“A alimentação adequada e saudável está profundamente ligada a um sistema alimentar que é socialmente e ambientalmente sustentável”. A afirmação é do Guia Alimentar para a População Brasileira que, em 2024, completa 10 anos. As recomendações atualizadas nesta edição consideram dois aspectos fundamentais: o contexto sociocultural e a sustentabilidade
O guia visa promover uma alimentação que favoreça a saúde individual, respeite e valorize as tradições locais e o meio ambiente. A coordenadora geral de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde, Kelly Poliany Alves, destaca a longa trajetória na construção do conceito de que uma alimentação adequada e saudável vai além da ingestão de nutrientes. Ela também está relacionada aos aspectos socioculturais, econômicos e ambientais, tanto no âmbito individual quanto coletivo.
“Os guias alimentares são ferramentas essenciais não apenas para orientar as ações de educação alimentar e nutricional, mas também para influenciar outras políticas públicas relacionadas à produção, distribuição, abastecimento, comércio e oferta de alimentos para a população”, destaca. Nesse sentido, o Guia alerta para os alimentos ultraprocessados.
Um fator preponderante destes itens, embora sejam por sua própria natureza não saudáveis, é o avanço na dieta diária do brasileiro devido a fatores como preço baixo; alta disponibilidade; conveniência e sabor. Esses alimentos apresentam impactos negativos na cultura, na vida social e no meio ambiente, afetando, assim, a saúde e o bem-estar das pessoas.

De acordo com o Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), no ano passado, 24% dos homens e 18% das mulheres em Porto Alegre consumiram cinco ou mais tipos de alimentos ultraprocessados no dia anterior à entrevista. A pesquisa é conduzida com uma amostra de adultos com mais de 18 anos em todas as 26 capitais brasileiras e no Distrito Federal (total de 21.690 entrevistas).
Cultura da cozinha Brasil
Esses alimentos afetam a cultura nacional ao promover marcas padronizadas mundialmente. As estratégias de marketing criam uma falsa sensação de diversidade e fazem com que as tradições alimentares locais pareçam desinteressantes, especialmente para os jovens. Como resultado, há um crescente desejo de consumir esses produtos para se alinhar a uma cultura supostamente moderna e superior.
Vida social atribulada
Projetados para consumo imediato, podendo ser ingeridos a qualquer hora e em qualquer lugar. Assim os alimentos ultraprocessados eliminam a necessidade de preparar e compartilhar refeições. Mas observe-se, que seu consumo frequente ocorre em momentos de isolamento, no trabalhar ou lazer em frente ao computador, o que reduz as oportunidades de interação social.
Meio Ambiente
A produção e comercialização de alimentos ultraprocessados causam danos ao meio ambiente. As embalagens não biodegradáveis poluem o ambiente e exigem novas tecnologias para gestão de resíduos. A demanda por ingredientes como açúcar e óleos vegetais estimula monoculturas que utilizam agrotóxicos e fertilizantes, prejudicando a biodiversidade. Produzidos em grandes unidades concentradas em regiões metropolitanas, exige transporte que consome muita energia e emite poluentes, enquanto o uso excessivo de água compromete recursos naturais essenciais.
Histórico do Guia
A primeira edição do Guia Alimentar para a População Brasileira, publicada em 2006 pelo ministério, apresentou as primeiras diretrizes alimentares oficiais para a população. Com as transformações sociais que impactaram as condições de saúde e nutrição da sociedade, foi necessário atualizar as recomendações.