Natural do oeste catarinense e atual responsável espiritual do CECREI, em São Leopoldo, jesuíta compartilha suas experiências pelo Brasil e pelo mundo, refletindo sobre fé, missão e espiritualidade nos tempos atuais.
No programa Conversa de Peso, da Vale TV, o Padre João Renato Eidt, jesuíta nascido em Itapiranga (SC), contou sobre sua caminhada religiosa, marcada pela simplicidade do campo, pelo sonho missionário desde a infância e por passagens por Roma, onde foi reitor de uma das mais importantes casas de formação da Companhia de Jesus. Hoje, dedica-se à dimensão espiritual do Centro de Espiritualidade Cristo Rei (CECREI), em São Leopoldo, promovendo retiros, silêncio e escuta como antídotos ao ritmo acelerado da vida moderna.
Uma vocação que nasceu do sonho e da simplicidade
Padre João Renato Eidt cresceu em uma família numerosa, com 14 irmãos, em Itapiranga (SC), município de origem alemã e com forte presença jesuíta. Desde pequeno, a vida era de escassez e trocas no campo, mas foi justamente aí que nasceu a sua vocação. “Aos sete anos, sonhei que seria missionário na África. Nem sabia onde ficava, mas desde então a ideia de ser padre nunca me deixou”, relatou.
Mesmo nunca tendo ido ao continente africano, o contato com jesuítas africanos durante sua passagem por Roma realizou esse desejo de forma simbólica. A escolha pela Companhia de Jesus, segundo ele, foi natural, dado o envolvimento dos jesuítas com a comunidade de sua infância.
O caminho do Padre João Renato Eidt pela Companhia de Jesus
Formado em Filosofia, Teologia e com mestrado em Pastoral Counseling, Padre João foi diretor do CECREI, em São Leopoldo, provincial dos jesuítas no Brasil e reitor da comunidade São Roberto Belarmino, em Roma, uma das mais prestigiadas casas de formação jesuíta, ligada à Universidade Gregoriana.
Sobre ser nomeado provincial, aos 52 anos, disse: “Imagine, um filho do interior catarinense, com responsabilidade sobre escolas, universidades, ações sociais e pastorais do Norte ao Sul do Brasil. Tive medo. Mas percebi que nunca estive só: a graça de Deus e a companhia dos colegas me sustentaram”.
Roma, o Papa e o chamado do coração
Durante sua estadia em Roma, conviveu indiretamente com o Papa Francisco, o primeiro papa jesuíta da história. “Para nós, foi uma surpresa. Na nossa constituição, não se almeja cargos como bispo, muito menos papa”, explicou. Para ele, a liderança de Francisco representa o reflexo da espiritualidade inaciana: comprometida, próxima, marcada pela oração e pela ação entre os mais necessitados.
O contato direto com o Papa foi raro — “cumprimentei-o duas vezes” — mas a proximidade espiritual é intensa. “Ter o Papa tão perto era uma sensação de segurança, um impulso para realizar melhor a missão”, relatou.
De volta ao Vale dos Sinos: espiritualidade como missão
Atualmente, o padre João Renato está em sua quarta passagem por São Leopoldo, onde coordena a dimensão espiritual do CECREI. Com alegria, compartilha que o local é um espaço propício para o silêncio, o recolhimento e a conexão com o essencial. “Mesmo eventos não religiosos, queremos que quem entre na casa sinta o espírito inaciano”, afirma.
No centro, além de eventos corporativos, sociais e culturais, são oferecidos retiros de três, cinco, oito e até trinta dias, além de cursos sobre espiritualidade e acompanhamento espiritual. A proposta, segundo ele, é “estar com as pessoas, não com olhar de condenação, mas de compaixão”.
A espiritualidade em tempos líquidos
Diante de um mundo marcado pela pressa, pelo imediatismo e pela superficialidade, o jesuíta defende que é necessário voltar-se ao coração. “A razão não falta. O que falta é coração. A dimensão humana se perde quando só nos guiamos pelo intelecto”, avalia.
Com mais de 25 anos de sacerdócio, sua escolha recente foi por intensificar o silêncio e a oração. “Busco olhar a sociedade com empatia, não crítica. E oferecer direção espiritual que ajude as pessoas a se encontrarem, a reencontrarem sentido”, conclui.
Legado jesuíta no Vale do Sinos
Durante o programa, foram lembradas as raízes jesuítas em obras como a Unisinos, o próprio CECREI, a Sicredi e diversas ações sociais que moldaram o desenvolvimento do Sul do Brasil. Essa presença se manifesta ainda hoje na educação, na cultura, na espiritualidade e no compromisso social.
“Temos que nos inculturar. Estar onde a vida acontece, com os valores do Evangelho e da espiritualidade inaciana”, ensina o padre João Renato, reafirmando o compromisso da Companhia de Jesus com a humanidade.
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Assista à entrevista completa no YouTube:
Conversa de Peso com Padre João Renato Eidt
Entrevista para o programa Conversa de Peso, com Rodrigo Steffen, na Vale TV.