Natural de Novo Hamburgo, Marcela Bohn é psicóloga, criadora do podcast Vida Significativa e fundadora do Jardim Clínica. Com uma abordagem leve, humana e acessível, ela defende que a vida não é sobre evitar a dor, mas sobre florescer apesar dela.
A psicóloga e mestre em Psicologia Clínica Marcela Bohn, de Novo Hamburgo, representa uma nova geração de profissionais que unem ciência, sensibilidade e presença digital para aproximar a psicologia das pessoas. Criadora do podcast Vida Significativa e do Espaço Jardim Clínica, Marcela tem se destacado nas redes sociais pela linguagem acessível e inspiradora com que fala de saúde mental, propósito e vulnerabilidade. Em entrevista ao programa Conversa de Peso, da Vale TV, com Rodrigo Steffen, ela contou sobre sua trajetória pessoal — de uma menina tímida e medrosa a uma mulher que hoje sobe em palcos, ensina outros terapeutas e encara a vida como um jardim em constante florescimento.
De menina medrosa a Marcela Bohn, a mulher corajosa
Filha de Fábio e Rosane, Marcela cresceu em um ambiente tranquilo, mas lutava contra o medo do novo. “Eu era muito esquiventa, fugia de qualquer situação fora do meu controle. Até passeio de escola eu evitava”, relembra.
A transformação começou ainda na infância, quando uma amiga insistiu para que ela fosse a um parque de diversões. “Eu morria de medo, mas fui. Entrei num brinquedo que virava quase 360 graus e fiquei entre o pavor e o êxtase. Ali aprendi que a vida é agridoce — medo e alegria caminham juntos.”
Essa experiência se tornou uma metáfora para sua filosofia de vida. “A gente cresce quando se permite ser ruim em coisas novas”, diz Marcela Bohn, repetindo uma de suas frases mais conhecidas nas redes sociais. “É preciso se abrir ao desconhecido. Evitar o medo só aumenta o medo. Enfrentá-lo nos devolve a vitalidade.”
A psicologia que floresce
Formada pela Universidade Feevale e com especialização em terapias comportamentais contextuais, Marcela escolheu uma linha de trabalho que valoriza a autenticidade. “Durante a faculdade, eu percebi que não me encaixava naquele estereótipo da psicóloga neutra, distante, de consultório branco. Eu pintei uma parede de amarelo e coloquei plantas. Diziam que era ousado, mas eu precisava criar um espaço que refletisse quem eu era”, conta, sorrindo.
Essa abordagem se tornou sua marca: uma psicologia viva, próxima e humana. “Eu acredito que o vínculo terapêutico é, antes de tudo, uma relação humana. Se muitas das nossas feridas vêm de relações, é através de uma relação segura e empática que podemos nos curar. A terapia é como uma estufa — um lugar de cuidado que ajuda o paciente a florescer antes de voltar para o mundo.”
Da parede amarela ao mundo digital
A pandemia de 2020 mudou o rumo de sua carreira. “Atender de máscara, sem ver o rosto do paciente, não fazia sentido pra mim. Fechei meu consultório e fui para o online. Foi libertador.”
O atendimento remoto permitiu que Marcela Bohn passasse a atender pessoas de todo o Brasil e se conectasse com profissionais da área. “Descobri um novo propósito: além de atender pacientes, comecei a treinar e supervisionar psicólogos. É uma alegria ver colegas florescendo com as próprias práticas.”
Hoje, ela ministra cursos e palestras sobre Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), oferece supervisão clínica e desenvolve o Retiro para Psicólogos, que será realizado ainda este ano. “Quero tirar os terapeutas da zona de conforto. O cronograma é surpresa. A ideia é viver na pele a flexibilidade psicológica, o contato com a natureza e o poder de se abrir para o novo.”
Jardim Clínica: a metáfora que inspira
O nome de sua clínica não é casual. “A natureza é minha maior inspiração. No jardim, cada planta floresce no seu tempo, em um solo diferente. Assim somos nós. A psicoterapia é esse espaço para entender o que nos nutre e o que nos impede de crescer.”
