A Polícia Civil contabiliza 93 relatos de pessoas que dizem ser vítimas do médico João Couto Neto, 46 anos, de Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, afastado do trabalho por suspeita de imperícia e negligência. Desse total, 22 pessoas morreram após cirurgias feitas por ele. Muitos procedimentos foram seguidos de infecção generalizada, trombose, embolia pulmonar e outros tipos de cenários pós-operatórios, segundo a Polícia Civil. A defesa dele se manifestou hoje (leia mais abaixo).
Perícias anexadas ao inquérito conduzido pelo titular da 1ª Delegacia de Polícia do município, delegado Tarcísio Lobato Kaltbach, apontam casos em que o médico realizava uma cirurgia em um órgão e acabava perfurando outro do corpo, o que causavam os problemas. “Muitos pacientes que sobreviveram ficaram com mutilações, lesões, sequelas ou complicações. Há indícios de crueldade e desumanidade no tratamento pós-cirúrgico do médico para com os pacientes, com descaso total quanto à saúde”, disse a rádio Gaúcha, hoje de manhã.
Couto é especialista em cirurgias de hérnia, vesícula e refluxo. A maioria das operações é feita por videolaparoscopia, sobretudo no Hospital Regina, de Novo Hamburgo. Hoje, ele teve as atividades suspensas pelo CREMERS.
Dentre os casos no inquérito: Um morador de Sapucaia do Sul levou sua esposa para consultar com João Couto Neto, em 2014. Foi detectada a necessidade de realizar uma cirurgia para a retirada de um câncer no estômago, que resultou na extração de cerca de 50% deste órgão. A paciente ficou com abdômen inchado e exames constataram, logo após a cirurgia, que ela tivera o fígado perfurado. Ela teve hemorragia, que gerou posteriormente uma parada cardíaca. A paciente recebeu transfusão de sangue e foi reanimada, mas a falta de oxigenação no cérebro após a parada cardíaca gerou paralisação de funções cerebrais. A paciente, conforme seu marido, ficou em estado vegetativo, e está internada em uma clínica há mais de oito anos. O marido — já aposentado — teve de voltar a trabalhar para custear o tratamento da esposa. As informações também constam em uma reportagem do Grupo de Investigação da RBS, hoje.
CONTRAPONTO
O advogado Brunno Lia Pires ressalta que não há unanimidade nas queixas contra o cirurgião. Ele listou pelo menos cinco pacientes que tecem elogios públicos ao médico. Diz que eles se colocam à disposição para defender Couto na Justiça, porque consideram que ele realizou um bom trabalho. Em nota, Lia Pires acrescentou a ZH: “Em virtude de a defesa do dr. João Couto Neto não ter tido acesso à integralidade dos autos do inquérito, qualquer manifestação nesta hora seria precipitada. Importante frisar que será sim apresentada a versão do médico em momento oportuno, quando todos os documentos necessários tiverem sido aportados à investigação. A defesa tem plena certeza de que os fatos serão, com o tempo, devidamente esclarecidos, comprovando-se a completa correção nos procedimentos adotados pelo médico”.
REPERCUSSÃO NACIONAL
O Jornal Estadão, 2° maior do país, dedicou uma página ao tema na semana passada. O caso repercutiu na Folha de São Paulo, Metrópoles, dentre outros jornais.
No domingo, o jornalista Giovani Grizotti apresenta reportagem exclusiva no Fantástico, da Globo.