Está em tramitação na Assembléia Legislativa uma proposta que prevê o comércio de alimentos saudáveis nas escolas
Um tema polêmico e que requer medidas urgentes está em tramitação na Assembléia Legislativa. Uma proposta do deputado estadual Miki Breier (PSB) quer disciplinar a comercialização de lanches e bebidas em escolas de ensino fundamental e médio das redes pública e privada do Estado. O projeto se baseia na preocupação com a obesidade infantil e suas conseqüências.
Levantamentos da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que 155 milhões de jovens apresentam excesso de peso em todo o mundo, ou seja: uma em cada dez crianças é obesa. A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia revela que o Brasil apresenta 6,7 milhões de crianças com esse problema. Dados da Sociedade Brasileira da Pediatria mostram que nos últimos 30 anos o índice de crianças obesas passou de 3% para 15% no País.
Pela proposta em tramitação, fica proibido nas escolas o comércio de bebidas de composição artificial que contenham qualquer teor alcoólico; balas, pirulitos, gomas de mascar, chocolates, doces açucarados e calóricos; refrigerantes, sucos artificiais enlatados, engarrafados ou em pó reconstituído; salgadinhos fritos, assados e pipocas industrializados, além de pastéis, croquetes e risoles.
Os proprietários das cantinas ficariam responsáveis pela qualidade higiênico-sanitário e nutricional dos produtos. Ainda seria fixado, em local visível, um painel com assuntos relacionados à alimentação saudável.
Breier diz que o objetivo é estimular as crianças a consumirem alimentos naturais e nutritivos. Acredita que a mudança pode começar no ambiente escolar e acrescenta que a intenção é manter, no horário escolar, as crianças longe da tentação de produtos inadequados ao desenvolvimento.
“Em muitas instituições, o tema educação alimentar é tratado em sala de aula, mas no recreio as lancherias fornecem doces e salgados com aditivos artificiais e calóricos. Isso é contraditório”, afirma Breier, que acrescenta que a prevenção é o melhor remédio para combater a obesidade e as doenças derivadas como hipertensão arterial, diabetes e cardiopatia.
Para o presidente regional da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, Rogério Friedman, proibir a oferta de guloseimas nas escolas não resolverá o problema da obesidade infantil.
“Essa é uma atitude polêmica. Antes de partir para uma lei restritiva, a escola deveria oferecer aos alunos e familiares esclarecimentos sobre os benefícios da alimentação saudável e das atividades físicas. O trabalho de reeducação alimentar deve ser contínuo e envolver pais, professores, alunos, especialistas e representantes da secretária de Educação e Saúde”, aconselha.
Ele entende que o desafio é saber controlar a quantidade e a freqüência do consumo de produtos que podem afetar à saúde e alerta também para os perigos do sedentarismo. “A obesidade e o excesso de peso devem ser evitados com atividades físicas regulares. Sem elas, tudo isso não adianta”, adverte.
“Hoje as brincadeiras infantis e os exercícios físicos são substituídos por horas em frente ao computador e ao vídeo game e pelo consumo das mais diversas guloseimas. Além disso, a violência tem confinado os jovens dentro de casa”, alerta.
Já a secretária estadual de Educação, Mariza Abreu, considera necessária uma legislação sobre o tema e elogia a iniciativa do deputado. “Promover uma alimentação saudável é essencial para melhorar a qualidade de vida”, declara.
No entanto, ela sugere alterações ao projeto. Propõe que bebidas e produtos com teor alcóolico também sejam retirados das escolas, além daqueles que apresentem composição artificial. A secretária recomenda que a alimentação seja balanceada, sem a supressão de nutrientes indispensáveis para a saúde das crianças. “O bolo, por exemplo, é açucarado e calórico, mas nutritivo e saboroso”, exemplificou.
Fonte: Assembléia Legislativa do RS / Foto: Marcelo Bertani