Natural de Campo Bom, Israel Nascher é um dos principais nomes da nova geração de cuteleiros brasileiros. Dono de um talento raro, ele cria facas e machados customizados com técnicas ancestrais e reconhecimento internacional, levando o nome do Vale do Sinos ao mundo.
De uma oficina simples em Campo Bom para os palcos internacionais da cutelaria artesanal, o gaúcho Israel Nascher dos Santos construiu uma trajetória admirável, unindo técnica, tradição e arte. Especialista em facas e machados customizados de alto padrão, Israel é um artista do metal que transforma o aço em poesia. Suas obras, marcadas por precisão e beleza, já conquistaram premiações no Brasil e na Europa, incluindo destaque no SICAC Paris Knife Show (2025) e no Salão Paulista de Cutelaria (2023) — o maior da América Latina. Em entrevista ao programa Conversa de Peso, da Vale TV, com Rodrigo Steffen, ele contou como transformou o ofício artesanal em um propósito de vida e uma vitrine para o talento do Vale do Sinos.
Das faíscas da infância ao brilho do aço
Israel Nascher cresceu em uma família simples, onde aprendeu com o pai — um verdadeiro “professor Pardal” — o valor da criatividade e do trabalho manual. “Eu via ele fazer de tudo com as mãos. Mesmo sem ferramentas, ele dava um jeito. A necessidade é a mãe da invenção”, lembra.
Foi nessa oficina improvisada que nasceu o gosto por moldar, criar e experimentar. Ainda menino, Israel tentava montar pequenas lâminas com materiais que encontrava em casa. “Peguei um cortador de unha, um bambu e uma cola epóxi. Na minha cabeça, era uma faca”, diverte-se.
Mas o destino de cuteleiro só se consolidou anos depois. Em 2015, com a popularização dos tutoriais no YouTube, ele percebeu que podia produzir facas de verdade com poucas ferramentas. A primeira foi feita “com uma lima, uma esmerilhadeira e muita curiosidade”. E, mesmo “feiosa”, como ele define, foi o suficiente para despertar a paixão que mudaria sua vida.
O gaúcho e a tradição das lâminas
Israel Nascher gosta de brincar que “o gaúcho nasce com uma faca na cintura”. De fato, a lâmina é símbolo de identidade regional e parte da cultura campeira. “O gaúcho sempre carregou uma faca, seja para o campo, para o churrasco ou para o dia a dia. A faca gaúcha é um ícone do Brasil”, afirma.
Ele destaca que o Rio Grande do Sul é um verdadeiro celeiro de mestres cuteleiros. “A gente tem grandes nomes como Rodrigo Sfreddo e Luciano Dornelles, ambos de Nova Petrópolis. São referências mundiais, pessoas que abriram caminho para todos nós.”
Para Israel, a tradição e a modernidade caminham juntas. “A faca Bowie foi o ícone americano, mas a faca gaúcha é o ícone brasileiro. E agora, com o reconhecimento internacional, o Brasil se tornou um dos grandes polos de cutelaria artística do mundo.”
A vida na chácara e o renascimento criativo
Em 2019, Israel deixou o apartamento e se mudou com a esposa Priscila e a filha Hannah para uma chácara. A mudança de cenário foi decisiva. “Ali encontrei o espaço e a paz que precisava para criar. Foi quando decidi viver da cutelaria.”
Em fevereiro de 2020, participou de seu primeiro curso profissional com os mestres Ismael Miguel Maier e Daniel Jobim, onde forjou, na marreta, sua primeira faca gaúcha. “Quando vi o aço se transformar sob o fogo e o martelo, entendi que aquilo era mais que um trabalho — era arte.”
Desde então, mergulhou de corpo e alma na profissão, experimentando técnicas como o aço damasco, um material forjado a partir de camadas sobrepostas de metais que formam padrões únicos. “O damasco é como uma impressão digital. Nenhum desenho se repete. Cada lâmina é uma obra única.”
Prêmios, feiras e reconhecimento internacional
O talento do artesão de Campo Bom logo ultrapassou fronteiras. Em 2023, Israel venceu o Salão Paulista de Cutelaria com o prêmio de Melhor Machado. No ano seguinte, conquistou destaque no Goiânia Knife Show (2024) e, em 2025, foi laureado no Sicac Show Paris, um dos mais prestigiados eventos de cutelaria do mundo.
“Foi uma surpresa. Os jurados passaram na feira e escolheram minha faca como melhor colaboração. Eu nem estava na mesa quando anunciaram. Minha esposa me contou depois, emocionada”, relembra.
A peça premiada, feita com marfim de mamute, é uma joia rara. “O mamute é um material natural e extremamente limitado. O que existe no mundo é o que foi encontrado congelado. Por isso, cada pedaço é valioso e histórico.”
Israel também contribuiu para o livro internacional Legacy of Steel, que reúne os principais cuteleiros contemporâneos. “Ter meu trabalho nesse livro é uma honra. É o reconhecimento de que a cutelaria brasileira atingiu um nível artístico altíssimo.”
Arte, família e propósito
Apesar da fama crescente, Israel Nascher mantém um estilo de vida simples, próximo da natureza. Gosta de tocar bateria na igreja, curtir o tempo com a família e fazer churrascos de fim de semana — de preferência com uma boa faca, claro.
“Meu trabalho é 100% artesanal. Faço cada peça do início ao fim. É um processo demorado, mas carrega alma. A faca tem que ter propósito, tem que contar uma história.”
Ele acredita que cada lâmina é também uma herança emocional. “Já fiz pedidos de clientes que queriam presentear o filho, o irmão, o pai. São peças que passam de geração em geração. Uma faca bem cuidada é eterna.”
Em média, uma obra de Israel pode custar até R$ 15 mil, dependendo dos materiais e da complexidade. “Mas o valor não está só no material. Está na arte, na precisão e no sentimento envolvido. É um trabalho que exige técnica, paciência e amor.”
Do Vale do Sinos para o mundo
Hoje, as facas de Israel estão espalhadas pelo Brasil e também em países como Estados Unidos, França, Arábia Saudita e África do Sul. “Os clientes viram amigos. A paixão pela cutelaria une pessoas do mundo inteiro.”
Mesmo com a expansão internacional, ele segue firme em Campo Bom, orgulhoso de representar o Vale do Sinos. “Aqui estão minhas raízes. Foi aqui que tudo começou, e é daqui que sigo criando, com as mãos, o coração e o fogo.”
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Clique na imagem abaixo para assistir ao Conversa de Peso com Israel Nascher no canal da Vale TV no YouTube:
Entrevista para o programa Conversa de Peso, apresentado por Rodrigo Steffen.
O Conversa de Peso é um programa exclusivo da Vale TV. Exibido de terça a sexta-feira, das 22h30 às 23h, com mais de 1.400 edições no ar, recebe personalidades da região para um bate-papo inesquecível, focado no perfil do convidado. Desde 2014, o Conversa de Peso é um espaço de destaque a pessoas que fazem a diferença em diferentes segmentos, como sociedade, variedades, empreendedorismo, negócios, cultura, turismo, história, política, educação, saúde, segurança e comunidade, entre outros.
O Conversa de Peso tem o patrocínio de Sicredi, Faculdade IENH, KSA Contábil, Merkator Feiras e Eventos, DSI Internet e Central de Alarmes.

