Diretora do restaurante em Novo Hamburgo Adriana Lacerda relembra infância no sertão da Paraíba, trajetória de superação e consolidação de um dos negócios mais queridos da gastronomia regional.
A história de Adriana Lacerda, diretora do restaurante Império da China, é daquelas que emocionam. Nascida em Piancó, no sertão da Paraíba, ela viveu uma infância sem energia elétrica, televisão ou água encanada, iluminada apenas por candeeiro e marcada pela luta diária da família para sobreviver da roça. Hoje, estabelecida em Novo Hamburgo, Adriana é referência no setor gastronômico regional, símbolo de coragem, trabalho e superação.
Uma infância no sertão
Adriana Lacerda cresceu no semiárido paraibano, onde a seca era rotina e o acesso à água, uma batalha. “A gente buscava água em reservatórios e, quando secava, cavava cacimbas para não morrer de sede. Era uma guerra para conseguir um pouco de água”, recorda.
Foi apenas em 2000 que a luz elétrica chegou ao sítio onde morava. Até os 22 anos, não tinha celular, TV ou qualquer conforto. Mas, mesmo diante da escassez, nunca faltaram sonhos e a vontade de buscar melhores condições.
A decisão de vir para o Sul
O grande passo aconteceu em 2012, quando se casou e mudou-se para Novo Hamburgo. Curiosamente, no mesmo dia do casamento, 29 de março, também foi inaugurado o Império da China, restaurante fundado em sociedade por familiares.
A adaptação não foi simples. “Cheguei com a mala de 23 quilos e vergonha do meu sotaque. Morei de aluguel com seis primos, sem ter talheres ou pratos. Foi muito difícil, mas sempre contei com a ajuda de pessoas boas que me estenderam a mão”, relembra Adriana.
Determinada, trabalhou em padaria e em restaurante de pastéis até consolidar-se no negócio da família. Hoje, já são mais de dez anos dedicados ao Império da China.
Gastronomia como negócio e identidade
O restaurante, especializado em culinária chinesa adaptada ao paladar brasileiro, conquistou espaço e fidelizou clientes. O carro-chefe é o yakisoba, comparado por muitos ao papel da pizza em São Paulo ou do xis no Rio Grande do Sul.
Além de Novo Hamburgo, o Império da China expandiu a área de atendimento para cidades vizinhas como São Leopoldo, Campo Bom, Estância Velha e Ivoti, com serviço de tele-entrega próprio. “Investimos em motoboys extras para garantir que o pedido chegue quente e rápido, mesmo de longe”, explica.
O reconhecimento também veio por meio de premiações: em 2024, o restaurante recebeu do iFood o título de Melhor Restaurante da Região de Novo Hamburgo, distinção concedida a apenas duas casas na área.
Tradição, sabor e inovação
Com um cardápio variado, o Império da China vai além do yakisoba. Entradas como rolinho primavera, guioza e frango empanado dividem espaço com pratos como frango xadrez, arroz yakimeshi e até versões mais ousadas, como o yakisoba tailandês apimentado com macarrão de arroz.
As sobremesas também têm destaque, especialmente a banana caramelada e o creme de avelã com banana, campeã de vendas. “Tudo é feito à mão, com muito carinho e dedicação. É isso que faz a diferença”, afirma Adriana Lacerda.
Trabalho em família e superação da pandemia
O restaurante é fruto do esforço conjunto de familiares nordestinos que migraram para o Sul em busca de oportunidades. “Se a gente trabalha duro para os outros, por que não trabalhar para nós mesmos? Claro que há desafios, mas a união da família é nossa força”, ressalta.
Antes da pandemia, o Império da China chegou a operar três casas e ter 14 funcionários. O período difícil levou ao fechamento de unidades, mas não abalou a determinação. “O importante é que estamos vivos. Caímos, levantamos e seguimos em frente”, afirma Adriana.
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Orgulho de conquistas e gratidão
Hoje, além de estabilidade financeira, Adriana Lacerda celebra a compra do próprio apartamento no Vale do Sinos e o reconhecimento da comunidade. “Saí de Piancó apenas com sonhos e fé. Hoje, cada sorriso de cliente e cada conquista do restaurante é motivo de gratidão”, diz emocionada.
Para o futuro, os planos incluem ampliar novamente as operações e seguir levando a culinária do Império da China a mais lares da região.
Entrevista para o programa Conversa de Peso, com Rodrigo Steffen