Série de mudanças no comando da cultura escancaram descontentamento com a gestão da secretaria
A demissão de Frederico Momberger Neto do cargo de secretário municipal de Cultura abre novamente a discussão sobre o futuro cultural de Novo Hamburgo. Nesta polêmica, há quem diga que faltam eventos, que o público não comparece e que o trabalho da administração municipal é falho.
Momberger foi demitido, segundo nota oficial da Prefeitura, “por questões técnicas”. Ao portal novohamburgo.org, alegou que a saída foi definida em conjunto com o prefeito Jair Foscarini, mas não escondeu que faltava uma melhor afinação ente os dois.
O produtor cultural Eduardo Holmes, o Bocão, chegou a ser tido como o pivô da demissão, por ter reclamado publicamente da ineficiência da secretaria em ter uma agenda de eventos culturais na cidade. Segundo Bocão, o problema está na falta de organização.
Momberger, no entanto, disse que se sentiu injustiçado, mas que sua saída teria sido causada por um desgaste que, ao longo da gestão Foscarini, já havia provocado outras mudanças nas diretorias da pasta.
Bocão organizou em janeiro e fevereiro o Festival de Férias no Centro de Cultura, quando trouxe a Novo Hamburgo consagradas atrações do teatro gaúcho. Para julho, ele reservou datas para o Festival de Inverno, mas alega que ainda espera uma resposta da Prefeitura para confirmar as apresentações, uma vez que há a possibilidade de o Teatro Paschoal Carlos Magno estar fechado para reformas.
Entre as apresentações previstas para o Festival de Inverno estão: The Beats (9 de julho), Tholl, Imagem e Sonho (12 a 15 de julho), grupo de jazz Delicatessen (20 de julho), Tarancón – grupo de música latino-americana (21 de julho), Nerson da Capitinga (26 e 27 de julho) e Casadíssima (28 e 29 de julho).
“O último secretário (Frederico Momberger) foi o melhor que tivemos por não atrapalhar nada, o que é um ganho muito grande. Mas acho o cúmulo novamente o Centro de Cultura passar por uma reforma, fechar o teatro de novo, sem saber por quanto tempo”, diz, em referência a 2002, quando o teatro ficou inativo por cerca de um ano e meio.

A diretora municipal de Cultura, Helenise Juchem, que acumula interinamente também o cargo de secretária, em substituição a Frederico, diz que há um vazamento no telhado do teatro, o que exigirá um conserto. Como o telhado é bastante antigo, terá que ser removido, o que pode estender o conserto por algumas semanas. Neste tempo, o teatro ficaria fechado.
“Temos que ver o que comunidade quer. Que tenhamos um teatro em condições ou que fique vazando?”, questiona Helenise, que adianta que a obra ainda não está acertada. Uma nova reunião para definição do conserto deve ocorrer nesta quarta-feira, para acerto de valores e do tempo de fechamento do teatro.
Sobre as reivindicações de Bocão, Helenise explica que o produtor pode continuar solicitando o teatro, mas que estes eventos deverão passar pelo crivo do secretário e do Conselho Municipal de Cultura, para ser analisado o tipo de espetáculo que será trazido à cidade. “Não pude atendê-lo ainda, mas vou explicar que temos que agendar o teatro para todos”, diz.
Sobre sua atuação na secretaria, adianta que pretende agregar projetos pedagógicos-culturais, valorizar o artista local e buscar mais projetos e parcerias, além de dar atenção ao tombamento de prédios históricos do município.
“A cultura não pode ter eventos, deve ter projetos. E a secretaria ainda não buscou nenhum. Também não pode servir só de agendamento para teatro. É importante, mas a cultura deve ter outra visão, um trabalho de descentralização”, afirma, já adiantando que a Orquestra de Sopros deve ter quatro apresentações em bairros de Novo Hamburgo.
Outras reivindicações
Bocão também reivindica que Novo Hamburgo deveria ter um teatro com maior capacidade de público, pois ele leva espetáculos para outras cidades em razão de o teatro do município ter apenas cerca de 500 lugares. Entre os shows, cita o Mágico do Oz, Leonardo, Milton Nascimento e Gilberto Gil.
“Ninguém quer se apresentar em locais improvisados. O Centro de Cultura, tecnicamente falando, tem um auditório e não um teatro. E é mentira dizer que Novo Hamburgo não tem público. O que falta é respeito e programação”, afirma.
O produtor ainda diz que é justa a cobrança de imposto sobre as apresentações, porém não da forma como ela é feita atualmente, quando se paga 2% de Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN) sobre o faturamento bruto do evento, sem que haja uma destinação direta à cultura. Apenas Novo Hamburgo e outras duas cidades do Estado têm esta cobrança.