O Ministério Público de Goiás investiga esquemas de apostas envolvendo partidas do Gauchão 2023.
Desde o final de 2022, a temporada de 2023 no futebol brasileiro prometia muito. A vinda de grandes jogadores de nível europeu trazia qualidade e refino ao jogo praticado nos nossos campeonatos, dos estaduais aos nacionais. Jogadores como Luis Suárez, Fernandinho e Marcelo, que há pouco tempo estavam protagonizando nos maiores times do mundo, agora trariam, além da qualidade técnica, holofotes ao esporte local.
Justamente no momento em que os olhos se voltaram à nossa casa, percebemos que nossas paredes estavam cheias de buracos, nosso teto caindo e nossa grama com inços por toda parte. O futebol brasileiro pode estar ruindo, com manipulações feitas por apostadores e erros de arbitragem. O torcedor desconfia de tudo que vê.
Manipulações – Arbitragem
Não é de hoje que o futebol brasileiro e mundial está sob suspeita. No início dos 2000, ficou muito famoso o caso da Máfia do Apito.
Em uma época que as casas de apostas não estavam tão difundidas no país, devido ao baixo acesso da internet, os meios de apostas eram limitados aos jogos de maior expressão. Neste cenário, os fraudadores recorreram àqueles que deveriam ser as autoridades no campo de futebol, os árbitros. As manipulações, naquela época, ficavam mais concentradas nos placares dos jogos, por isso a escolha dos árbitros para o esquema.
O caso, levantado em 2005 pelo jornalista André Rizek, levantou suspeitas sobre um grupo de apostadores e dois árbitros do futebol brasileiro, que estariam envolvidos na manipulação de resultados do Campeonato Brasileiro do ano da matéria. O caso foi suspenso pela justiça, pois na época, fraudes esportivas não enquadravam como crime de estelionato.
Um caso de manipulações feitas pela arbitragem chocou também a Europa no início deste ano. O Ministério Público da Espanha iniciou investigação a partir de diversos valores transferidos de presidentes do Barcelona ao presidente da comissão de arbitragem da La Liga (Liga Espanhola) na época. As investigações estão apenas no início e muitos dos crimes podem já ter sido prescritos, devido aos depósitos iniciarem no início dos anos 2000.
Manipulações – jogadores
Nos dias atuais, com o acesso muito facilitado às casas de apostas, e com as mesmas estampando seus nomes em camisetas de clubes e patrocinando campeonatos importantes, o torcedor passou a desconfiar de tudo que acontecia dentro do gramado: qualquer erro de passe ou cartão tomada gerava suspeita.
As suspeitas aumentaram, até que surgiu a Operação Penalidade Máxima, tocada pelo Ministério Público de Goiás e que está chegando no âmbito da polícia federal. A operação procurava investigar manipulações feitas em jogos dos campeonatos estaduais, Campeonato Brasileiro das Séries A e B.
Além de apostadores, muitos jogadores estão envolvidos no esquema de apostas, alguns com participação já comprovada e outros que apenas tiveram seu nome vinculado ao convite de participação de do esquema, como Maurício do Internacional e Nathan do Grêmio (na época, no Atlético MIneiro),
Até o data da matéria (16 de maio de 2023), tivemos algumas rescisões de contrato, incluindo o lateral Nino Paraíba do América Mineiro, como um dos mais relevantes e também 8 pedidos de afastamento realizados pelo STJD. Entre os pedidos, 3 jogadores que na época atuavam pelo Juventude de Caxias. São eles: Moraes, Gabriel Tota e Paulo Miranda.
Providências tomadas por outras ligas
Apesar do problema surgir a partir das casas de apostas, o Governo Brasileiro está mais perto de legalizar as empresas do que de as proibir. E isso fica bem claro no momento em que se observa os clubes brasileiros. Entre os 20 clubes da Série A, 19 tem vínculo com casas de aposta, enquanto apenas um, o Cuiabá, não tem nenhum patrocinador relacionado.
Indo no caminho contrário do Campeonato Brasileiro, a Premier League, organizadora do principal campeonato nacional de futebol do mundo, decidiu que, a partir de 2025, nenhum clube da liga poderá contar com patrocínio de casa de aposta, ou seja, as diretorias que contam com hoje com patrocínios desse time, como o Whest Ham, terão menos de 2 anos para resolver a situação.
Opinião
A situação é delicada e devemos cuidar para não condenar as vítimas. Isso mesmo, a palavra vítima ainda existe nesse meio envolvendo tantos réus. Os clubes são enganados, pois seus jogadores manipulam o resultado em troca de valores de terceiros; as federações perdem a credibilidade das suas ligas; e é claro, as casas de apostas, que são lesadas financeiramente por fraudadores, que fazem apostas altíssimas e retiram valores maiores ainda.
É o “fim do futebol”? Isso acaba sendo uma frase mais saudosista do que qualquer coisa. O futebol é emoção, ele pode perder a credibilidade, como perdeu na época da máfia do apito, mas com as medidas certas sendo tomadas, ela é retomada facilmente. Eu acredito.