Acordo técnico entre banco de desenvolvimento BRDE e agência estadual Invest RS promete fortalecer a atração de empresas nacionais e internacionais ao Estado gaúcho.
Na última sexta-feira (3), o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) e a Invest RS assinaram um termo de cooperação técnica que visa qualificar a prospecção de novos investimentos para o Rio Grande do Sul. A iniciativa, celebrada com pompa, busca promover as potencialidades regionais, desenvolver estudos técnicos e acelerar o fluxo de empresas que desejam se instalar no Estado. Conforme os envolvidos, a parceria é uma resposta à necessidade de “tornar o RS mais competitivo, simplificar processos e atrair capitais que gerem emprego e renda”.
O acordo prevê ações conjuntas de divulgação das oportunidades econômicas sul-rio-grandenses, presença em feiras e missões nacionais e internacionais, e o mapeamento dos gargalos que afetam cadeias produtivas estratégicas. Também está no escopo a construção de mecanismos que facilitem o diálogo entre investidores e os entes estaduais, com foco na agilidade de licenciamento e apoio institucional.
União de forças e justificativas oficiais
Para o secretário de Desenvolvimento Econômico, Ernani Polo, a integração entre instituições de fomento e agência de atração é decisiva para elevar a competitividade estadual. “O volume de novos investimentos anunciados por empresas globais no último ano é um indicativo de que estamos no caminho certo. Agora precisamos ser mais proativos e dar visibilidade às nossas potencialidades”, afirmou.
Já o presidente do BRDE, Ranolfo Vieira Júnior, destacou que o momento exige um ambiente mais convidativo aos empreendedores. “Hoje somos um Estado mais seguro, com maior equilíbrio fiscal e diversos instrumentos de apoio. Mas precisamos mostrar isso com clareza e mecanismos eficazes para quem quer investir”, disse.
Do lado da Invest RS, o presidente Rafael Prikladnicki disse que a parceria com o BRDE será uma alavanca para ampliar o impacto da agência. “Temos convicção de que, somando forças, vamos melhorar ainda mais a competitividade do Estado e atrair investimentos que gerem desenvolvimento regional”, afirmou.
Para efetivar o plano, o acordo já contempla cronograma até 2026, com estudos técnicos, pesquisas setoriais e mapeamento de gargalos nas cadeias produtivas prioritárias.
O que isso significa para o Vale do Sinos e regiões vizinhas
Para municípios da Região Metropolitana e do Vale do Sinos, o anúncio pode representar uma porta de entrada para novos empreendimentos, especialmente nas áreas de tecnologia, indústria leve, logística e turismo. A proximidade geográfica com Porto Alegre e com grandes rodovias pode ser reaproveitada como vantagem competitiva.
No entanto, para que essa parceria se traduza em resultados concretos fora do centro político, será necessário que o Estado consiga:
-
agilizar licenças e regulações municipais, para que empresas não esbarrem em burocracias locais;
-
distribuir com equilíbrio os incentivos, evitando concentração apenas nos polos já consolidados;
-
garantir infraestrutura — energia, estradas, saneamento — nos municípios que venham a receber novos empreendimentos, para não sobrecarregar o sistema regional.
Se isso for bem feito, áreas ainda pouco aproveitadas no Vale do Sinos, como distritos industriais menores ou regiões rurais conectadas, podem receber atenção especial — impulsionando empregos e descentralizando investimentos.
Pontos de atenção e desafios
Embora o acordo seja ambicioso, não faltam desafios que podem minar sua eficácia:
-
Execução sobre discurso: muitas parcerias estaduais permanecem no plano estratégico e não avançam para ações visíveis. É preciso cronograma rigoroso, metas claras e prestação de contas pública.
-
Capacidade institucional: Invest RS e BRDE devem dispor de equipes técnicas suficientes para atender a demanda com qualidade. Sem isso, o “mapear gargalos” pode se tornar mais promessa do que ação.
-
Equilíbrio regional: existe o risco de que as regiões metropolitanas e polos já consolidados absorvam a maioria dos recursos, enquanto municípios menores fiquem à margem.
-
Estabilidade fiscal contínua: para atrair investidores, o Estado precisa mostrar consistência orçamentária e segurança jurídica. Oscilações fiscais, dívidas ou instabilidade política podem afugentar capitais.
-
Integração com municípios: muitos obstáculos de atração de investimentos dependem da estrutura local — incentivos municipais, zoneamento urbano, credibilidade institucional. Se prefeitos e câmaras locais não estiverem alinhados, novos empreendimentos podem desistir.
LEIA TAMBÉM: Governo Leite reforça rede social de apoio às famílias gaúchas com 39 programas ativos
Um passo necessário, mas de médio prazo
A parceria entre BRDE e Invest RS pode ser interpretada como um movimento estratégico para reposicionar o Rio Grande do Sul no tabuleiro da atração de capitais no Brasil. Não se trata de uma panaceia que resolve em curto prazo todos os déficits locais, mas de um sinal de que o Estado entende a competição econômica contemporânea: quem se posiciona bem não espera passivamente.
Se o Vale do Sinos estiver atento e articulado — com secretarias municipais preparadas, incentivos locais equilibrados e infraestrutura bem mantida — pode se tornar um dos principais beneficiados desse novo momento gaúcho.
