Ator, diretor, roteirista, palhaço e apresentador, Luis Fernando Rodembuch é uma das figuras mais queridas e criativas da cultura de Novo Hamburgo. Fundador da Paranóia e do festival Dançando, ele celebra mais de quatro décadas de arte, humor e resistência.
O Conversa de Peso recebeu um convidado especial que dispensa apresentações: o ator, diretor, roteirista e produtor cultural Luis Fernando Rodembuch, conhecido também pelo personagem que o eternizou — o palhaço Pirulito. Fundador da Paranóia Produções Artísticas e idealizador de eventos icônicos como o Festival Dançando, Rodembuch é uma lenda viva da cultura hamburguense. Em entrevista ao apresentador Rodrigo Steffen, o artista revisitou memórias, contou histórias divertidas e emocionantes e refletiu sobre sua trajetória de mais de 40 anos dedicados às artes cênicas e à formação de gerações de artistas no Vale do Sinos.
Um artista que nunca parou de fazer acontecer
“Tem pessoas que pensam as coisas para fazer, e outras que fazem as coisas acontecerem. Eu acho que o Papai do Céu me colocou no mundo para isso”, resume Luis Fernando Rodembuch, em uma frase que define bem seu perfil criativo e inquieto.
Aos 43 anos de carreira como palhaço e 39 à frente da Paranóia, ele é responsável por uma das histórias mais duradouras do teatro popular e da arte educativa na região. “Tenho muito orgulho de ser chamado de palhaço. Não há ofensa nenhuma nisso — pelo contrário. O palhaço é quem leva alegria, reflexão e esperança.”
Seu início foi ainda nos anos 1980, no projeto “Brincando com a Criança”, criado em parceria com Ernest Sarlé, uma das grandes referências culturais de Novo Hamburgo. “A ideia era levar palhaços para as escolas municipais, duas Kombis lotadas de artistas, de manhã até o meio-dia. A gente se pintava com tinta têmpera e minâncora, e as crianças ficavam encantadas. Foi ali que eu nasci para o palco — e para o palhaço.”
O projeto ficou marcado na memória afetiva de uma geração e, segundo ele, “deveria voltar”. “Era simples, mas transformador. As crianças choravam quando a gente ia embora. Foi ali que aprendi o poder da arte de tocar o coração das pessoas.”
O palhaço, o produtor e o visionário
Luis Fernando Rodembuch nunca se limitou a um único papel. É ator, diretor, apresentador, escritor e produtor cultural — e todos esses personagens se confundem num mesmo propósito: fazer cultura com amor e criatividade.
Sob sua direção, a Paranóia se tornou uma incubadora de talentos e uma fábrica de sonhos. “Acho que a cultura precisa ser dividida. Quando for boa só para uma pessoa, ela perde o sentido. Quando é boa para todos, ela se multiplica”, afirma.
Essa filosofia o levou a criar e manter, por décadas, eventos culturais de grande impacto regional, como o Festival Dançando, a Mostra de Esquetes, o Festival de Curtas e o Programa Tá, que há 18 anos é uma das atrações fixas da programação da Vale TV.
“Começamos o Tá dois anos antes da própria Vale TV. Foi um marco. Eu levei a ideia do nome, e a gente foi moldando o formato. Hoje é um símbolo da cultura local. Já tem ‘Tá’ em tudo que é lugar — e isso mostra como um projeto simples pode inspirar muita coisa boa.”
O “Dançando” e a reinvenção permanente
O Festival Dançando é um dos maiores eventos culturais da região, com mais de 40 edições e centenas de bailarinos e grupos participantes. “Há quatro anos, meu filho Henrique entrou na produção e trouxe uma nova energia. Ele disse: ‘Pai, vamos tratar bem os bailarinos como nenhum festival faz’. E foi o que fizemos — água, frutas, brindes, camarins preparados com carinho. Isso muda tudo.”
Em 2025, o evento inovou novamente com o Dançando Dog Day, realizado no Parcão de Novo Hamburgo. “Foi lindo! As pessoas dançando com seus cachorros no colo, coreógrafa, música, alegria. Mesmo com chuva, o público apareceu. A cultura também é isso: descobrir novos jeitos de celebrar a vida.”
A observação como matéria-prima
Com seu humor afiado e olhar curioso, Luis Fernando Rodembuch diz que se considera uma “Inteligência Artificial ao vivo”. “A diferença é que eu observo. A IA pode até escrever um roteiro, mas não tem o olhar humano. Eu me inspiro nas pessoas: o bêbado, o guarda, o professor, a dona de casa. O ser humano é a minha matéria-prima.”
Ele lamenta a falta de roteiristas para teatro e audiovisual na região e faz um apelo: “Precisamos formar novos escritores de cena. Há espaço, há mercado, e há demanda. É um campo maravilhoso para os jovens que gostam de contar histórias.”
Viagem, cultura e o olhar de quem vive o mundo
Recentemente, Fernando viajou para Portugal e Itália, experiências que renderam boas histórias — e sustos. “Fui bem tratado em Portugal, mas um pouco maltratado na Itália”, brinca. Em sua narrativa bem-humorada, ele relata desde o encanto com a Casa de Julieta, em Verona — “as mulheres pegando nos seios da estátua para pedir amor e fertilidade” — até um episódio tenso com um albanês suspeito em uma vila italiana. “O cara fazia sinal para eu entrar num beco. Foi sinistro. A gente só escapou porque o Papai do Céu cuidou.”
Mesmo em viagens internacionais, o artista leva consigo o olhar atento de quem vê arte em tudo. “A cultura é o que diferencia os povos. Portugal têm mil anos de história. A Itália mais de dois mil. A gente, aqui no Brasil, ainda está escrevendo a nossa. Por isso, temos que preservar o que temos hoje — porque daqui a mil anos será a nossa herança para o mundo.”
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O humor como filosofia de vida
Luis Fernando Rodembuch é sinônimo de alegria, mas seu humor vem acompanhado de sabedoria. “Todos os dias, a gente tem que levantar pensando na vida, não na morte. É fazer acontecer. A vida é curta demais para deixar de criar.”
Mesmo aos 70 anos, ele mantém o vigor e o entusiasmo de um jovem artista. “Eu tento ser um guri. Jogo bola, ainda sou artilheiro e sigo inventando coisa nova. Não sei parar — e nem quero.”
Com sua energia contagiante, ele continua sendo presença constante na Vale TV e referência para artistas, produtores e espectadores do Vale do Sinos. “A arte é o que nos mantém vivos. E enquanto eu puder subir no palco, segurar um microfone ou pintar o nariz de vermelho, vou continuar fazendo o que amo: espalhar alegria.”
