As principais causas que deram origem a Arrancada Farrapa:
- O poder centralizado na Corte no Rio de Janeiro;
- A cobrança abusiva de impostos, em especial o produto de origem animal: o charque, o couro, a crina, o chifre e o casco;
- A falta de assistência econômica;
- A cobrança de pedágio nos passos reais;
- A falta de atendimento à saúde;
- A falta segurança;
- A falta de escolas e de manutenção dos bens públicos;
- O abuso das autoridades constituídas;
- A corrupção e o desmando pela corriola do Império.
A Revolução Farroupilha surgiu de um movimento contra o Governo Imperial, a partir da Independência do Brasil, em 22 setembro de 1822. O Imperador Dom Pedro II resolveu integrar as províncias ao Continente Brasileiro, sem que para tanto adequasse às necessidades econômicas, políticas e sociais da população.
A morte de gaúchos defendendo as fronteiras do Brasil, durante as escaramuças “con los Hermanos”, e, principalmente a Guerra das Províncias Reunidas, que arrasou o povo gaúcho, deixando prejuízos econômicos resultantes desses eventos culminaram com marcas profundas na sociedade gaúcha, além do descaso do Presidente da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, e mais, o agravo ao Coronel Bento Gonçalves, como traidor do Império.
O dissídio foi acentuado pela formação das duas correntes: à época, os Legalistas ou Caramurus e os Farroupilhas, foi então o que dividiu a vida do Rio Grande do Sul, determinando o movimento de 1835. Conhecido por várias denominações: República de Piratini, ou “Estado Rio-Grandense”. E, por fim, parafraseando o inimigo, adotaram o nome de Farroupilhas.
Apenas em abril 1835 foi eleita a Primeira Assembleia Legislativa da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul. Em 20 de setembro de 1835 eclodiu a arrancada farroupilha, e neste mesmo dia, Antônio Fernandes Braga fugiu com os seus asseclas para Rio Grande e dali para o Rio de Janeiro. Bento Gonçalves toma Porto Alegre e faz o célebre pronunciamento dizendo:
“O amor a ordem e a liberdade à que me consagrei desde a minha infância, me arrancaram do gozo do prazer da vida privada, para correr convosco a salvação da nossa querida pátria.”
Durante dez anos (1835-1845) os gaúchos resistiram, sendo que, a 11 de novembro de 1836, à margem rio Jaguarão Chico, no Campo dos Menezes, Antônio de Souza Neto, Coronel Comandante da 1ª Brigada, proclamou a Independência da República Rio-grandense, criado um Estado livre com fórum de direito e de ação. Empolgado com o evento gritou alto e em bom som:
- Viva a República Rio-grandense!
- Viva a Independência!
- Viva o Exercício Republicano Rio-grandense!
No dia seguinte à proclamação, lavrou-se a primeira ata: “Aos 12 dias do mês de setembro de 1836, no acampamento volante Seival na costa do rio Jaguarão Chico, Campo dos Menezes. Achando-se a Brigada em grande parada, estando presente o coronel comandante da mesma Antônio de Souza Neto, e oficiais inferiores, que subscrevem, por unânime vontade destes e da dita tropa, foi declarado, que a Província de São Pedro do Rio Grande doravante se constituía em Nação Livre e Independente, com o título de República Rio-grandense, não só por ter todas as faculdades para representar entre as demais Nações Livres do Universo, como também obrigada pela prepotência do Rio de Janeiro, que por tantas vezes tem destruído seus filhos ora deprimindo a sua honra, por todos os motivos, que se declararão na próxima Assembleia Constituinte Legislativa, protesta ante o ser Supremo do Universo, não embainhar suas espadas e derramar todo o seu sangue, antes que retroceder de seus princípios políticos proclamados na presente declaração”.
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Bento Gonçalves, traído por Bento Manoel Ribeiro, fora preso, em 03 de outubro de 1836, Ilha do Fanfa, rio Jacuí, junto com Pedro José de Almeida “o Boticário”, “o médico da tropa”, levados para Porto Alegre e dali para o Rio de Janeiro.
“Durante uma tentativa de fuga, o Boticário por ser de grande porte físico e obeso, não conseguiu passar pela abertura entre as grades da prisão, Bento, voltou, chamou o guarda e avisou da frustrada façanha”.
Daí e por isso, foi levado para o Forte São Marcelo na Bahia, de onde fugiu com ajuda de Maçons, no dia 10 de novembro de 1837, para assumir a Presidência da República Rio-Grandense em Piratini, primeira Capital Farroupilha.
Destaco aqui, alguns elementos importantes da República Farroupilha:
- A Bandeira Farroupilha: foi projetada e desenhada por Bernardo Pires e o Dr. Mariano de Matos.
