
Atualmente as questões ambientais são temas que estão na ordem do dia no planeta, os quais tem motivado a realização de importantes debates em vários países, envolvendo a participação de cientistas e da sociedade civil. Entretanto, não são preocupações novas, pois o tema da água, por exemplo, inquieta a humanidade.
No Brasil, mais precisamente no Rio Grande do Sul, na cidade de São Leopoldo, apareceu a figura de Henrique Luiz Roessler, que tornou-se o pioneiro no País a tratar das questões ambientais, fazendo-a a partir da observação dos rios e banhados do RS.
Desde que iniciou a sua atuação na defesa do meio ambiente, em 1937, até a sua morte, em 1963, Henrique Luiz Roessler dedicou esses 26 anos de engajamento na luta pela causa dos rios, de modo especial, pelo Rio dos Sinos e de seus ecossistemas.
Roessler sempre manifestou preocupação com o assoreamento do rio, provocado pela retirada da vegetação em suas margens, além de alertar as autoridades para a não ocupação urbana das áreas dos banhados do Rio dos Sinos. Infelizmente, esse aviso não foi observado pelos prefeitos, pois o uso dessas áreas úmidas trouxe a diminuição da área de inundação natural do rio, que resultaram na amplificação das enchentes.
Enchentes = Aquecimento Global + Ocupação Urbana
O Aquecimento Global, que muitas pessoas negam, existe, e os seus efeitos são terríveis. Nos dias atuais ele resolveu fazer uma união com o fenômeno El Niño, cuja junção trouxe a potencialização de eventos climáticos extremos, especialmente no extremo-sul do Brasil.
No caso do Rio Grande do Sul, num período de nove meses aconteceram três grandes enchentes, sendo a enchente de maio de 2024 a maior da história, que devastou centenas de cidades localizadas às margens dos rios Jacuí, Taquari, Antas, Caí e Sinos, as quais estavam despreparadas para enfrentar os efeitos da tempestade. Aliás, um despreparo planejado.
Para piorar a situação, em nome do progresso, ao longo dos anos, os gestores públicos, principalmente dos municípios, simplesmente resolveram ignorar as leis de preservação do meio ambiente e, também, os avisos dos ambientalistas sobre os efeitos do aquecimento global sobre as cidades e suas populações.
Esse despreparo planejado é agravado quando o planejamento urbano da cidade permite o uso de áreas de preservação permanente, tanto junto aos mananciais, quanto nas encostas e topos de morros. Ou seja, essa negligência resultou na oficialização das áreas de risco. Infelizmente sobram exemplos ao longo das margens do Rio Taquari, mas também com muita força nos rios Caí e Sinos.
Então, é hora de transformar a despreração em planejamento de fato. Em primeiro lugar, o novo planejamento deve levar em consideração a componente socioambiental, inclusive, partindo do princípio de que os rios têm o seu lugar, haja vista, que as cidades ocuparam o seu espaço. Em suma, é preciso ter mais cuidado com casa comum.
Em segundo lugar, e não menos importante, é a mobilização da sociedade em geral para frearmos os retrocessos na legislação ambiental brasileira, por uma questão muito simples: a flexibilização só vai criar ainda mais áreas de risco. Por isso, basta lembrarmos os alertas e também seguirmos o legado deixado por Henrique Luiz Roessler para o Brasil.
*Por Darci Zanini, engenheiro mecânico, especialista em Saneamento Ambiental na Secretaria de Meio Ambiente de São Leopoldo. Foi secretário do Meio de Ambiente da cidade por três gestões. Representante da Associação Nacional dos Órgãos Municipais de Meio Ambiente (Anamma) no Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). Atualmente, é chefe do Departamento de Áreas Protegidas da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semmam) de São Leopoldo.