Ela conta que a ideia de um “consultório ao ar livre” surgiu em uma conversa com sua irmã, que mora na Argentina. “Eu dizia que a psicologia era uma profissão solitária, e ela respondeu: ‘Mas tu pode reinventar. Pode até atender num jardim’. E foi o que eu fiz.”
Além da clínica, o podcast Vida Significativa alcançou milhares de ouvintes ao tratar temas como medo, autenticidade, luto e propósito. Um dos episódios mais emocionantes, “O luto é o azar de quem teve sorte”, foi gravado poucos dias após a morte de seu pai. “Eu chorei o episódio inteiro, mas foi libertador. Recebi mensagens de pessoas que se conectaram com a minha dor — e encontraram força para lidar com a própria.”
A força do luto e o poder da presença
Marcela Bohn recentemente perdeu o pai, figura muito conhecida em Novo Hamburgo, e de forma inesperada. O avô e o bisavô já faziam parte da história industrial da cidade, com sua antiga fábrica de Órgãos e Harmônios Bohn fundada pelo empresário trazido pelo então prefeito de Novo Hamburgo. “É uma herança bonita, de inventividade e trabalho. O meu pai era um inventor, um homem alegre e inspirador”, conta com emoção.
Ela lembra que foi criticada por não “se preparar” para a perda. “Me diziam: ‘Tu precisa estar pronta’. Mas como alguém se prepara para perder um pai? Eu vivi cada fase no seu tempo. Quando aconteceu, me surpreendi com a força que encontrei.”
Hoje, Marcela carrega um relicário com a foto dele e uma tatuagem no braço com a frase Let it be. “Ele não está fisicamente, mas eu o sinto em tudo. A presença dele está nas minhas atitudes, nas lembranças e no amor que permanece.”
A forma como ela compartilhou o luto nas redes sociais e no podcast despertou identificação em milhares de pessoas. “Quando a gente fala de dor com verdade, as pessoas se conectam. Não é exposição, é empatia.”
A psicologia como caminho de humanidade
Para Marcela, o maior desafio da atualidade é a pressão por perfeição — especialmente nas redes sociais. “Vivemos uma era de intolerância à vulnerabilidade. As pessoas acham que felicidade é ausência de dor, e não é. O problema é quando se quer eliminar qualquer emoção difícil. Isso gera ainda mais sofrimento.”
Ela cita um trecho que costuma repetir em palestras e aulas: “Quem se suicida, geralmente não quer tirar a vida — quer tirar a dor. O que precisamos ensinar é que a dor faz parte da vida, mas ela pode coexistir com o amor, o riso, o propósito.”
Sua proposta é simples e profunda: “Não se trata de eliminar o sofrimento, e sim de cultivar a vida. Olhar para o que ainda floresce. Mesmo entre as pedras, há sementes tentando brotar.”
TEDx e novos horizontes
Em novembro, Marcela Bohn sobe ao palco do TEDx Erechim para compartilhar sua trajetória e falar sobre o tema “Ser ruim em coisas novas transforma a vida”. “O medo é o solo fértil da coragem. Toda vez que enfrento algo novo, descubro uma nova versão de mim.”
Com essa filosofia, ela segue inspirando não apenas pacientes, mas também profissionais e seguidores em todo o país. “A psicologia é sobre humanidade, não sobre perfeição. É sobre aceitar a vida como ela é — com medo, dor, amor e coragem.”
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Entrevista para o programa Conversa de Peso, apresentado por Rodrigo Steffen.
O Conversa de Peso é um programa exclusivo da Vale TV. Exibido de terça a sexta-feira, das 22h30 às 23h, com mais de 1.400 edições no ar, recebe personalidades da região para um bate-papo inesquecível, focado no perfil do convidado. Desde 2014, o Conversa de Peso é um espaço de destaque a pessoas que fazem a diferença em diferentes segmentos, como sociedade, variedades, empreendedorismo, negócios, cultura, turismo, história, política, educação, saúde, segurança e comunidade, entre outros.
O Conversa de Peso tem o patrocínio de Sicredi, Faculdade IENH, KSA Contábil, Merkator Feiras e Eventos, DSI Internet e Central de Alarmes.

