Por Felipe Kuhn Braun e Sandro Blume, historiadores e escritores
A região que atualmente compreende o município de Sapiranga e seus arredores, no século XVIII, foi palco de disputas entre portugueses e espanhóis, que lutavam pela posse da Região Platina. Nesse processo histórico de “vai e vem das fronteiras do sul do Brasil” que vamos encontrar as origens de Sapiranga. Registros do século XVIII mencionam uma região conhecida como Padre Eterno. Essa extensa área de terras tinha como limites geográficos o Arroio Grande a Leste, o atual Arroio Schmidt a Oeste, o Rio dos Sinos ao Sul e o Morro Ferrabraz ao Norte.
Sabe-se que a denominação de Padre Eterno tem origem num antigo capelão afro descendente, que viveu na região no século XVIII.
Em épocas remotas, tribos indígenas caçadoras e coletoras, kaingangues e guaranis, transitavam por estas regiões. Posteriormente os primeiros povoadores brancos dessa região foram tropeiros e paulistas, que à serviço da Coroa Portuguesa, defendiam os interesses lusos no sul do Brasil, mas acima de tudo, os seus próprios interesses, na medida em que se apossavam das terras. Assim, o Padre Eterno fazia parte da Fazenda Mascarenhas, com sede no Distrito de Cahy. Por volta de 1777, documentações apontam que o Padre Eterno foi comprado por Inocêncio Alvez Pedrozo, ocorrendo um desmembramento da Fazenda Mascarenhas.
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Durante o século XVIII a região foi alvo de fracionamentos, fruto de direito de heranças familiares e comercialização dos lotes de terras desse território.
Avançando alguns anos no tempo, chegamos ao 25 de julho de 1824, quando um grupo de 39 imigrantes da Europa Central, falantes de língua alemã, chegou a um assentamento às margens do Rio dos Sinos, com o objetivo de começar uma nova vida. Ali nasceria o futuro município de São Leopoldo. E a data se tornou o marco oficial do início da imigração alemã no Brasil.
A Colônia Alemã de São Leopoldo era uma extensa região de mata fechada que foi dividida em distritos. O quinto distrito, conhecido pelo mundo luso-brasileiro como Padre Eterno, foi inicialmente nomeado pelos alemães de Leoner-Hof. Mais tarde ficou conhecido como Sapiranga.
Depois de disputas judiciais entre herdeiros, a Fazenda do Padre Eterno / Fazenda Leão é colocada à venda em leilão público devido as dificuldades financeiras da família Leão. As terras acabam sendo arrematadas em 08 de julho de 1842 por João Pedro Schmidt, comerciante de Hamburgo Velho, em sociedade com Johann Krämer.
A partir daí nascia a Sociedade Schmidt & Kraemer, que seria responsável pela comercialização das terras em lotes (prazos) coloniais aos imigrantes e descendentes de imigrantes alemães que viriam a se fixar naquela região. De acordo com o Censo de 1848 realizado na Colônia Alemã de São Leopoldo, temos naquele momento, 346 moradores no Padre Eterno, evidenciando que a região iniciava uma nova fase de sua história, com a presença da imigração alemã.
Foi nesse contexto de ocupação das terras por imigrantes e seus descendentes, na região que viria a ser o atual município de Sapiranga, que veremos, anos mais tarde, a eclosão do conflito Mucker. Esse episódio tornou visíveis as dificuldades e adversidades e conflitos existentes dentro do ambiente colonial vivenciado por Sapiranga no século XIX. Jacobina Mentz Maurer e seu marido João Jorge Maurer, responsáveis pela formação de um grupo religioso, que além de vivenciar práticas religiosas autônomas, curandeirismo, e não comprar mais víveres nos armazéns locais, acabaram sendo identificados como culpados por diversos acontecimentos da Colônia.
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