novohamburgo.org – Embora o presidente Lula tenha dito que não deve apresentar projeto sobre a legalização do aborto, ele acredita que o tema deva ser debatido. O que a Igreja pensa deste debate?
Dom Zeno – Se você coloca em debate qualquer um dos mandamentos, a maioria será pela abolição do mandamento. Mas os mandamentos não são um tema democrático. O aborto, por exemplo. O aborto é matar. Ora, se vão liberar o aborto, temos também que liberar o assassinato. E, se vamos liberar o assassinato, temos que permitir que nos matem também. Então, você estaria de acordo com o aborto, com o assassinato, ou com a eutanásia? Você gostaria que fizessem a eutanásia com a sua mãe, com seu pai?
novohamburgo.org – A pesquisa com células-tronco se enquadra nesta linha de pensamento?
Dom Zeno – Sim, porque as células-tronco são células de uma pessoa viva. Se nós nos matamos, das suas células fazemos 50 pessoas viverem bem. Vocês permitem? Não! O ser vivo está acima de tudo. Mesmo porque podemos utilizar outro tipo de células, como, por exemplo, as células do cordão umbilical, quando a criança nasce. Temos que ter este tipo de pensamento. Assassinato por quê? Aborto por quê? Toda pessoa de boa consciência, evidentemente, é contra o aborto.
Os mandamentos não são um tema democrático.
novohamburgo.org – Em Novo Hamburgo, está em andamento e existe até legislação sobre o planejamento familiar. Como o senhor vê esta questão?
Dom Zeno – A Igreja é favorável ao planejamento familiar desde 1962, mas por métodos naturais. As pessoas que estudam um pouco sabem que existem dias em que a mulher é fértil e outros muito mais dias em que ela não é. Entre os animais isto é normal. Eles só mantêm relações em dias de fertilidade. A pessoa humana tem a capacidade de controlar isto e ter a sua vida sexual regrada. Agora, ela precisa ser orientada, esclarecida, educada. Este é um trabalho para o qual a Igreja nunca se negou a ajudar. O que a Igreja não permite é o uso de métodos que levam ao desregramento da vida.
novohamburgo.org – O senhor gostaria de deixar alguma mensagem à comunidade de Novo Hamburgo?
Vim para cá para deixar a minha marca.
Dom Zeno – Eu vim para Novo Hamburgo exatamente no dia em que a cidade fez 80 anos. Estamos entrando nos últimos 20 anos do primeiro centenário e eu gostaria de ajudar a construir este primeiro centenário. Vim para cá para deixar a minha marca. Vim para colaborar, construir e, sobretudo, fortificar a Igreja, o presbitério, nesta última arrancada do primeiro centenário de Novo Hamburgo. Venho para cá com esta mensagem de esperança, de que vamos construir uma sociedade sempre melhor.