Edição do programa Estação Hamburgo uniu especialistas em vinho, empreendedores e líderanças comunitárias para discutir sustentabilidade, economia circular e o papel da comunidade na preservação ambiental.
Uma conversa que começou com o aroma do vinho e terminou com o frescor de consciência ambiental. Assim pode ser definida a edição do programa Estação Hamburgo, exibida ao vivo, no dia 6 de outubro de 2025 na Vale TV, sob a condução de Leandro Zambrano.
A bancada recebeu Rafael Moura, sommelier e proprietário da Adega Onze06, Betinho dos Reis, empresário do setor de comércio, e Alessandro Alves, presidente da Cooperativa Univale, para um debate que transitou entre o universo dos vinhos, o empreendedorismo e o impacto da reciclagem na região do Vale do Sinos.
O resultado foi uma conversa saborosa e profunda sobre negócios, sustentabilidade e cidadania, marcada pela reflexão sobre como cada escolha — da taça de vinho ao descarte do lixo — tem o poder de transformar comunidades inteiras.
O vinho como cultura e conhecimento
O sommelier Rafael Moura abriu o debate contando sua trajetória no mundo dos vinhos e explicando como o Brasil, especialmente a Serra Gaúcha, vem conquistando reconhecimento internacional. “O vinho brasileiro vive um momento de ouro. Desde 2020, nossas safras alcançaram patamares de qualidade que surpreendem o mundo”, destacou.
Ele explicou que o crescimento da enologia nacional está ligado à profissionalização do setor, à tecnologia e ao amadurecimento do consumidor. “Hoje o turista que vem ao Brasil quer provar o vinho brasileiro. Isso era impensável há 15 anos”, afirmou.
Durante o bate-papo, Moura também falou sobre o lado técnico da degustação e o desafio de formar o paladar. “Degustar não é beber. Nós avaliamos acidez, estrutura, equilíbrio e retrogosto. O primeiro passo de um profissional é identificar defeitos — só depois buscamos qualidade”, ensinou.
Do vinho de garrafão à excelência da Serra Gaúcha
O empresário Betinho dos Reis compartilhou lembranças afetivas sobre o “vinho de garrafão”, símbolo das antigas tradições familiares. “Era o vinho que a gente tomava em casa, o vinho colonial. Hoje há um preconceito, mas é parte da nossa história”, afirmou.
Moura complementou explicando as diferenças entre os vinhos de mesa, feitos com uvas Isabel e Niágara, e os vinhos finos, elaborados a partir de Cabernet Sauvignon, Pinot Noir e Chardonnay. “O vinho de mesa não é inferior, ele apenas pertence a outra categoria. São uvas de espécies diferentes — e o vinho é, antes de tudo, cultura e identidade regional”, ressaltou.
O sommelier destacou também a importância dos espumantes brasileiros, que vêm conquistando o mercado externo, e alertou sobre o avanço dos vinhos sem álcool, tendência mundial que responde ao comportamento de uma nova geração de consumidores mais conscientes e saudáveis.
“O vinho zero álcool é um novo desafio. Ele preserva aroma e estrutura, mas representa uma mudança de mentalidade. Assim como a Kodak e a Blockbuster não acompanharam o mercado, quem não entender esse movimento vai ficar para trás”, disse Moura.
O copo meio cheio da reciclagem: o exemplo da Univale
A chegada de Alessandro Alves, presidente da Cooperativa Univale, ampliou a pauta da noite. O empreendedor contou sua história de superação — de catador a líder de uma cooperativa que hoje gera 130 empregos diretos, em oito unidades distribuídas por quatro cidades do Vale do Sinos.
“Comecei catando material com uma carrocinha, apenas para sustentar meus filhos. Com o tempo, percebi que podia transformar isso em algo maior — em uma organização, uma causa, uma oportunidade para outras pessoas”, relatou.
Fundada em 2008, a Univale realiza coleta seletiva e reaproveitamento de resíduos em parceria com prefeituras, incluindo Novo Hamburgo. No entanto, Alessandro destacou que apenas 6% de todo o lixo da cidade é reciclado atualmente.
