“Cuidamos na Casa Comum ou todos poderemos ser ameaçados de não ter mais futuro”, essa foi uma das falas do Teólogo durante a palestra.
A cerimônia de abertura do 1º Seminário Internacional de Mudanças Climáticas e I Encontro Regional Sul do ICLEI foi realizada na terça-feira, 5 de julho, no auditório Padre Werner da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Após a fala das autoridades ocorreu a palestra magna do teólogo e filósofo Leonardo Boff. Ele fez um apelo pelo cuidado com a “Mãe Terra”, como forma de garantir a continuidade de existência de vida no Planeta. Vanazzi e Rodrigo Corradi, secretário executivo adjunto do ICLEI América do Sul, fizeram a moderação. Boff chamou a atenção para o esgotamento dos recursos naturais de forma predatória pelo modelo de consumo imposto pelo capitalismo. “Houve a globalização da economia, mas não se globalizou a solidariedade e a cooperação. Isto ficou patente com a pandemia. Cada país se defende por si e como pode. No atual momento em que a vida humana corre risco e o próprio planeta pode perder sua capacidade de produzir vida, e que a vida pode ser totalmente destruída pela falta de cuidado do ser humano em sua relação para com a natureza e ao futuro comum, o cuidado ganha relevância imprescindível: ou cuidamos na Casa Comum ou todos poderemos ser ameaçados de não ter mais futuro”, apontou.
Para ele vivemos uma emergência planetária e só o cuidado com o Planeta pode salvar a humanidade de grandes catástrofes. “Ou cuidamos da herança sagrada que herdamos do universo ou de Deus, a Terra viva e a biodiversidade da natureza ou engrossaremos o cortejo do dizer de Zygmunt Bauman, daqueles que rumam na direção se sua própria sepultura. Sem esquecer as futuras gerações que também têm o direito de uma Terra habitável junto com uma natureza revitalizada”, frisou.
Por fim, o teólogo disse acreditar em um final feliz depois de tanta tensão. “Sou otimista. A lógica do universo se constrói sempre entre o caos e a ordem. E a ordem prevalece. Deus criou todas as coisas com amor. Não creio que Ele nos deixará perecer de forma tão miserável. A vida chama a vida. E viver é realizar a alegre celebração da vida”, ressaltou.
O prefeito Vanazzi falou sobre a importância de políticas públicas para enfrentar os desafios que as alterações climáticas estão colocando para a sociedade global. “Ao mesmo tempo que projetamos ações locais que mitiguem nossos impactos, entendemos que a discussão precisa transcender nossos limites, por isso, estabelecemos em São Leopoldo uma ampla discussão com os demais municípios do Brasil, através da Associação Brasileira dos Municípios (ABM), no sentido de encontrar alternativas de mitigação, adaptação e resiliência frente aos efeitos das mudanças climáticas inclusive sensibilizando as demais esferas da administração pública e organismos internacionais”, apontou.
Para o secretário Municipal do Meio Ambiente de São Leopoldo, Anderson Etter, o evento permite uma reflexão sobre a necessidade de respeito ao planeta, considerando a forma de consumo predatório. Ele também destacou as importantes ações realizadas pelo município. “A cidade de São Leopoldo tem credibilidade para tratar deste tema, pois muitas ações já foram realizadas, como a criação, há mais de 15 anos, da Unidade de Conservação (UC) do Parque Imperatriz, assim como as outras quatros UC’s existentes no município. Também temos o percentual de 22% de área territorial do município preservada, através de seu Plano Diretor, a preservação e monitoramento dos 10 arroios e suas matas ciliares e das 305 nascentes cadastradas. Cabe salientar ainda, a construção de 10 mil moradias populares que asseguram infraestrutura às pessoas de maior vulnerabilidade socioeconômica, em lugares seguros. E, ainda destaco o fato de nossa cidade ter o maior índice de tratamento de esgoto doméstico, dentre os 30 municípios da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos”, apontou.
Leonardo Boff
É doutor em filosofia e teologia pela Universidade de Munique, nascido em 1938. Foi um dos formuladores da Teologia da Libertação. Durante muitos anos, foi professor de teologia em Petrópolis e, posteriormente, professor de ética, filosofia da religião e ecologia na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Foi professor visitante em Lisboa, Salamanca, Harvard, Basel e Heidelberg. Doutor honoris causa em política pela Universidade de Turim e em teologia pela Universidade de Lund na Suécia. Recebeu vários prêmios por sua atuação em prol dos direitos humanos a partir dos empobrecidos e da formação de uma consciência ecológica, incluindo a ética e a espiritualidade, entre eles, o Prêmio Nobel alternativo da Paz de 2001 em Estocolmo. É autor de mais de 70 livros, a maioria traduzidos nas várias línguas modernas.
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