A Utresa é uma sociedade anônima?
A Utresa é uma OSCIP, uma organização da sociedade civil de interesse público, uma entidade sem fins lucrativos.
Sem fins lucrativos com lucro mensal de R$ 4 milhões?
Aí é que está. Ele passou a ser uma OSCIP de 2002 para cá, antes era uma S/A.
O que mais a investigação encontrou na Utresa?
Na investigação que fizemos, encontramos canos lançando poluentes. Inclusive analisamos a água antes de passar pela Utresa e depois de passar. Quando passa pela Utresa, aí vira uma esculhambação. Há pontos saindo direto para o arroio Portão. Um canal de drenagem lateral à Utresa, com 300 metros de comprimento e 4 a 5 metros de largura, tinha uma camada de 80 centímetros de lodo poluente acumulado dentro dele.
Quando começaram a perceber que estávamos investigando, começaram a alterar as evidências. Tiraram uma lagoa de lugar, instalaram outra, tentaram adulterar as informações de um canal que estava cheio de lodo contaminado no dia da investigação e, depois disso, fizeram um dreno e despejaram tudo dentro do arroio. Botaram gente para fazer o dreno, para cavoucar dentro do resíduo. Por que ele não recolheu isto e levou para tratar? Não, ele preferiu jogar no arroio. Não morreu mais peixes no episódio porque o Rio dos Sinos estava mais cheio neste período.
O peixe residente no Rio dos Sinos não é próprio para o consumo.
E quanto ao abastecimento público? Os peixes não morreram porque o rio estava cheio, mas e as pessoas? Como elas são afetadas por esta contaminação?
Chamamos o pessoal da Vigilância Sanitária Estadual para uma conversa após a mortandade. Na verdade, com essa chuvarada, o rio foi a 238 metros cúbicos por segundo, então lavou o rio, certo? Limpou por cima, mas por baixo não. Qual é a nossa preocupação? Primeiro é o problema do peixe contaminado, porque o peixe residente no Rio dos Sinos não é próprio para o consumo, porque acumula no organismo metais pesados que este peixe acumula no dele, e temos os dados disso, porque há cádmio, zinco, cromo, chumbo e mercúrio.
Foi tirado algum peixe vivo para fazer esta análise?
Sim, vivo. O uso deste pescado como alimento pela população da bacia é uma preocupação. Um trabalho importante de avaliação disto deve ser feito. Em segundo lugar, como transformar um rio classe 4, o mais poluído, em água potável? Botando muito produto químico na água, de fato. Mas como é uma estação de tratamento de água, qual a mágica para tirar agrotóxicos, metais pesados, produtos perigosos? Não tem como.
Nossa preocupação quando da mortandade era justamente da repercussão disto na saúde pública.
É preciso pensar de fato nesta condição. O que tem que ser feito é um chamamento público. Nossa preocupação quando da mortandade era justamente da repercussão disto na saúde pública. A sorte desta poluição é que ela não atingiu a Corsan, a 30 quilômetros do ponto onde foram lançados os efluentes. Dá tempo de diluir, pois 30 quilômetros é uma boa distância.
O alerta é para melhorar a informação. A preocupação da Vigilância Sanitária era sobre que poluentes devem ser avaliados na água para consumo humano.
O senhor toma água no Rio dos Sinos?
Não. Na verdade a água que eu tomo em casa é do Rio dos Sinos, com certeza, porque não tenho poço, mas passo ela por um filtro de carvão ativado antes de beber. O carvão retira as substâncias tóxicas principais, tanto que se sente o gosto. É uma medida de cautela.
Claro que a Comusa faz um trabalho interessante, mas a aberração de Novo Hamburgo é que o arroio Pampa despeja a um quilômetro e meio da captação da Comusa. E o que tem ali? Tem resíduo de indústria, tem esgoto doméstico. Já teve empresa que lançou seu efluente bruto no arroio e que foi autuada.