Entrevista realizada no dia 19/12/2006, na redação do portal novohamburgo.org
A arte no interior é mais forte do que aqui?
Nós desenvolvemos projetos em arte nas cidades do interior do Estado e ganhamos estadia, lanches, locomoção. Na grande maioria destas cidades do interior, a produção cultural é muito menor do que se tem aqui e o apoio público muito maior. Um exemplo é Bento Gonçalves onde foi construído um super centro de cultura e onde ocorrem inúmeros projetos. Produziram cartões postais da cidade e a qualidade dos trabalhos é maravilhosa.
Houve uma semana do Bento em Dança e ficamos fazendo uma semana de workshop em frente à prefeitura, onde estavam expondo 20 artistas gaúchos. E por que não fazer estes eventos em Novo Hamburgo? A cidade tem espaço, tem ambientes legais e tem artistas plásticos maravilhosos. Nós ficamos com ciúmes de não termos isso aqui na cidade. A feira do livro é uma feira muito importante para a cidade, mas chega nos últimos dias e não há programação pronta, não sabemos o que vai ocorrer.
Hoje em dia, como é trabalhar com artes plásticas?
Trabalhar com artes plásticas não é fácil, principalmente no começo que não se tem retorno financeiro e precisa-se produzir bastante. Para fazer exposições, precisava de muito dinheiro, então para vencer os custos eu precisava ter outro trabalho paralelo para poder financiar as exposições.
Eu saí do emprego fixo quando tive meu primeiro filho. Pra mim, em primeiro lugar era meu filho, segundo a carreira de artista plástica e em terceiro outro emprego. E eu não poderia ficar com as três, então optei por cuidar bem do meu filho e seguir na carreira de artista plástica. Aproveitei a licença de gestante para montar meu atelier particular e começar a trabalhar dedicada às artes. Em 1986, fiz minha primeira exposição individual na galeria da Bento Gonçalves. Em 2006, fez vinte anos desde a primeira exposição.
Mas parece que a data mais importante é 1974?
Sim, a data mais importante na minha carreira foi em 1974, quando participei de um concurso de arte para a gurizada e fomos premiados com materiais para pintar quadros e fazer trabalhos. Acho que os prêmios sempre devem ser em materiais para se produzir mais obras. Se eu tivesse ganho uma bicicleta, com certeza teria vendido para ajudar no sustento, assim como a maioria dos jovens com condições financeiras menos favorecidas.
Meu amigo Carlão também ganhou materiais como premiação e para ele foi essencial, pois não teria a menor condição de comprá-los e hoje é um artista plástico famoso. O Carlão até hoje é muito grato ao Marciano que teve a idéia de premiar com os materiais para pintura. Para quem gosta de escrever, por exemplo, nada melhor do que ganhar um computador para poder fazê-lo.
Sempre digo para meu filho que ele foi um anjo da guarda, pois estava muito cômodo trabalhar e nas folgas fazer minhas obras.
Houve muitas mudanças a partir de 1989 em sua vida, por causa do nascimento de seu filho. Como foi isso pra você?
Eu sempre digo para meu filho que ele foi um anjo da guarda, pois estava muito cômodo trabalhar e nas folgas fazer minhas obras. Com a chegada dele, tive que optar e me dediquei muito mais às artes plásticas. Jamais vou me arrepender da escolha que fiz. Nos meses de gravidez, eu produzi muita coisa e até mesmo depois que ele nasceu não foi muito difícil produzir. Ele era um bebê muito querido e parceiro, colocava ele no carrinho do meu lado e ficava desenhando, ele sempre muito calmo e querido.
E a prática de desenhista?
Desde 1990, faço os desenhos da Popinha (suplemento infantil do Jornal NH) e até hoje adoro fazê-los. Já encontramos a gurizada concentrada fazendo a Popinha e isso é muito gratificante. Também já ouve um caso de que uma criança estava chorando e eu perguntei para a mãe o que havia acontecido e ela disse que a irmã tinha pegado a Popinha. Então eu fiz um desenho exclusivo da Popinha para esta criança. É impossível esquecer a alegria dela.