O homem a quem se dedica esta edição do Rotas Alteradas é um artista que vem permeando aqui e ali vários temas que já tratamos anteriormente na coluna: Gustavo Santaolalla.
Este músico teve o início de sua trajetória quando ainda era um jovem hippie, na Argentina, com um conjunto chamado “Arco Íris”, e fazia então uma fusão de Rock com folclore latino-americano, abrindo portas para um movimento que ao longo dos anos 70 foi tomando forma no país, sob a alcunha de “Rock Nacional”.
Desde então, ao longo dos anos vem trabalhando num esquema multidisciplinar, como produtor de diversos projetos e bandas, entre elas o efervescente e (bota) alternativo (nisso) grupo mexicano “Café Tacvba”.
Ao longo das décadas seguintes continuou na ativa compondo discos solo, onde se destaca Ronroco (1998), que tinha diversas músicas usando um instrumento de cordas Andino chamado Charango.
Este disco, apesar de não ter tido um sucesso muito expressivo, começou a traçar as linhas da sonoridade que encantou o mundo do cinema, com as diversas trilhas sonoras que compôs nos anos seguintes.
Para se ter uma idéia da importância do trabalho de Santaolalla no cinema da última década, basta dizer que são suas as trilhas dos filmes da “Trilogia da Dor” de Alejandro Gonzáles Iñárritu, diretor mexicano, que é formada pelos impressionantes “Amores Brutos” (2000), “21 Gramas” (2003) e “Babel” (2006).
Também fez trilha do filme “Diários de Motocicleta” (2003) de Walter Salles. O estilo de sobreposição de cortinas e camadas de cordas que é muito próprio de Santaolalla parece ter conquistado fortemente a crítica da Academia Americana de Cinema, que lhe conferiu dois Oscar seguidos por “O Segredo de Brokeback Mountain” em 2005 e “Babel” em 2006.
Também não é para menos: algumas das boas sensações cinematográficas que experimentei nos últimos tempos estão em Babel, no estilo contemplativo da câmera de Iñárritu, associado com a cortina sonora reflexiva da música de Santaolalla… Não perca!
Quer mais? Já falamos de rock, cinema, montanhas (andinas e outras) e Gustavo Santaolalla ainda tem fôlego para dar e vender para a nova onda de músicos platenses envolvidos com a saga do Tango.
Em 2005 produziu o “Café de los Maestros”, um CD duplo, e uma série de shows, que fez um resgate de dezenas de músicos da velha guarda do Tango que estão ainda vivos na Argentina (mais ou menos ao estilo do que o Buena Vista Social Club fez com os velhinhos cubanos no início do século, apesar de ele não gostar desta associação).
Depois disso, Gustavo Santaolalla ainda é parte de um projeto intitulado “Bajofondo Tango Club”, que foi um dos pioneiros na fusão do tango com a música eletrônica, projeto muito legal, que já ganhou a nossa atenção numa edição anterior. E deve sair em breve o novo trabalho do BajoFondo, que aguardo ansiosamente.
Santaolalla na wiki: http://en.wikipedia.org/wiki/Gustavo_Santaolalla
Santaolalla e o som do Charango (Ronroco) em Babel: http://catavital.blogspot.com/2007/03/santaolalla-ronroquea.html
Bajofondo tangoclub: www.bajofondotangoclub.com
Entrevista com G. Iñarritu: http://www.cinemacafri.com/reportagem_corpo.jsp?id=71
Pick of the week – Uakti – Bachianas n.° 5 (Villa Lobos)
A abertura do show (e do DVD) Brasileirinho de Maria Bethânia me trouxe uma grande surpresa: O conjunto instrumental “Uakti” tocando a “Bachianas no. 5” de Heitor Villa Lobos. Nada mais emblemático poderia ser reunido para fazer a introdução do espetáculo de Bethânia que faz um apanhado do cancioneiro popular brasileiro. O Uakti é um impressionante conjunto que compõe músicas para instrumentos pouco convencionais fabricados por eles próprios com pedaços de canos, vidros, madeiras e outros materiais artesanais, encabeçados pelo multi-instrumentista Marco Antonio Guimarães (que por sinal é um dos flautistas mais impressionantes que já vi tocar). Confira! Inesquecível! Aliás o show inteiro vale a pena…
Museu Villa Lobos:www.museuvillalobos.org.br/index.htm
Uakti: Site muito bom, inclusive com amostras de suas músicas e detalhes sobre os instrumentos: www.uakti.com.br