Que providências são necessárias para que a cidade não pare no tempo?
No caso da qualificação dos recursos humanos, deve-se começar por levar a sério toda área onde se elabora conhecimento. Pré-escola de qualidade para todos, indistintamente. Muitas das dificuldades de aprendizagem resultam da precariedade física, como a desnutrição que sela o destino de milhões de crianças.
No Ensino Fundamental e Médio, será necessário investir em leitura, interpretação e escrita. Aqueles que não dominam as formas de comunicação não terão como sobreviver, serão relegados a segundo plano. Testes feitos nessa área revelam que 9 entre cada 10 adolescentes não entendem aquilo que lêem, quanto mais escrevem algo que não seja cópia.
Investir na Universidade, mas também no ensino profissionalizante. Hoje todos querem ter diploma universitário. Banalizou-se esse nível. Basta ver a proliferação desmedida do ensino a distância ofertados em catálogo. E o que é pior. Formam-se milhares de advogados, dentistas, administradores, mas pouquíssimos químicos, físicos, matemáticos.
Na área do ensino superior, acredito que será necessário formar e fortalecer centros de excelência de ensino, pesquisa e extensão. Eleger áreas que sejam carentes de estudos e investir prioritariamente nelas. Na área do ensino profissionalizante o caminho é semelhante.
Se Novo Hamburgo investir desta forma, certamente poderá alavancar seu desenvolvimento de forma sustentável, porque a base não será mais o produto, mas as pessoas envolvidas no processo. Aliás, fala-se em desemprego, algo que passou a atemorizar a região nos últimos anos, mas no Brasil há falta de pessoas qualificadas, que saibam não só se comunicar como tomar iniciativas inteligentes.
Qual o olhar estrangeiro sobre o Novo Hamburgo? Como a cidade é vista de fora?
Muitos ainda enxergam a Novo Hamburgo pujante, rica, soberba, imagem que não deixou de existir.
Muitos ainda enxergam a Novo Hamburgo pujante, rica, soberba, imagem que não deixou de existir. Ocorre que antes da crise calçadista, essa era a imagem predominante, das ruas asfaltadas, dos prédios, das indústrias. Essa imagem sempre fora distorcida, assim como muitos acreditam que Gramado é seu centro comercial e seus pontos turísticos, que Nova Iorque é Manhattan ou Paris a Chapms Elysées.
Não se mostrava a Novo Hamburgo da periferia, da falta de saneamento, da poluição do Rio dos Sinos, das favelas, dos moradores de rua, cidade que sempre existiu, mas ficou escondida. Quando essa cidade periférica aparecia, era para explorar o fato dela ser também ameaçadora, gangues, assaltantes, prostitutas, mendigos, enfim, tudo aquilo que incomodava os que viviam enclausurados e “protegidos” nas residências com muros altos, cercas eletrônicas, seguranças particulares, etc.
O caminho natural e mesmo desejável é desvelar essa imagem de cidade que comporta contrastes, característicos das regiões metropolitanas. A chamada cidade multi-cultural é a mais aproximada do “real” e não a que só enxerga o decadente ou o progressista.
A crise econômica possibilita desvelar essa distorção, desvendar a cidade da periferia, com suas características extremamente importantes, sua cultura que não segue as tendências da mass media, que tem valores próprios. Um pouco aquilo que a Regina Casé fazia no programa Central da Periferia.