- O Escudo das Armas: foi projetado e desenhado por Bernardo Pires, Tito Lívio Zambecari e Dr. Mariano de Matos.
- O Hino Farroupilha:
- Autor: Francisco Pinto da Fontoura “Chiquinho da Vovó”.
- Melodia: Joaquim José Mendanha.
- Harmonização: Antônio Corte Real.
- Manifesto de Bento Gonçalves: Porto Alegre, 20 de Setembro de 1835
- Manifesto Farrapo assinado por Bento Gonçalves: Piratini, 29 de Agosto de 1838. República Rio-Grandense Bento Gonçalves, Presidente, Domingos José de Almeida, Ministro e Secretário do Interior.
- A Constituição da República Rio-Grandense: Projeto apresentado em 08 de fevereiro de 1843 em Alegrete 3ª, Capital Farroupilha, reconhecido no armistício de 1845. Possui 241 artigos mais parágrafos e alíneas, que podem ser aplicados ainda hoje, garantindo os direitos e deveres do povo com esmero e respeito a autoridade constituída.
- As capitais: 1ª Capital, Piratini, 1836 – 2ª Capital, Caçapava, 1839 – 3ª Capital, Alegrete – 1843 a 1845.
Arrancada Farrapa:
Depois de seis atropelos,
“con los vicinos pampianos”,
rechaçamos “los Hermanos,”
sem apoio e nem sinuelo.
Diante do desmazelo
da autoridade Imperial,
surge o brado nacional
da República Rio-Grandense:
esta terra nos pertence,
por ela, a vida final.Dezenove de setembro,
Azenha, de “Trinta e Cinco”;
a história mostra o afinco,
da Arrancada que relembro.
Por ser gaúcho sou membro,
desse pelotão guerreiro.
Como é lindo ser herdeiro,
da grande revolução
e dos feitos da nação,
contra o jugo brasileiro.Duzentos cavalarianos,
ali na Ponte da Azenha
e o grito “deixa que venha”;
de Gomes Jardim, vaqueano,
mostrou “garrão e tutano”
do gaúcho destemido.
Os Caramurus, vencidos,
que vieram para enfrentá-los
sob pata de cavalos,
voltaram mal sucedidos.Dali por diante, um passo,
pro centro de Porto Alegre;
o governo fora entregue,
assim no primeiro ameaço.
Já de dono do espaço,
Bento Gonçalves chegou
e “de pronto” se apossou
da Província de São Pedro
e o Caramuru com medo,
até os seus abandonou.À guarda do Cabo Rocha,
entra então Gomes Jardim,
e Onofre Pires por fim,
co’as tropas, entra e arrocha.
Caramuru, que se afrouxa,
defende o couro num fiapo;
disfarça, se faz de guapo,
desses de faca na bota,
invés de correr pra grota,
“de pronto” virou Farrapo.Mas, quem peleia duvida
até da sombra do outro.
Todo gaúcho é um “potro”,
que preza muito essa vida;
mas não refuga saída,
nem que tenha que pelear
e o bom, é poder contar,
depois que aprontar a lida.
Não se fala nas perdidas,
deixa pro outro falar.O tempo assim foi passando,
como sorriso de louco;
avançando pouco a pouco,
e de quando em vez peleando.
“despacito” foi chegando
à velha Piratini.
Era o Rio Grande guri,
dando oh! de casa na frente,
em nome de sua gente,
querendo ficar ali.Logo depois foi Rio Pardo,
a Vila recém criada;
formação duma “parada”,
para o alívio do fardo.
A sorte encontrou o bardo:
o Chiquinho da Vovó,
que desatou esse nó,
com o Maestro Mendanha;
nosso Hino da campanha,
ainda preso no gogó.Junto ao Hino, nossa Bandeira,
desfraldou em Piratini
e ainda desflarda aqui,
sempre linda e altaneira.
Marco da gesta guerreira,
Bernardo Pires, o retrato,
à mão Mariano de Matos;
levemente retocado
logo em seguida elevado
aos feitos, perante os fatos.O Brasão das Armas Farrapas
mostra muito simbolismo;
entre os quais, o patriotismo,
sai aos olhos, quando escapa.
Mas, uma pequena etapa,
aparece “Entre Colunas”,
vem duma antiga tribuna,
parlatório da humanidade,
que fala da Liberdade,
a nossa maior fortuna.Tito Lívio Zambecari,
Rossetti o divulgador;
Mariano de Matos, doutor,
Bernardo Pires, que ampare,
antes que o tempo compare,
esses feitos farroupilhas.
Hoje as nossas coxilhas,
o arado já destruiu
e o que sobrou resistiu
no coração das famílias.Bendito sejam os heróis,
que lutaram pela pampa;
plasmaram na sua estampa,
luz de novos arrebóis,
vencendo o calor de sois,
requeimando a pele nua.
