O cooperativismo no mundo já produz provas dos valores e oportunidades que compõem esta alternativa criada em 1844, quando surgiu na Europa esta fórmula, quase milagrosa, de se resolver necessidades comuns, tanto de ordem econômica como social. Um olhar para os números econômicos do segmento no mundo impressionam, sim, porém se relacionadas ao tamanho e oportunidades que ainda se oferecem, é de fácil diagnóstico o espaço que poderia ser ocupado por uma maior aderência dos humanos para atenuar e até solucionar tantas desigualdades que se apresentam.
Mesmo assim, já é uma importância e força gigantesca que hoje os números evidenciam: as cooperativas movimentam em torno de 2,5 trilhões de dólares por ano, valor superior ao PIB de muitos países do mundo; empregam mais de 250 milhões de trabalhadores; no Brasil, a metade da produção agrícola passa por uma cooperativa; o IDH, índice que mede a qualidade de vida e maior prosperidade, está significativamente acima da média, onde tem uma boa cooperativa. Lugares onde há cooperativas fortes, tem progresso atestável a olho nu.
Todavia, considerando tantos aspectos positivos inerentes ao cooperativismo, o que estaria impedindo uma maior aderência, especialmente, ao acreditar que todos desejamos que haja mais evolução, melhorias e necessidades atendidas de todos, lugares e comunidades melhores? Como humanos é impossível resistir a ausência de felicidade.
No cooperativismo, com seus valores e princípios, além dos números econômicos identificamos vastamente componentes que fazem parte da construção da felicidade. Desta forma, afirmo por tudo que aprendi e vivi, que o cooperativismo também é um caminho de geração de felicidade.
Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel da Economia, afirma que “todos precisamos aprender de cooperativismo para dessa forma podermos remodelar nossa economia, reprogramar a globalização e saber quem nós e nossos filhos somos”.
De fato, conhecer a história da cooperação humana no mundo, estudá-la e ouvir relatos de sucesso e bem estar gerado para os que integraram ou integram este movimento, é muito lindo e emocionante. Porque trata de humanizar. É isto que a cooperação gera: humanização.
Entretanto, experiências bem-sucedidas sempre podem e devem servir de inspiração. Porque é uma forma de educação. Precursores do cooperativismo como iniciador do cooperativismo financeiro no Brasil, o padre jesuíta Theodor Amstad falava insistentemente da necessidade da educação, entendendo que a elevação do nível cultural da comunidade seria a única forma de significar progresso da comunidade. Também dizia que ideias e experiências bem sucedidas deveriam ser trocadas.
Entendo que, aquele que estuda o cooperativismo, que se esforça para entender os verdadeiros valores, os princípios e a força do coletivo, perceberá um pulsar do seu coração de forma diferente. Perceberá que tudo depende de pessoas, de nós e será muito mais fácil, se nos juntarmos. Pois aí podemos formar uma força avassaladora para o bem. Perceberá que prosperidade e bem estar é algo merecido por todo ser humano, que gera um sentimento muito agradável e dando um sentido muito mais verdadeiro para nossa existência terrena.
Neste ano de 2024 comemoramos os 200 anos da imigração alemã, ou germânica no Brasil. E, quando mais buscamos conhecer esta história, logo identificamos o quanto a Cooperação foi importante e em alguns casos decisivos para partir da sobrevivência para o sucesso.
Muitos foram inicialmente abrigados por conterrâneos que tinham chegado antes e assim continuaram cooperando, construindo abrigos, casas, galpões; depois juntos construíram escolas, igrejas, clubes, até chegar ao Cooperativismo formal, pois em 1902 fundaram a primeira Cooperativa financeira do Brasil na Serra Gaúcha.
Essa ideia foi mágica, pois fez circular o dinheiro e oportunizou que milhares de agricultores que estavam estagnados por falta total de dinheiro, pudessem tomar um crédito para adquirir terras, ferramentas de trabalho, sementes, entre outros.
Estava formado o círculo virtuoso: o desenvolvimento local e regional, com mais qualidade de vida e felicidade. Numa análise dos entremeios das ações de cooperação na história e na nossa memória, identificamos o quanto bem aconteceu por essa forma de união para solucionar dificuldades comuns.
Por isso, entendo eu, entre outras pessoas, uma forte ligação do Cooperativismo com Espiritualidade. Pois não foi por menos que Jesus fez grande sucesso ao formar uma cooperativa de 12 apóstolos e dessa forma solidificou e eternizou seu trabalho do bem na terra.
*Por Mário José Konzen
Ex-presidente da Sicredi Pioneira