Até bem pouco tempo o Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) era considerado um transtorno raro, pois geralmente eram identificadas apenas as suas formas mais graves, enquanto que os sintomas mais leves eram considerados “manias”, “fraquezas” ou “falta de vontade” e a pessoa que assim o desejasse poderia livrar-se delas. Por essa razão, quem vive com TOC ainda costuma achar as próprias idéias e ações “idiotas, bobas ou ridículas”, mas mesmo assim não consegue controlá-las.
A grande maioria desses indivíduos esconde o seu problema das demais pessoas por apresentar uma visão bastante crítica sobre seu comportamento e, conseqüentemente, sentem muita vergonha, o que acaba por impossibilitar que parentes e amigos passam participar da busca adequada de ajuda.
Sabe-se hoje que 4% da população mundial sofre de TOC, ou seja, uma em cada vinte e cinco pessoas apresenta esse transtorno. Mesmo com esse dado alarmante alguns se sentem como se fossem os únicos do planeta a apresentar esse problema. E calam-se.
Para exemplificar podemos pensar assim: algumas preocupações e medos fazem parte do nosso dia-a-dia e aprendemos a conviver com isso tomando certos cuidados. Fechamos as portas ao sair de casa, lavamos as mãos antes das refeições ou depois de usar o banheiro, desligamos o celular antes de uma reunião ou verificamos periodicamente o saldo bancário de nossa conta.
Porém, se esses comportamentos e preocupações começam a ser repetidos inúmeras vezes em um curto espaço de tempo, acompanhados de grande aflição, podem se tornar claramente excessivos, comprometendo a vida pessoal e o desempenho no trabalho. Isso configura o que chamamos de obsessões ou compulsões, sintomas característicos do Transtorno Obsessivo–Compulsivo, o TOC, que é muito mais comum do que se imagina.
O TOC consiste na combinação de obsessões e compulsões. As obsessões são pensamentos ou idéias desagradáveis, de caráter intrusivo e que geralmente são contrários à índole do paciente. Por exemplo, uma pessoa honesta pode vir a ter pensamentos recorrentes de roubo ou traição, e uma pessoa religiosa, pensamentos pecaminosos ou obscenos.
Esses pensamentos não podem ser controlados pelo indivíduo, o qual perde o controle sobre os mesmos e muitas vezes começa a praticar atos repetitivos ou rituais com a finalidade de prevenir ou aliviar a tensão causada pelos mesmos. Tudo isso causa ansiedade e toma uma grande parcela de tempo da vida da pessoa.
Já as compulsões podem ser secundárias às obsessões, pois conhecidas popularmente como “manias”, são as ações ou comportamentos repetitivos que a pessoa com TOC é levada a adotar em resposta a uma obsessão e com a finalidade de reduzir a ansiedade que esta provoca. Assim, as compulsões são gestos, rituais ou ações sempre iguais, repetitivas e incontroláveis. Quando a pessoa pensa em evitá-las sempre acaba cedendo, pois é submetida a uma grande tensão.
No entanto, ao contrário do que muitos pensam, quem sofre com essa doença nunca perde o juízo a respeito do que está acontecendo consigo mesmo e percebe o exagero do que está fazendo, mas não sabe o que fazer para “parar”. Pensam estar enlouquecendo e acabam por tentar esconder seus pensamentos e rituais dos outros.
No transtorno obsessivo-compulsivo, esses dois sintomas citados quase sempre estão juntos, mas em alguns casos um pode ser mais predominante do que o outro. Um paciente pode estar sendo mais obsessivo do que compulsivo ou mais compulsivo do que obsessivo.
A terapia comportamental, associada à farmacologia, é considerada hoje a primeira opção de tratamento para o TOC. Este tratamento sempre envolve aspectos educacionais, abordagens psicológicas e psicofarmacológicas e, na maioria das vezes, essa associação consegue atenuar ou eliminar completamente os sintomas.
Esclarecer as características do transtorno e orientar no sentido da sua desestigmatização podem trazer alívio imediato às pessoas. Nas crianças um dos principais objetivos do tratamento é garantir o seu desenvolvimento adequado e o fortalecimento de sua auto-estima.
Também é importante salientar que uma pessoa nunca “é” a doença que está apresentando, mas sim, “está” com ela, podendo sempre resolvê-la. É imprescindível que as pessoas não pensem: “eu sou assim mesmo”. Devem, isto sim, buscar a ajuda adequada para que possam viver melhor e com mais qualidade de vida.