Do Guarani ao Charrua,
do negro ao mameluco,
d’adaga, lança e trabuco,
era um Farrapo na rua.Mas a guerra é uma coivara,
que queima incessantemente;
se acalma, mas de repente,
acorda em chama e dispara;
nem com água se repara,
o prejuízo do estrago.
Só ao pensar, já divago
Arroio Grande assistindo
Silva Tavares fugindo,
como inimigo do pago.A refrega continua,
entre ganhas e perdidas,
as ideias mal paridas,
são sempre em noites sem lua.
Não vê que sentindo a pua
e querendo mandar no grito
Antônio Ferreira Brito,
ameaçou Bento Manuel,
aquele, por infiel,
suplica perdão aflito.Pra demonstrar lealdade,
aos antigos companheiros;
se fez de “sorro caseiro”
e preparou com acuidade,
o trajeto que a autoridade
ia enfrentar pela frente.
Entretanto, diferente,
de quem chorando sorri,
no Passo do Itapevi,
aprisionou o Presidente.Diante do sério revés,
para os Imperialistas,
o Bento Manuel conquista,
novamente “quase um dez”.
Avisado, mantém os pés,
no tronco, perto da ilhapa;
por que na visão Farrapa,
traição é tição queimando,
entre o borralho esperando,
acordar, se alguém destapa.
República Rio-grandense
A República proclamada,
foi eleito o Presidente,
com o voto dos presentes,
em nome da gauchada.
Tinha mais uma “parada”,
que o tempo resolveria.
Bento preso na Bahia,
assume Gomes Jardim;
o nosso eterno clarim,
guardião da Pátria, em vigia.Piratini Capital
da Pátria, recém criada;
primeira Lei assinada:
trata o povo por igual.
Ninguém é tão especial,
pra se julgar diferente.
Do covarde ao mais valente,
não importa cor, ou raça
e cada Credo, uma graça,
que Deus entrega pra gente.Seguimos as leis do Império,
só no que for compatível;
faremos o impossível,
pra governar limpo e sério.
Nossa fama de gaudério,
termina na Constituinte.
Uma Eleição com requinte,
ao sistema gauchesco,
sem conchavo, ou compadresco,
que “aos demais”, será um acinte.Souza Neto, Comandante
das Forças Republicanas;
fecha o cerco à caravana
dum Caramuru importante:
o Presidente e mandante
da Província de São Pedro.
Chagas Santos acorda cedo
e repele a intimidação,
mas Triunfo cai na mão
dos Farroupilhas alpedos.Nesse combate violento,
muita gente pereceu;
Gabriel Gomes morreu,
em nome do seu talento;
defendendo o juramento
de militar Legalista.
Neto, general “alpista”,
elogiou o seu contrário;
morre o corpo adversário,
fica a alma pacifista.
Mais adiante foi Laguna,
da Republica Juliana;
que chega e também se irmana:
coragem, força e “borduna”
e como bendita aluna,
mandou Anita, guerreira;
a eterna companheira,
de Giuseppe Garibaldi
conterrâneo de Vivaldi
paladinos de trincheira.
República Juliana
“Juliana”, confederada,
à Republica Rio-Grandense.
O Governo Catarinense
“Barriga-verde”, avançada.
Nova bandeira guardada,
“sete chaves”, um tesouro;
era o sul cantando em coro,
força, honra, galhardia
e na grandeza da porfia,
a liberdade vale ouro.
Este elo “Limpo e Puro”,
não durou por muito tempo.
Exemplo, pra que exemplo,
pro Império, era perjuro.
quem sonhasse com futuro,
amanhecia dormindo.
Enquanto o mito mais lindo,
num piscar de olho sumiu
e o Império fez que não viu,
os Lajeanos “inda” sorrindo.
No final de “Trinta e Nove”,
Laguna fora ocupada
e “de pronto” proclamada
à República, que comove,
para que o mundo comprove,
que o “Barriga-verde” é forte.
O Sul olhava pro Norte,
contra o Império e a força
não há pendor que distorça
a raiva que trás a morte.
Ponche Verde
Ponche Verde, Dom Pedrito,
março de “Quarenta e Cinco”,
o denodo e o afinco
do Farroupilha bendito.
Alcança a Paz, e o conflito,
acabou-se finalmente
e Canabarro eloqüente;
anuncia, voz elevada:
a Guerra está terminada,
parabéns a nossa gente.
Finalmente, um forte abraço,
depois de chegar com calma;
O livro, “arado da alma”,
colhas aberta do laço;
contra o vento no espaço
que o Jornal me concede.
Todo peão que se excede,
não serve pra dar recado.
Aqui um muito obrigado
e o Pajador se despede!!!