“É muito pouco. Com investimento e consciência da população, poderíamos chegar a 40%. A reciclagem é rentável e tem um impacto ambiental enorme. Mas precisamos da parceria da comunidade e do poder público”, reforçou.
Do lixo ao luxo: a economia circular em prática
Entre as inovações da Univale está o reaproveitamento criativo de materiais. Alessandro mostrou produtos feitos com tecidos, espumas e até garrafas de vidro transformadas em copos artesanais. “Tudo que conseguimos evitar que vá para o aterro já é uma vitória. É economia, é meio ambiente e é dignidade para quem trabalha com isso”, destacou.
O cooperado Bruno, por exemplo, corta garrafas e cria copos que viraram símbolo do projeto. “Não é só vender um produto. É vender um conceito. Mostrar que dá para transformar o lixo em arte, e o descarte em renda”, completou.
O presidente lembrou que o vidro é o material mais problemático e menos valorizado na coleta, embora seja 100% reciclável. “O vidro pode virar outra garrafa infinitas vezes. O problema é o custo da logística. Por isso é tão importante a separação correta nas casas”, explicou.
A importância da consciência doméstica
Durante o programa, a conversa se transformou em uma verdadeira aula prática sobre educação ambiental. Alessandro e Betinho explicaram, de forma didática, como cada morador pode contribuir:
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Três lixeiras em casa: uma para resíduos orgânicos, uma para recicláveis e uma para rejeitos;
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Lavar embalagens como caixas de leite e garrafas PET antes de descartá-las;
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Evitar misturar lixo seco e molhado, o que inviabiliza a reciclagem;
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Pensar na base — educar as novas gerações desde a escola sobre ecologia e cidadania.
“Toda excelência começa por um hábito. E nós, adultos, não fomos educados para isso. Precisamos ensinar as crianças a fazer diferente. A salvação está na base”, resumiu Moura.
Economia, fé e propósito
A conversa também percorreu os desafios de ser empresário no Brasil. Betinho relatou as dificuldades do comércio local e a importância da inovação: “Hoje vendemos 80% das nossas peças pela internet. É o que mantém o negócio vivo.”
Rafael Moura complementou lembrando que o e-commerce também revolucionou o mercado dos vinhos, que cresceu exponencialmente durante a pandemia. “As pessoas começaram a buscar experiências dentro de casa. O vinho virou um elo entre o prazer e o conhecimento.”
Mas o sommelier alertou para o contrabando e falsificação de bebidas, problema crescente no país. “Há vinhos de marca vendidos ilegalmente com rótulos falsos. Isso é crime e põe em risco a saúde das pessoas. Comprar de fontes confiáveis é fundamental.”
Um brinde ao futuro: vinho e sustentabilidade lado a lado
O debate encerrou com uma mensagem de união entre as duas temáticas — o vinho e a reciclagem — como símbolos de cultura, tradição e futuro sustentável. “O vinho representa a transformação da natureza em arte. A reciclagem representa a transformação do desperdício em valor. As duas coisas se unem pela responsabilidade e pelo amor ao que se faz”, resumiu Rodrigo Steffen.
O programa também divulgou o evento “Adega em Movimento – Edição Swan Novo Hamburgo”, que acontecerá no dia 18 de outubro, às 16h, no Hotel Swan. A experiência trará o enólogo Carlos Reynolds, de Portugal, com degustação de vinhos premiados e presença de convidados especiais.
“Será um encontro de cultura e sabor. O vinho, quando bem compreendido, é partilha, é encontro, é conexão”, concluiu Moura.
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Um compromisso coletivo
A noite terminou com aplausos e uma sensação de propósito. Entre taças e garrafas, ficou claro que o debate foi muito além do vinho: foi sobre como o Vale do Sinos pode crescer com consciência, valorizando a produção local e a sustentabilidade.
“Quando a gente separa o lixo, recicla, compra do produtor local e valoriza o trabalho do outro, a cidade inteira ganha. E esse é o verdadeiro brinde à vida”, disse Rodrigo ao encerrar o programa.
Debate realizado no dia 6 de outubro de 2025, no programa Estação Hamburgo, apresentado por Leandro Zambrano, na Vale TV.