Especialistas em geriatria, neuropsicologia e cuidados com idosos se reúnem no programa Estação Hamburgo para discutir o etarismo, a importância da autonomia na terceira idade e os caminhos para um envelhecimento mais saudável e participativo.
A população brasileira está envelhecendo, e com ela crescem os desafios sociais, políticos e emocionais relacionados à terceira idade. Em Novo Hamburgo, essa realidade ganhou voz no programa Estação Hamburgo, transmitido pela Vale TV no dia 17 de julho, ao trazer à pauta o etarismo e o papel da sociedade na promoção de um envelhecimento digno e respeitoso.
O debate contou com a participação de nomes atuantes na região: a neuropsicóloga Daniela Henkel, presidente da Associação Brasileira de Alzheimer (ABRAz) em Novo Hamburgo; o geriatra Dr. Jelson Cardoso Júnior; e Vanessa Uggeri, diretora do Árvore da Vida Sênior Residencial, localizado na Vila Rosa. Sob a mediação de Rodrigo Steffen e da apresentadora Jacqueline Saraiva, os convidados abordaram com profundidade os impactos do preconceito etário e a importância da autonomia como alicerce da saúde e autoestima dos idosos.
Etarismo: um preconceito silencioso
“O etarismo é mais comum do que se imagina. Ele pode surgir no mercado de trabalho, na vida familiar e até na própria forma como o idoso se enxerga”, afirmou Jacqueline. Daniela Henkel complementou explicando que a discriminação por idade pode levar a quadros de depressão, ansiedade, isolamento social e declínio cognitivo. “Perder a autonomia é, muitas vezes, o início do fim para muitos idosos. Por isso, precisamos garantir que eles se sintam úteis, incluídos e respeitados”, destacou.
Autonomia e participação ativa
A experiência vivida no Árvore da Vida, residencial voltado para o público 60+, demonstra o quanto a preservação da independência faz a diferença na qualidade de vida. Vanessa Uggeri relatou que muitos moradores ainda mantêm atividades profissionais, fazem passeios, aprendem novos hobbies e gerenciam suas próprias rotinas. “Temos idosas que cuidam das próprias contas, participam de aulas de música e até lavam seus calçados, porque querem manter sua autonomia. E isso é fundamental”, disse.
Envelhecimento é planejamento
Segundo o Dr. Jelson Cardoso, a busca por um envelhecimento saudável começa ainda na juventude. “A forma como levamos a vida impacta diretamente o envelhecimento. Alimentação, sono, atividade física, saúde mental e socialização são pilares para envelhecer bem”, alertou. Ele ressaltou que, apesar dos avanços científicos, ainda não há fórmula mágica contra as demências — por isso, a prevenção é a melhor aliada.
Daniela destacou os fatores de risco já identificados pela ciência, como perda auditiva, tabagismo, sedentarismo e isolamento. “Cuidar do corpo e da mente é como alimentar um cofrinho. O que você faz hoje repercute no seu futuro”, explicou. A neuropsicóloga também falou sobre os trabalhos da ABRAz, como os encontros mensais com famílias de pacientes com Alzheimer, realizados no NAP (Núcleo de Atendimento Psicológico).
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O futuro pede outra cultura
O programa também abordou a mudança no perfil familiar e o aumento da demanda por residenciais de longa permanência, como o Árvore da Vida. Com famílias menores e maior longevidade, cresce o número de idosos que preferem viver em espaços coletivos com assistência profissional. Vanessa relatou que tem recebido visitas de pessoas de 60 anos que já planejam, para daqui a cinco ou dez anos, morar em residenciais como o dela. “Essa consciência é recente e importante. Morar em um espaço acolhedor, com atividades, cuidado e liberdade, pode ser a melhor escolha”, disse.
Dr. Jelson reforçou que o envelhecimento populacional é uma realidade que exige políticas públicas urgentes. “Ainda não estamos preparados para esse futuro, que já começou. Precisamos de legislação, programas de apoio e, principalmente, de uma mudança cultural que valorize a velhice”, afirmou.
Valorização que transforma
Durante a conversa, o exemplo do programa SAS, desenvolvido pela Câmara Brasil-Alemanha, foi citado como modelo a ser seguido. Ele permite que empresas brasileiras recebam, sem custo, profissionais aposentados da Alemanha para atuar em projetos e repassar sua experiência — valorizando o saber acumulado de quem já passou por décadas de vida profissional.
A música, a arte, o ensino de novos idiomas e a participação comunitária também foram destacados como formas de manter o cérebro ativo e fortalecer laços sociais. “A música transforma. A socialização também. A velhice não precisa ser isolamento. Precisa ser vida, com autonomia e trocas significativas”, resumiu Daniela.
Ao final, uma mensagem se destacou entre os convidados: a juventude é provisória, mas a velhice é certa. Preparar-se para ela é mais do que uma questão pessoal — é um desafio coletivo que envolve todas as gerações.
Assista ao programa completo no YouTube:
Debate realizado no dia 17 de julho de 2025 no programa Estação Hamburgo, apresentado por Rodrigo Steffen.

