Na manhã da segunda-feira, 27, a Polícia Civil desmantelou uma quadrilha que operava um esquema milionário de jogatina no Vale do Sinos, liderada por um casal de Novo Hamburgo. No entanto, diálogos entre membros do grupo apontam para uma prática ainda mais sombria: o pagamento de propina a policiais civis e militares em troca de proteção, evitando assim operações contra casas de bingo e caça-níqueis.
A operação, conduzida pela Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (DRACO) de Viamão, resultou na prisão de sete suspeitos, incluindo o casal líder da organização, capturado em uma residência de alto padrão em frente ao presídio de Novo Hamburgo, no bairro Ouro Branco. Outros suspeitos foram detidos em diferentes locais, incluindo Tramandaí e Pelotas.
A principal linha de investigação concentra-se na lavagem de dinheiro relacionada à exploração de jogos de azar, com o casal movimentando mais de R$ 10 milhões em dinheiro e negócios. O delegado da 3ª DRACO, Guilherme Calderipe, afirma que o objetivo é descapitalizar o grupo criminoso, confiscando bens como automóveis, uma lancha, imóveis e contas bancárias bloqueadas.
No entanto, as investigações também revelam indícios de suborno, com membros da quadrilha discutindo abertamente o pagamento de propina para garantir a proteção policial. O delegado Calderipe destaca que, embora haja elementos que apontem para esse tipo de pagamento, ainda não há informações concretas sobre quem recebe ou solicita esses valores. As evidências serão encaminhadas às corregedorias das instituições envolvidas.
A quadrilha, com grande poder econômico, teria atraído a proteção policial não apenas para evitar operações em casas de jogos, mas também para facilitar outras atividades ilícitas, incluindo o transporte de valores. Este não é o primeiro caso na região do Vale do Sinos que levanta suspeitas de corrupção policial em operações contra bingos e caça-níqueis.
Em um episódio anterior, em março do ano passado, a Corregedoria da Brigada Militar afastou 20 brigadianos de São Leopoldo por suspeitas de envolvimento com a jogatina. Após investigação, dois deles foram presos dentro do quartel, com drogas, celulares sem procedência e uma arma sem identificação. A maioria retornou ao serviço posteriormente.
O casal liderava mais de cem casas de jogos no Estado, atraindo principalmente idosos para ambientes fechados com pouca ventilação. As interceptações telefônicas revelaram a programação das máquinas para extrair mais dinheiro dos apostadores. O foco da investigação é provar a lavagem de dinheiro, uma estratégia eficaz diante das limitações legais para a prisão por contravenção.