Intenção é entregar carta para a Universidade Federal do Rio Grande do Sul e para a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, que utilizam o exame na seleção.
Mônica Neis Fetzner [email protected] (Siga no Twitter)
A indignação de estudantes de Porto Alegre e Região Metropolitana com as falhas do Exame Nacional do Ensino Médio – Enem 2010 deixará o mundo virtual para se materializar em protesto nesta sexta-feira, dia 12.
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Conforme o professor Carlos Luzardo, do Pré-Vestibular Mottola, da Capital, a manifestação foi inspirada em um e-mail do estudante Mateus Rios, de 19 anos, um dos muitos que recebeu de seus alunos reclamando da desorganização refletida nas provas. “O que mais me espanta é que esse sentimento de raiva e revolta não contribui em nada para que algo venha a ser mudado”, escreve o aspirante ao curso de Medicina, na mensagem encaminhada por Luzardo. Rios pretendia usar o Enem 2010 para tentar vaga na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre – UFCSPA e na Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS.
Diante das incertezas, a estudante Clarissa Cé, 16, aluna do Colégio Marista Rosário, decidiu divulgar, através da Internet, a iniciativa de reunir quem se sente injustiçado no exame. “Conversei com vários conhecidos sobre o Enem e a falta de organização que ocorreu durante o processo e que isso era falta de consideração com os estudantes. Percebi que todos tinham algo em comum: vontade de fazer alguma coisa”.
Clarissa acredita que a movimentação – cuja comunidade no site de relacionametos Orkut já conta com mais de mil membros – deve mostrar à sociedade e aos órgãos públicos que os jovens ainda têm consciência crítica. “O objetivo do manifesto é protestar sobre o descaso com que o Enem está sendo tratado, a falta de organização e de consideração com os alunos, que confiam na prova a partir do momento em que se submetem a fazê-la.”
CARTA – A passeata sai do Auditório Araújo Viana, às 13h30min, e segue à UFRGS e à UFCSPA, que utilizam o resultado do Enem como parte da nota do vestibular – situação da UFRGS – ou como única forma de seleção – UFCSPA. Os estudantes entregarão às instituições cópias de uma carta elaborada por Guilherme Lanning, 25, que expressa “um manifesto exaltando os valores democráticos, igualitários, éticos e preservando esse instrumento de isonomia que é o concurso ora em pauta”.
“Não sou contra a prova do Enem em si, seu objetivo de democratização do ensino superior é nobre e válido”, salienta Mateus Rios. O estudante defende, porém, a reformulação do exame. “Acredito que concomitantemente à sua aplicação deveriam existir políticas para melhorar o ensino básico brasileiro. Sem isso o Enem não passa de uma medida ‘tapa-buracos’ com o intuito de ‘inserir’ estudantes, mesmo que despreparados, nas universidades.”
O destino final dos estudantes, que são esperados usando camisetas pretas, nariz de palhaço e carregando cartazes, é a Esquina Democrática, no cruzamento da Rua dos Andradas com a Avenida Borges de Medeiros. De lá, está programada uma segunda saída, às 17 horas.
Hamburguenses querem igualdade
O hamburguense Henrique Castro, 18, que freqüenta o Pré-Vestibular Mottola, é um dos estudantes que estará na manifestação. Ele pretendia usar o resultado do Enem como a “décima nota” no vestibular para Medicina da UFRGS, o que equivale a 20% do valor total. Porém, não acredita que o aproveitamento das provas, da forma como foram feitas, seja justa. “Todos serão prejudicados, de uma forma ou de outra. O ideal seria que o exame fosse reaplicado para todos.”
Felipe Fernandes Lorenzoni, 18, aluno do Pré-Vestibular PVSinos, de Novo Hamburgo, e vestibulando do curso de Engenharia de Energia da UFRGS, compartilha da mesma opinião. “Pela quantidade de erros das provas e pela gravidade, o exame deveria ser anulado”, avalia. “Embora não seja possível que eu participe da manifestação, por ser em Porto Alegre, apóio o movimento e espero que a UFRGS não utilize tão cedo o Enem como método de seleção.”
Qualidade de seleção
Formado em Letras pela UFRGS e professor de Henrique Castro, Carlos Luzardo trabalha diariamente com estudantes que buscam, muitas vezes, uma vaga na universidade em que conquistou sua graduação. Acredita que a mudança de formato do Enem, no ano passado, foi muito brusca, sem a necessária discussão.
“Há também uma grande pressão orçamentária, que influencia a decisão das instituições. Acredito que a iniciativa da passeata deverá pesar para a UFRGS e a Fundação, se primarem pela qualidade de seleção. Um descontentamento tão evidente deve ser levado em conta”.
FOTO: ilustrativa / retratosdecatu