Desde muito cedo, voltei meus olhos para o patrimônio histórico e Hamburgo Velho foi sempre minha grande paixão. Quando criança, andava pelas ruas do bairro observando a imponência dos casarões e de seus jardins floridos.
Conheci o museu Scheffel em uma visita com minha escola, aos onze anos de idade. Foi um completo encantamento. Meu contato com arte, até então, era restrito às ilustrações em preto e branco da enciclopédia Delta Larousse, folheada nos dias de chuva, quando não era possível brincar pelas ruas. A Fundação Scheffel foi o primeiro museu que visitei.
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Alguns anos depois, “fui descoberto” pelo artista Scheffel e pela historiadora Angela Sperb, que ficaram encantados com o menino que já mantinha, em sua casa, um pequeno museu e era apaixonado por patrimônio histórico. Ambos foram fundamentais no estímulo à minha sensibilidade, transformando por completo minha vida e delineando meu futuro.
No momento em que comemoramos os 200 anos da Imigração Alemã no Brasil, todo o trabalho desenvolvido nas últimas décadas, por mim e pela instituição, faz grande sentido diante do protagonismo desse contexto. A preservação do Centro Histórico de Hamburgo Velho e as inúmeras atividades culturais desenvolvidas pela instituição são a certeza de que estamos no caminho certo.
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Como Curador da Fundação Scheffel – assim, também, do museu Comunitário Casa Schmitt-Presser –, estive e estou completamente imerso na temática da imigração alemã. Todos os dias, deparo-me com os desafios de levar essa herança cultural a um porto seguro, com o olhar atento ao desenvolvimento humano, artístico e cultural. Ainda hoje – digo com orgulho – sinto o mesmo encantamento do início de minha trajetória profissional.
Também não posso deixar de lembrar meu trabalho como Diretor do Departamento de Cultura da cidade de Dois Irmãos na década de 1990, quando tive a oportunidade de colocar em prática muitos dos ensinamentos recebidos do artista Scheffel e da historiadora Angela Sperb nas questões de preservação do patrimônio histórico. Tive a honra de participar do processo de aquisição da antiga Matriz de São Miguel, hoje um centro cultural e, posteriormente, na implementação da política de preservação do patrimônio cultural e histórico da cidade.
Assim, o patrimônio histórico de Novo Hamburgo e Dois Irmãos são os meus dois amores: lugares com os quais me conecto a minhas raízes e afetos. Lugares que esbanjam beleza, por vezes discreta ou um tanto adormecida, porém presente, à espera de resgate e de uma maior valorização.
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Recordando uma fala do artista Scheffel que dizia “A beleza irá salvar o mundo”, desejo que as comemorações do Bicentenário da Imigração Alemã no Brasil despertem as pessoas para a beleza das nossas cidades e para a riqueza cultural que possuímos. Gratidão a todos os povos e culturas que buscaram – e ainda buscam –, em nosso país, estado e regiões, o refazer de suas caminhadas: tal diversidade cultural valoriza-nos enquanto indivíduos e nação.
Em especial, neste ano de 2024, gratidão aos movimentos imigratórios alemães, cujo bicentenário comemoramos neste momento e tanto nos engrandece.
*Por Angelo Reinheimer
Curador da Fundação Scheffel e Presidente do Conselho Municipal do Patrimônio Histórico