Em carta pública emitida nesta terça-feira (31), a Liga Feminina de Combate ao Câncer fez duras críticas a saída do tratamento de câncer de Novo Hamburgo. O Hospital Regina deixou de prestar o serviço na última quinta-feira (26), após encerramento do contrato com o Governo do Estado. Agora, os mais de 900 pacientes de Novo Hamburgo estão sendo atendidos no Hospital Bom Jesus, em Taquara.
Leia o manifesto na íntegra.
MANIFESTO
“1 — A Liga FCC é a gênese da oncologia em Novo Hamburgo. Foi quem idealizou e realizou esta conquista para a comunidade. O Hospital Regina foi a casa que recebeu a oncologia e com sua capacidade de gestão a transformou em referência dentro do Estado.
2 — Como hospital privado, faz-se necessário que receba por seu trabalho e não como estava ocorrendo de atender mais pacientes do que recebia. A tempo, não estamos aqui em defesa do hospital, mas sim trazendo fatos reais, do que o levou a ter que gestionar muitos problemas com o Município e o Estado.
3 — A impossibilidade de atender muitos pacientes, por estar recebendo um número muito maior de pacientes do que o contratado, fez com que o Hospital Regina, após inúmeras tentativas infrutíferas de negociação, seguisse atendendo pelo número de pacientes que recebia, não pelos que surgiam, ocasionando uma demanda reprimida, uma fila de espera.
4 — Com certeza, pacientes com suspeita de câncer necessitam de diagnóstico e tratamento o mais rápido possível. Para tanto, o contrato deveria ser revisto.
5 — As tratativas entre o hospital, o Município e o Estado parecem ter gerado um impasse, levando o Município e o Estado a buscar outro hospital para os pacientes de Novo Hamburgo, bem como os das cidades vizinhas que aqui eram atendidos.
6 — Passou a haver uma busca, pelo Município e pelo Estado, de outra instituição para atender os pacientes de Novo Hamburgo e cidades próximas. Os fatos sugerem que assim que o hospital de Taquara, procurado pelo Município e o Estado, se organizou para isso, os pacientes dos outros municípios vizinhos, que são de menor número, foram passados para lá, dificultando o atendimento dos pacientes de nossa cidade. Pois o Hospital Regina contava com um número “X” de pacientes, não os tendo, declinou do
atendimento, caso não fosse de todos os municípios, e caso não houvesse o pagamento atrasado, que implicava em alto valor, bem como o reajuste necessário para atender toda a demanda, ou seja, zerar a fila, pois seus prejuízos vinham se acumulando.
7 — Lastimável que neste tempo a Liga FCC não tenha sido levada em consideração pelo Município, pois é sabido por toda
comunidade do seu trabalho e histórico em relação à oncologia.
8 — Após a movimentação da Liga, a comunidade, os políticos, os gestores públicos passaram a se manifestar das mais diferentes formas. Alguns tentando nos auxiliar a reverter essa decisão, outros tentando provar que ir a Taquara era o melhor para o paciente, que não seria tanto problema desde que todos fossem atendidos. Com certeza, não queremos espera para nossos pacientes diante de doença tão traiçoeira. O que se pretendia era atender a todos em Novo Hamburgo. Alguns políticos e a prefeita buscaram mostrar manifestações de satisfação de muitos pacientes. Concordamos plenamente que possam haver, pois para quem não estava sendo atendido e passar a sê-lo, gera muita satisfação. Mas voltamos ao ponto, isso poderia ser feito aqui em Novo Hamburgo.
9 — Sobre as manifestações dos pacientes, gostaríamos de ressaltar, como dito acima, que parece ter havido o interesse de mostrar apenas os pacientes satisfeitos, alguns deles que necessitavam consulta e não vinham tendo. Nossa luta é por todos os pacientes, mas neste momento é pelos que estão em quimioterapia, às vezes duas ou três vezes por semana e terão que sair de suas casas em torno das 6 horas da manhã, e agora piorainda pelo nosso clima, com frio e chuva, e retornarem, às vezes à tarde, ou na melhor das hipóteses final da manhã, tendo que ir no dia seguinte novamente. Pacientes com baixa imunidade, debilitados, em sofrimento físico e mental, como visto nos vídeos.
Lutamos, até agora, para seguirmos em Novo Hamburgo, também pelos pacientes que necessitam de cirurgia e exames mais complexos, que serão derivados a outras instituições hospitalares, pois Taquara não está capacitada para atendê-los.
10 — Deve ter chamada a atenção da notícia, onde os prefeitos da Associação dos Municípios do Vale do Rio dos Sinos (Amvars) dizem, através de seu presidente, que “só em especialidades como traumatologia, ortopedia, oncologia e oftalmologia, serviços oferecidos pelo Estado em hospitais e clínicas credenciadas, a lista de pacientes aguardando
atendimento chega a 10.168 pessoas. Então, essa demanda represada não existe só na oncologia do Regina e em Novo Hamburgo? Aliás, pegando o número acima de 10.168, podemos dizer que a demanda reprimida aqui na oncologia do Regina era em torno dos 168 pacientes, e os outros 10 mil? A demanda reprimida é um problema crônico em todo o Estado em inúmeras especialidades, mas agora parece que esta bandeira serviu para justificar o rompimento com o Regina e a mudança para Taquara.
11 — A Liga FCC lutou e lutará até o fim, mesmo percebendo o intuito de muitos de silenciá-la, calá-la. Foi através dessa luta que a prefeita Fatima passou a prometer uma oncologia no nosso Hospital Municipal. Não fosse a luta da Liga nesse momento, parece que essa possibilidade não existiria, pois não estava incluída pela Prefeitura nos projetos que serão executados no Hospital Municipal. Passou a ser incluída, esperemos que siga nesta inclusão. Logo, nossa luta já terá um louro, a conquista de uma oncologia 100% SUS em Novo Hamburgo.
12 — Porque durante esses dois anos prometidos pela prefeita para a oncologia retornar ao município, não podemos unir forças entre políticos da região e possivelmente a comunidade, os empresários que sempre se mostraram tão receptivos às necessidades do Município? E, entre todos, buscarmos uma outra saída aqui na nossa cidade. Pois o Regina segue aberto. Por que não a prefeita, juntamente com o Estado, encaminhar ofício ao Ministério da Saúde para juntos e, agora com os políticos da região, buscarmos uma solução? Mudar isso? Por que o paciente é que precisa se adaptar, sofrer, na tentativa de seguir vivendo? Esse é, ainda, nosso apelo. Taquara está selada como pacto entre a Prefeitura de Novo Hamburgo e o Estado? Por que não se pode pensar outras saídas? Sentimos que todas as portas foram fechadas pela Prefeitura para, de fato, buscar uma solução pelo retorno da oncologia.
13 — Nossa caminhada não foi em vão, mas não atingimos o propósito de minimizar a dor e o sofrimento dos pacientes que serão submetidos a essa situação que poderia ter sido evitada.
Gostaríamos de agradecer a todos que de alguma forma se sensibilizaram por esses pacientes, muitos em fase terminal e que mesmo assim terão que ser transportados até Taquara para seu tratamento. Gostaríamos ainda de dizer que todos os pacientes de Novo Hamburgo poderão, como sempre, contar com a Liga e todo o acolhimento e prestação de serviços que ela tem feito nestes 38 anos aos pacientes carentes do SUS.”
Regina Dau
Presidente da LFCC