Novo Hamburgo tem gente a favor e outros contra a distribuição pelo Ministério da Saúde, da pílula do dia seguinte, durante o carnaval
O Ministro da Saúde, José Gomes Temporão, ao abrir neste domingo a campanha de prevenção à Aids no Carnaval criticou a posição da igreja Católica contra a distribuição da pílula do dia seguinte, em Recife. O mesmo Ministério da Saúde vem divulgando uma publicidade em parceria com uma emissora de TV do RS, onde uma mulher relata os avanços dos movimentos feministas, entre os quais o direito de votar. A figurante do comercial deixa uma pergunta no ar – porque não posso decidir sobre o que eu quero ou não para o meu corpo?
O arcebispo de Recife e Olinda, dom José Cardoso Sobrinho, anunciou na quinta-feira da semana passada que a Igreja entraria com uma ação para evitar que a prefeitura de Recife distribua o contraceptivo.
Para a diretora do Sindicato dos Sapateiros de Novo Hamburgo, Neiva Barbosa, existe um movimento feminista na cidade que defende o direito da mulher decidir o que é relevante ou não para o seu corpo. “A gente não vê a pílula do dia seguinte como um instrumento abortivo e sim como um medicamento de controle da natalidade”. A igreja esta sendo moralista ao se posicionar contra esta iniciativa do ministério da Saúde, acredita Neiva. “Nenhum religioso vai ajudar a criar as crianças depois que ela nascer”, argumenta.
Para o ginecologista hamburguense Paulo Luiz Rech a pílula do dia seguinte deve ser usada como um fator emergencial. Este medicamento, nas primeiras 24h, tem uma eficiência de 90%. Quando passa 48h da relação, a chance de evitar a gravidez cai para 80%. E se o fato ocorreu até 72 horas às chances de impedir a concepção caem para 70%. Depois disso a pílula não tem efeito nenhum. O medicamento não deve ser usado como método de anticoncepção. O que ela faz? Ela representa o envio de uma dose forte de hormônios ao organismo feminino com o propósito de acelerar o movimento das trompas e desta forma ainda tentar evitar a gravidez. “É que para ocorrer a fecundação do óvulo nas trompas, não deve existir muito movimento e tudo deve estar na maior tranqüilidade o que acaba não ocorrendo após ingerir o medicamento”, explica. Ele recomenda que as mulheres procurem sempre outro método contraceptivo.
Para o Monsenhor Américo Semin, de Hamburgo Velho, ele gostaria de lembrar primeiramente que esta questão da pílula foi amplamente discutida aqui em Novo Hamburgo, a alguns anos, e a manifestação da grande maioria da comunidade foi pela vida.
Ele diz que infelizmente este assunto normalmente costuma vir a público nestes períodos de carnaval. Semin ressalva que a pílula do dia seguinte é um problema da humanidade e não religioso. A igreja sempre se posicionará tendo em vista o prolongamento da vida, e um exemplo disso é a campanha da fraternidade de 2008 que exatamente defende a vida. Segundo ele, o ministro Temporão, certa vez já recebeu uma resposta de um representante da igreja de que ele foi escolhido para defender a vida e não para atrapalha-la ou brincar com ela.
O Monsenhor acha que o ministro deveria cuidar das questões da saúde como o combate a dengue, a febre amarela e outras epidemias que estão por ai afrontando a vida dos cidadãos. Pensa que um líder nacional da área da saúde deveria ao mesmo tempo providenciar um atendimento melhor ao povo brasileiro, via INSS.
“Tem-se a impressão de que ele quer ensinar o povo a pecar melhor durante o carnaval”, alfineta. Com a simples distribuição da pílula do dia seguinte surge o agravante da cidadã não estar sendo acompanhada de perto por um médico. Acho que está também não é a fórmula correta da sociedade se prevenir contra a AIDS.
“A vida é importante e tal consciência deve nortear as ações das pessoas”, pensa Semin. O religioso ainda acredita que neste tipo de iniciativa aparece o interesse das grandes multinacionais que fazem de tudo para comercializar seus produtos. “Não sei como o governo encontra recursos para investir nestes tipos de campanhas quando falta dinheiro para a saúde básica dos cidadãos”, compara.
O aborto começou a ser introduzido em algumas sociedades somente a partir do século XX, antes disso ele sempre foi considerado um crime contra a humanidade e assim é tratada até os dias atuais na grande maioria dos países. Mas o princípio de tudo, diz o Monsenhor é que o homem nasce para morrer e não para matar. A vida é da criança que está nascendo e ninguém tem o direito de interrompe-la. “Eu considero este fato espalhafatoso do ministro contra a igreja muito degradante”, lamenta.