Com atuação marcante em São Leopoldo, Círculo Operário Leopoldense reforça sua missão de acolher, educar e transformar vidas, mantendo viva uma história de nove décadas de protagonismo comunitário.
Em 2025, o Círculo Operário Leopoldense completa 90 anos de atuação em São Leopoldo. Fundado em 1935 a partir de uma iniciativa ligada à Igreja Católica, o “COL”, como é carinhosamente chamado, tornou-se referência na luta por justiça social e defesa dos direitos humanos, especialmente na proteção à infância, à juventude e à população em situação de vulnerabilidade. A diretora executiva do COL, Odete Zanchet, destacou, em entrevista ao programa Conversa de Peso, da Vale TV, a relevância histórica e o trabalho atual da instituição, que atende 150 crianças e adolescentes e desenvolve ações estratégicas de acolhimento e fortalecimento de vínculos.
Um legado que atravessa gerações
Fundado no contexto da expansão industrial do Brasil, o Círculo Operário Leopoldense é o terceiro do país dentro do movimento circulista, que surgiu na década de 1930 com o objetivo de oferecer suporte social aos trabalhadores. O projeto teve forte impulso do padre Leopoldo Brentano, que trouxe da Alemanha a inspiração para criar, em São Leopoldo, um espaço de acolhimento e articulação social. Ainda antes da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), o Círculo já oferecia serviços como atendimento odontológico aos operários e apoio às famílias.
Com estrutura própria desde sua origem — fruto de campanhas e doações de empresários ligados à Igreja — o Círculo construiu um patrimônio sólido que até hoje garante parte significativa de seus recursos. Esse enraizamento comunitário e a visão coletiva sustentaram a instituição ao longo de nove décadas, mesmo em meio a transformações sociais e econômicas.
Trabalho social com foco na infância e adolescência
Atualmente, o Círculo Operário Leopoldense mantém três núcleos em São Leopoldo: o administrativo, no Centro; e dois comunitários, na Vila Paim e na Feitoria. Nesses dois últimos, são desenvolvidos serviços de convivência e fortalecimento de vínculos para 150 crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, encaminhadas pelo CRAS.
As atividades vão além do cuidado básico: incluem alimentação, cidadania, inclusão digital, esportes, cultura e lazer, numa metodologia participativa e lúdica. Além das crianças, há um trabalho direto com as famílias e com a articulação comunitária, promovendo inclusão e pertencimento.
Resposta à vulnerabilidade social e às novas demandas
Em 2021, após os impactos da pandemia, a instituição passou a ampliar sua atuação junto à população em situação de rua. Com sensibilidade às mudanças da conjuntura social, o COL identificou o aumento dessa população e a ausência de políticas públicas eficazes. Desde então, passou a oferecer apoio direto também a esse público, reafirmando sua vocação humanitária e o compromisso com os direitos universais.
Desafios e continuidade
O Círculo é uma organização da sociedade civil, com base associativista. Conta com cerca de 40 associados efetivos, além de colaboradores, que participam da gestão e das decisões estratégicas por meio de conselhos e assembleias. Segundo Odete, manter viva a cultura do associativismo é um desafio atual, especialmente para engajar as novas gerações na construção coletiva.
O financiamento da instituição vem de diferentes fontes: doações, editais, parcerias com o poder público e com empresas — como a que está sendo construída com o Sicredi — e recursos do Fundo Municipal da Criança e do Adolescente, ao qual o Círculo tem acesso por meio de projetos aprovados no Conselho Municipal.
O Círculo Operário Leopoldense como patrimônio afetivo e institucional de São Leopoldo
O reconhecimento comunitário também tem sido uma marca da trajetória da instituição. Em julho, a Câmara de Vereadores homenageou os 90 anos do COL, com destaque para sua contribuição ao desenvolvimento da cidade. A primeira escola de educação infantil do município, por exemplo, foi criada pelo Círculo, no espaço conhecido como Lar da Menina.
Odete Zanchet, natural de Ipiranga do Sul e residente em São Leopoldo desde os anos 1980, destacou com emoção o papel das gerações que sustentaram essa história: “Eu sou da história recente, da última década. Foram oito décadas antes de mim, com muitas mãos, cabeças e corações que construíram esse legado. Nosso desafio é manter viva essa missão para os próximos 90 anos.”
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Entrevista para o programa Conversa de Peso, com Rodrigo Steffen.