novohamburgo.org – Nosso problema não seria a fraqueza das instituições pelas pessoas que as constroem?
Bassani – As instituições devem ser construídas pela população. E, quando não pode fazer diretamente, ela delega. Eu até brincava numa aula na UFRGS: coitado do Niemeyer (Oscar, arquiteto responsável pelo projeto urbanístico de Brasília)!
Ele projetou aquelas cúpulas, aquela fechada, para ser a casa de pessoas acima de qualquer suspeita. E, se você pegar os 81 senadores, 13 tem processo-crime, 26 tem outros tipos de processo. Então, praticamente 50% do Senado não tem condição legal e até moral de estar lá. Estão nos representando?
E quem faz essa representação? A população. Lamentavelmente, a nossa representação é essa e não são mais do que a expressão da forma como a nossa população pensa e age. Quando se é candidato, ninguém, praticamente, quer saber o que tu fez, o que tu pensa em fazer. A maioria quer alcançar os objetivos imediatos.
É um momento complicado! Mas temos de acreditar que o País deve avançar. Talvez esse momento leve a uma maior maturidade, até das pessoas lembrarem em quem votaram para senador, por exemplo. Quem sabe as pessoas vão começar a se perguntar cada voto, para quem vão dar. Ficamos tristes, mas vejo as pessoas se perguntarem. É a cobrança do cidadão em si próprio: em quem vou votar? E que as coisas possam mudar, a pesar das linhas tortas.
novohamburgo.org – Quando o senhor remete cópia para a Presidência da República, por exemplo, como nessa moção, o senhor está chamando a atenção a quê, exatamente?
Bassani – Um vereador comentou que deveríamos fazer um minuto de silêncio contra tudo o que está aí. E outro vereador disse: “meu Deus, por que eu estou aqui?” E eu não concordo com os dois, pois não temos que fazer minuto de silêncio e estamos lá por que temos de mudar o estado das coisas. Se cada Câmara Municipal fizer a sua parte, tomar uma atitude, contestar, documentar, cobrar, e multiplicar a sua indignação, estaremos fazendo muito.
novohamburgo.org – Que peso o senhor acha que essa moção terá ao chegar em Brasília?
Bassani – Brasília é a terra do papel. De tanta reivindicação. Coisas tão mais graves não são consideradas. Eu associo essa com a história do beija-flor que faz a sua parte para apagar o incêndio. Busco fazer minha parte. Pode tomar um grande rumo, como pode não fazer diferença alguma. Eu pretendo fazer esse encaminhamento para muitas outras Câmaras, para que sigam o exemplo de Novo Hamburgo.
Tem uma coisa muito grave aqui, também, acerca do inchaço da máquina pública. Na época do Fernando Henrique Cardoso, ele baixou em quase 200.000 o número de funcionários público federais. O Lula repôs todo esse pessoal e, para o ano que vem, já prevê mais 56.000 funcionários. Para isso, a sociedade deve estar atenta.
São 200.000, mais 56.000. É uma Novo Hamburgo inteira como funcionários ou não. Acho que foi um enxugamento e tanto. Quase tudo que Novo Hamburgo recebe de receitas correntes vai para a folha de pagamento. O Estado pior ainda. Erechim tinha 10 faxineiras para limpar o prédio. Uma seria suficiente.
Quem está medindo o trabalho dessa empresa terceirizada, que ganhava milhões? Na União e no Estado, isso é mais grave. Cada vez mais, os governos devem enxugar, gastar menos, para poder investir nas áreas que beneficiam a população. A medida que se criam tantos cargos, isso é moeda de troca!
novohamburgo.org – A opção então seria aproveitar servidores concursados também para cargos de primeiro escalão?
Bassani – Quando eu fui prefeito interino, eu fiz isso. Mas é uma forma de gestão muito pessoal. Às vezes, você não tem no quadro pessoal com conhecimento suficiente para desenvolver algum trabalho. Então, você busca fora. Valoriza o que se tem e onde não se tem se busca. Aí você tem resultado.
O profissional competente se paga. Não sou da linha de que não se deve trazer pessoas de fora. No tempo em que fui diretor do Hospital, quantas coisas conseguimos fazer. Buscar o ReforSUS, a questão do esgoto, o atendimento desumano, aquele prédio do lado, equipamentos. O administrador deve ter a visão e a responsabilidade.