“A população parece acostumada com a corrupção. Ela existe em qualquer país, mas o que não há nos outros é a impunidade”, declara Rodrigo Martins
O professor e coordenador do curso de História e Ciências Sociais da Feevale e Cientista Político, Rodrigo Perla Martins em entrevista ao Portal novohamburgo.org analisou os reflexos sociais causados pela atual crise de corrupção, deflagrados a partir do dia 17 de maio, quando iniciou a Operação Navalha.
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Portal – Escândalos de corrupção como os que foram revelados pela “Operação Navalha”, onde parlamentares estão envolvidos, como isso se reflete na sociedade?
Rodrigo Perla Martins -O possível reflexo, hoje, pode ser o “de novo”… Isso porque a população parece acostumada com a corrupção. Caiu na banalização. Até mesmo a questão da impunidade vem à tona. É aquela coisa do “Se todos fazem…”.
Tanto é que temos uma pesquisa que diz que 75% das pessoas faria algo assim se estivesse em um cargo público. Com isso não quero dizer que todo o brasileiro é corrupto. Pelo contrário, há uma percepção de corrupção e o ato em si. Esse último é uma porcentagem pequena.
Portal- Dos 47 acusados e presos pela operação, 42 já foram soltos. Isso não causa no cidadão uma sensação de impunidade?
Rodrigo Perla Martins – Pois é, corrupção existe em qualquer país, menos ou até mais que no Brasil. O que não há em outros lugares é a impunidade. Quando temos até o judiciário envolvido com vendas de sentenças… Pode se estar em processo de desacreditamento em relação aos governantes.
Portal – De que forma as sucessivas crises de corrupção atingem a governabilidade do país?
Rodrigo Perla Martins – Hoje, nenhuma. Isso porque nos últimos anos as instituições estão fortalecidas. A democracia se constrói desde 85 e com isso, ninguém quer retrocesso autoritário.
Portal – Na sua opinião, o governo tem agido corretamente nestes escândalos?
Rodrigo Perla Martins – Penso que sim. Ao aparelhar a PF como uma verdadeira polícia republicana. Desde o ano 2000 a PF passa por um processo de modernização e concursos que a deixa melhor preparada para combater a corrupção. O estranho é que o ministro da justiça pode estar com sua cabeça a prêmio pelas últimas ações da PF.
Engraçado, ele não é elogiado – porque isso é serviço da Federal – mas sim corre o risco de perder o emprego porque uma parte da base de apoio ao governo está envolvida (bem como boa parte da oposição) nos casos últimos.
O que poderíamos discutir são os possíveis vazamentos de informações para a imprensa. Mas isso não pode inviabilizar o trabalho da Federal. Até porque os políticos não gostam somente quando o seu nome é vazado, mas sim quando envolve os adversários…
Portal- Como o senhor imagina que a sociedade deva agir em episódios como esse, já que na maioria das vezes assiste a tudo com passividade?
Rodrigo Perla Martins – Penso que poderíamos mobilizarmo-nos e exigir punição. O problema que é somente mestiço e ladrão de galinha (em sua maioria) que vão para a cadeia ou sofrem punição. Juízes do STF e deputados usam a lei (de maneira correta).
Portal – Escândalos e crises de corrupção tem o mesmo impacto sobre as pessoas quando não há uma eleição próxima?
Rodrigo Perla Martins – Como a população usa somente as eleições para verbalizar o que sente sobre tudo isso, é somente sim em época de eleições, infelizmente.