Ray Lamontagne, templadismo e a estética do frio
“War is not the answer, The answer is within you… love” – Within you
A descoberta mais recente que fiz é um cantor folk tem um estilo próprio e personalizado de compor e de cantar: Ray Lamontagne. Nascido na Inglaterra em 1974, este cara faz um som que parece ter sido gravado no final dos anos 60. Se ao menos já tivesse nascido, eu diria que ele tinha fumado “umas“ junto com o Van Morrison, quando este lançou em 1968 seu consagrado “Astral weeks”.
Para quem está habituado ao sonzinho com base em violão e arranjos de cordas que se fazia naquela época, nenhuma surpresa. Mas é incrível encontrar alguém em plenos anos 2000 fazendo este som! O som é uma beleza, pra fazer dormir e sonhar bem!!! Um vocal sussurradinho no pé do ouvido, belos arranjos de violinos. Muito necessário naquelas horas em que se quer relaxar e esquecer da velocidade do dia-a-dia…
O disco “Till the sun turns back” é uma pérola de sutilezas e levezas, numa época em que as bandas e os artistas em geral não sabem mais o que inventar para parecer originais. Lamontagne compõe sem se preocupar com rótulos ou formatos, que não sejam os seus próprios (ou ao menos de suas heranças).
Aliás, estas rotas têm sido a escolha de diversos expoentes da música mundial, seja lá na Europa, em nomes como Damien Rice, Devendra Banhardt e Jamie Cullum, como por aqui também, nos trabalhos de Jorge Drexler (Uruguai), Vítor Ramil (com a Estética do frio) e Nei Lisboa (que é ele mesmo desde o começo).
Aliás, a estética do trabalho de Jorge Drexler é inserida em um movimento chamado “Templadismo”, que foi cunhado pelo seu irmão, Daniel Drexler, definido como “uma espécie de marco teórico para a criação (de canções) na região do Rio da Prata”.
Segundo Daniel ele sentiu que se “encontrou de forma natural, em um grande ponto de coincidência estética e ideológica” com o que diz Vitor Ramil no seu manifesto “A Estética do frio”, e com muitos outros artistas do sul da América do Sul, “mesmo que no fundo nem saiba se todos eles sintam tal coincidência…”
E é justamente disso que me lembrei ao ouvir Lamontagne!
Não deixe de ouvir “Within you” e “Lesson learned”.
Ray Lamontagne Home Page: www.raylamontagne.com/
Ray no myspace: Dá para ouvir uns “samples” online: http://myspace.com/raylamontagne
Van Morrison Home Page: http://www.vanmorrison.co.uk/
Vitor Ramil – A Estética do frio: http://www.vitorramil.com.br/estetica.htm
Daniel Drexler – Templadismo: http://danieldrexler.blogspot.com/2006/08/daniel-drexler_115557354892179839.html
Pick of the week – Disneylandia – Jorge Drexler

Já que estamos falando em Drexler, a canção “Disneylandia” que está em seu último disco “12 segundos de oscuridad” é um achado!
A música é uma adaptação do trabalho de Arnaldo Antunes, que saiu como uma colaboração em um disco dos Titãs, quando ela já não integrava mais a banda.
Mas é incrível a letra, que se trata de um descritivo de situações inusitadas que ocorrem em diversas partes do mundo, como conseqüências da globalização:
– “Lanternas japonesas e chicletes americanos nos bazares coreanos de São Paulo”
– “Crianças iraquianas fugidas da guerra não obtém visto no consulado americano do Egito para entrarem na Disneylândia”
O estilo é aquele intimista de Drexler. Mas o mais incrível é que a idéia da música se encaixa perfeitamente com o filme “Babel” do mexicano Alejandro G. Iñárritu que foi um dos mais indicados ao Oscar 2007, vencendo como melhor trilha sonora com Gustavo Santaolalla (outro nome para constar nos arquivos da nossa coluna, em breve).