É. Na verdade, há vários e-mails em que ele se condena. Inclusive eu usei para levantar a suspeita. No dia 27 de novembro, ele diz que está quase tudo resolvido. Ele diz assim: “Gostaríamos de informar que, apesar das precipitações pluviométricas mais acentuadas e decorrentes da geração de águas pluviais, conseguimos contornar o problema captando a maior parte destas águas. Efetivamente, ainda existe algo por fazer, mas creio que não seja impossível. Utilizamos volumes maiores de cloreto de alumínio e a emissão não apresentou indícios de que mantivesse cargas maiores de contaminação originárias de nosso pátio. Por outro lado, conseguimos também interceptar as fugas de líquidos contaminados, ou seja, percolados que, apesar de volumes baixos, estavam nos preocupando.” Então, em alguns ele se condena.
Por que, então, ele enviava para o senhor, gestor ambiental estadual, e-mails nos quais se comprometia?
É curioso. Eu não sei, acho que em algum momento ele abriu mão da administração da Utresa. Analisando hoje, após três meses lá dentro, a impressão que dá é de que ele perdeu o controle. Ele ficou refém de muita gente. Muito disso inclusive pode ter acontecido sem ele saber, mas alguém sabia, a portaria sabia.
Mas ele é o dono e o responsável técnico. Como pode não saber?
Aí é que ele se enrolou. E tem algo que deve ficar claro neste processo: o pedido de prisão preventiva do Ruppenthal não foi por que ele matou os peixes do Rio dos Sinos, não foi por que ele estava poluindo o meio ambiente, mas sim por que ele estava adulterando as provas que conduziam a um crime que foi praticado. Este é o principal motivo da prisão preventiva dele, para que ele parasse de alterar as condicionantes da área. Ele lavou o terreno, desviou lagoa de líquidos contaminados de lugar.
Qual a função destas lagoas?
Reter para não ir ao ambiente, ser capturado e tratado. Mas nem uma estação de tratamento ele tinha ali.
E esta ausência não é falha da fiscalização da Fepam?
O fato de não haver uma estação de tratamento vem deste conceito: por que ela teria que ter uma estação de tratamento se ela não lança efluentes? Ele pode, pelo volume pequeno informado, levar para tratar em terceiros? Pode. Se eram 100 metros cúbicos por mês, divide isso por 30 vai dar 3, 4 metros cúbicos por dia. Quando na verdade a geração era de no mínimo de 60 metros cúbicos por dia. E a Fepam, por isso, nunca exigiu nada da Utresa.
O faturamento dela (Utresa) era de R$ 4 milhões por mês, R$ 40 milhões por ano.
Uma frustração que tenho é que a Utresa abriu mão de investir um bom dinheiro que ela faturava. O faturamento dela era de R$ 4 milhões por mês, R$ 40 milhões por ano. Abriu mão de investir um milhão em uma estação de tratamento e ganhar R$ 39 milhões. Hoje, eu sei por que fazendo a assessoria técnica da Utresa, a estação de tratamento para ela custaria R$ 600 mil.
Sobre esta questão de investimentos, o Ruppenthal informa nos e-mails que a Utresa está comprando uma fazenda no Paraná. Uma das coisas que ele tinha como projeto era a produção de biodiesel, a partir de mamona e pinhão-bravo. A proposta dele era cultivar estas plantas lá e gerar uma nova atividade econômica. No Paraná, ele comprou propriedades que são de preservação permanente, ou seja, não dá para fazer nada lá a não ser proteger a área. Este foi outro interesse que manifesto a ele, de preservação destas áreas. Ele fala em espaços no Paraná com espécies que ainda correm risco de extinção. Ele falava do interesse de buscar capital estrangeiro para investir ali. Até porque ele conhece muita gente de fora, pois trabalhou muito tempo na Europa.