Especialistas analisam os méritos e obstáculos da estratégia, que tem tido alto índice de aprovação por moradores de favelas do Rio.
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Com um índice alto de aprovação e planos de expansão, a adoção das Unidades de Polícia Pacificadora – UPPs completa dois anos no próximo domingo, dia 19.
A estratégia é uma forma recuperar o controle de favelas dominadas pelo tráfico armado no Rio de Janeiro. A data marca o aniversário da ocupação da comunidade Santa Marta, em Botafogo (foto). De lá para cá, 13 UPPs foram instaladas no município, afetando a vida de cerca de 230 mil moradores. A previsão do governo é chegar a entre 40 e 50 unidades até 2014, totalizando 165 favelas ocupadas.
Na opinião de analistas entrevistados pela BBC Brasil, o principal mérito do projeto das UPPs é retirar dos traficantes o controle sobre as comunidades, mas a iniciativa depende de ações sociais na esteira da ocupação militar para se tornar uma política efetiva no longo prazo.
“Não basta ocupar militarmente. É preciso que o Estado entre com todos os serviços e benefícios que cabem a um cidadão comum incorporado à sociedade formal. Esse é o pulo do gato”, diz o cientista político João Trajano Sento Sé, professor do departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ.
OBSTÁCULOS – Uma das principais críticas às UPPs, que viraram o carro-chefe do governo de Sérgio Cabral, é que elas não podem ser aplicadas em todo o Rio e Grande Rio, já que o território abrange cerca de mil favelas.
Para João Trajano Sento Sé, seria mesmo inviável levar o programa para tantas comunidades. Por isso, diz o cientista político, elas não devem ser pensadas como algo de que esses territórios dependerão para sempre. Para ele, a presença policial mais ostensiva poderá se tornar menos necessária gradualmente, quando a presença do Estado se instituir com projetos de urbanização, saneamento, acesso à Justiça, educação e assistência social.
Outro obstáculo para a expansão das UPPs é o alto custo da operação, devido ao grande número de policiais envolvidos. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, uma UPP de cem policiais, como a do Santa Marta, custa ao Estado mais de R$ 250 mil por mês e, em média, R$ 2,4 milhões para a instalação. A construção das sedes vem sendo financiada pela iniciativa privada, com o envolvimento de empresas que apóiam o projeto.
Confiança na polícia é maior nas favelas com UPPs
Se antes a imagem da polícia era marcada por incursões truculentas e trocas de tiros com o tráfico, hoje a confiança nos policiais já é maior nas favelas com UPPs do que nas comunidades sem a presença policial.
Um estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa Social – IBPS, a pedido do jornal O Globo, aponta que 60% dos moradores de favelas pacificadas confiam na polícia, contra 28% nas comunidades sem UPPs.
De acordo com a pesquisa, 92% dos 400 moradores consultados disseram aprovar as UPPs. Nas favelas sem a presença policial, onde outras 400 pessoas foram entrevistadas, a aprovação é de 77%, e 79% se dizem favoráveis à eventual chegada de uma UPP.
Para Robson Rodrigues, responsável pelo Comando da Polícia Pacificadora, os principais méritos das UPPs são recuperar os territórios, afastar a criminalidade violenta, aumentar a legitimidade da polícia e estabelecer uma relação de confiança com a comunidade.
Rodrigues admite, porém, que o programa ainda está no começo, e há importantes desafios pela frente. “Não podemos nos deixar contaminar por uma certa euforia, algo que no passado já levou ao fracasso de outros programas inicialmente bem sucedidos . Estamos nos valendo de pesquisas criteriosas e fazendo uma autoavaliação constante para melhorar cada vez mais”, diz.
Informações de portal UOL
FOTO: reprodução