Em debate no programa Estação Hamburgo, analisam os 201 anos da imigração alemã, o legado dos imigrantes, as dificuldades econômicas das cidades do Vale do Sinos e a importância das festas culturais.
A semana da imigração alemã é, tradicionalmente, um período de celebração em cidades da região, e também em São Leopoldo e Novo Hamburgo. No entanto, em 2025, os festejos foram discretos, reflexo das dificuldades enfrentadas pelas administrações municipais e das frustrações com a falta de planejamento e execução de eventos culturais.
Durante o Estação Hamburgo, transmitido ao vivo pela Vale TV e pelo Portal valedosinos.org, os convidados debateram os impactos do momento atual sobre a memória e a valorização da cultura alemã na região. O jornalista Martin Behrend relembrou que os imigrantes chegaram em um cenário adverso, marcado por promessas não cumpridas e dificuldades extremas. “A trajetória foi de suor, sangue e lágrimas. Duzentos anos depois, seus descendentes continuam sendo testados”, afirmou.
A crítica à organização da São Leopoldo Fest foi um dos temas centrais das colocações do advogado Leandro Zambrano, que destacou a mudança de planos da prefeitura, que cancelou o evento previsto para quatro dias, numa versão já bastante reduzida, e realizou uma única celebração ao custo de R$ 150 mil com verba pública. “A inexperiência governamental causou essa falha. Ano que vem vai ser grande, porque é ano eleitoral, e todos os candidatos vão querer seu palco para desfilar”, comentou, em tom crítico.
Festas com menos verba, mais responsabilidade
Os participantes concordaram que as festas culturais são importantes para a identidade da região, mas defenderam que elas devem ser realizadas com responsabilidade fiscal, especialmente em tempos de crise. Empresário e funcionário público por mais de 40 anos, Betinho dos Reis ressaltou que, embora a cultura não seja culpada pelas dificuldades financeiras dos municípios, ela acaba sendo um dos primeiros setores a sofrer cortes. “A decisão política é clara: prioriza-se saúde, educação e assistência social. A cultura fica descoberta, infelizmente”, lamentou.
Apesar disso, a cidade de Dois Irmãos, por exemplo, se destaca positivamente, mantendo eventos em 2024 e em 2025 e controlando as finanças públicas. A comparação evidencia disparidades na gestão municipal entre as cidades do Vale do Sinos, também reflexo da diferença de população das cidades e suas obrigações com hospitais locais ou regionais.
O legado das sociedades e clubes
Outro ponto abordado dentro dos 201 anos da Imigração foi o papel das antigas sociedades culturais e recreativas fundadas por imigrantes alemães. Com mais de um século de história, instituições como o Orpheu de São Leopoldo, Aliança, Sociedade Ginástica e Atiradores de Novo Hamburgo ainda resistem, apesar das dificuldades para manter estruturas físicas e atrair associados em tempos de mudanças sociais.
“A gente não consegue mais manter o que foi construído há 70 anos. O número de sócios diminuiu, as estruturas envelheceram e os clubes enfrentam desafios de sustentabilidade”, analisou Betinho. Ainda assim, há casos de recuperação, como o dos Atiradores, que saltaram de 500 para mais de 10 mil associados e dependentes, retomando protagonismo na cena regional.
Jornalismo como resistência
Em tom descontraído, mas também reflexivo, Martin Behrend compartilhou as mudanças no seu portal de notícias, que completa 11 anos em 2025. Além das melhorias técnicas e de segurança para o leitor, celebrou o alcance espontâneo de uma de suas reportagens: a demolição do antigo supermercado Nacional para dar lugar a um novo empreendimento.
“É uma loteria do algoritmo. O Google pegou e espalhou. A matéria viralizou entre tantas outras importantes”, explicou Martin, destacando a necessidade de resistência do jornalismo independente. Também mencionou o bloqueio por parte de políticos de diferentes espectros ideológicos: “Ninguém me processa. Ficam bravos porque eu falo a verdade”.
Política, Previdência e críticas à Voz do Brasil
O debate abordou ainda temas polêmicos como a previdência dos municípios, os precatórios e a obrigatoriedade da Voz do Brasil nas rádios. Zambrano e Betinho analisaram os riscos de colapso dos institutos municipais de previdência devido à diminuição de concursos públicos e à má gestão atuarial. “Sem novos servidores contribuindo, os institutos não terão recursos para pagar aposentadorias futuras”, alertaram.
Sobre a Voz do Brasil, os debatedores foram unânimes ao criticar a obrigatoriedade da transmissão. “É herança da ditadura. Já houve momentos em que não podíamos informar sobre enchentes porque era obrigatório transmitir um deputado vendendo dois bodes no interior”, ironizou Martin.
Futuro: entre 201 anos, Café Colonial, memória afetiva e eleições
Apesar das críticas, os participantes ressaltaram a importância de valorizar a história da região e manter vivas as tradições. Entre os eventos mencionados nas celebrações dos 201 anos da imigração alemã no Brasil, estão o Café Colonial da Sociedade Atiradores de Dois Irmãos, o lançamento de livro em Novo Hamburgo, atividades no Museu Histórico Visconde de São Leopoldo e a São Lepoldo Fest.
O encerramento do programa, como de praxe, foi bem-humorado, com brincadeiras entre os convidados sobre dieta, política, velhos clubes da cidade e a nostalgia do Centro Útil de Novo Hamburgo. Com críticas, afetos e histórias entrelaçadas, o edição do Estação Hamburgo do dia 21 reforçou seu papel como espaço de encontro, reflexão e memória para o Vale do Sinos.
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