assim”. Plataforma para alavancar certos nomes e filosofias não dá certo.