Uma crítica à influência da TV
Obra “Descontágio”, lançada na Feira do Livro, traz uma metáfora sobre o caráter invasivo da televisão
O escritor hamburguense Cleo de Oliveira acaba de lançar seu livro de contos “Descontágio”. Uma reunião de textos que surpreendem e revelam uma imaginação e uma capacidade de transcrevê-la que prendem o leitor.
Nesta entrevista, ele fala de sua relação com a leitura e com a escrita e de como vê, hoje, o panorama do estímulo ao hábito de ler. Seu livro tem apresentação de ninguém menos que o imortal Moacyr Scliar. Ele teve sessão de autógrafos na Feira do Livro de Novo Hamburgo e terá mais uma na Feira do Livro de Porto Alegre, dia 7 de novembro, às 18h30.
novohamburgo.org – Fale um pouco do início de sua trajetória na escrita.
Cleo de Oliveira – Sempre gostei de ler. A cada vez que encontrava algo escrito que me tocava, pensava que aquilo tinha saído da cabeça de alguém, e que dentro de cada cabeça haveria algo de interessante para ser escrito.
Lá por 1988, após um colega ter ganho um concurso de contos do Sesi, resolvi escrever três contos para o concurso do ano seguinte. Acabei escrevendo uns 8. Não deu em nada, mas guardei aqueles papéis que amarelaram e seguiram martelando a minha cabeça: “um dia você poderia retornar, e escrever outra vez.” Em 2002, reencontrei estes contos e os reescrevi. Acabaram indo à final de um concurso da Petros (Fundo de Pensão da Petrobras, onde trabalho). De lá para cá não parei mais.
novohamburgo.org – Quanto tempo levou para escrever os contos que fazem parte de “Descontágio”?
Cleo de Oliveira – O meu processo de criação é lento. Alguns contos levaram seis meses para estar de um jeito que me agradasse. Desde 2002, tenho trabalhado bastante neles e em outros que acabaram ficando de fora deste meu primeiro livro. Alguns contos, como “Platão tinha Razão” e “Um passeio nos sonhos” são dessa primeira fase, de 2002.
Todos os meus contos passam também por uma oficina literária. Ela é virtual com amigos de Porto Alegre, Vitória, Rio de Janeiro e Curitiba. Após receber a opinião desses meus amigos escritores, faço uma nova revisão. E isto, muitas vezes leva mais alguns meses.
novohamburgo.org – Seu livro trata de uma crítica á tecnologia e ao poder que a televisão exerce nas pessoas?
Cleo de Oliveira – “Descontágio” fala de um cidadão urbano que vê a sua rotina ser invadida pelos olhares da sua própria televisão. É uma metáfora sobre o caráter invasivo da televisão, e, por conseqüência, da influência dos programas televisivos sobre quem os assiste. O personagem aos poucos vai se sentindo imbecilizado.
É uma metáfora sobre o caráter invasivo da televisão, e, por conseqüência, da influência dos programas televisivos sobre quem os assiste.
Outro tema importante neste conto é a ética dos meios de comunicação. Quais são as notícias que interessam ou não aos índices de audiência. O personagem do conto se vê envolvido nesse processo de contágio em massa e, à sua maneira, tenta se livrar disso tudo.
novohamburgo.org – Você se inspira em pessoas e fatos que lhe cercam no dia a dia ou tudo é fruto da imaginação?
Cleo de Oliveira – Os temas para os contos se apresentam para o escritor. Na verdade, se apresentam para qualquer um, mas o escritor trata essa apresentação de uma maneira diferente. E não se trata de ouvir uma boa história que te contam e escrevê-la quando chegar em casa. Muitas histórias contadas foram feitas para isso. Um tema, aquele que toca o escritor, é diferente. É algo um pouco mais universal, que ao ser escrito pode atingir tanto um leitor aqui quanto um leitor na Rússia. A universalidade do tema para mim é o primeiro ingrediente para que o resultado seja um bom conto.
Tem uma outra coisa: eu sonho histórias. Todo mundo sonha histórias, mas quando julgo que alguma delas é interessante eu a escrevo. Muitas não dão em nada, outras acabam virando um conto interessante. Neste livro tem uma história sonhada, “Boneca dos olhos de concha”, que acredito, virou um conto bem legal.