Edição do programa Estação Hamburgo reuniu lideranças políticas, culturais e comunitárias para discutir educação, valorização do magistério, eficiência energética, aeroporto regional e a retomada da Feira do Livro de Novo Hamburgo.
O programa Estação Hamburgo, exibido no dia 7 de outubro de 2025 pela Vale TV, trouxe uma das conversas mais plurais e inspiradoras dos últimos meses. Sob a mediação de Rodrigo Steffen, a bancada contou com Luciana Martins (vereadora e professora), Regina Winger Abel (advogada, conselheira da OAB e ex-presidente da OAB Novo Hamburgo), João Hahn (consultor de telecom e energia e ex-gestor público) e Alceu Mário Feijó Filho (piloto, escritor e presidente do Aeroclube de Novo Hamburgo).
Entre os temas, a valorização dos professores, a infraestrutura escolar, a eficiência energética nas cidades, a situação do aeroporto regional e a importância da Feira do Livro de Novo Hamburgo. O programa alternou momentos de crítica, emoção e boas notícias — um verdadeiro painel sobre os rumos da educação, da gestão pública e da cultura no Vale do Sinos.
O Dia do Professor e a luta por valorização
A vereadora e professora Luciana Martins abriu o programa com uma fala contundente sobre os desafios enfrentados pela categoria. Com 30 anos de carreira no magistério, ela destacou que a data de 15 de outubro, Dia do Professor, é antes de tudo um momento de resistência.
“Nós temos de comemorar a resiliência de quem escolhe o magistério como profissão. Enfrentamos atrasos salariais, falta de estrutura e desvalorização, mas seguimos firmes porque acreditamos no poder transformador da educação”, afirmou.
Luciana denunciou o descumprimento da reposição inflacionária aprovada em julho pela Câmara de Vereadores, que previa reajustes em três parcelas (2% em julho, 2% em setembro e 1,48% em dezembro). Segundo ela, os professores de Novo Hamburgo receberam a folha salarial de setembro sem o pagamento retroativo, o que representa uma perda real de renda.
A parlamentar lembrou ainda que a rede municipal atende mais de 24 mil estudantes, o equivalente a quase 10% da população hamburguesa, e absorve 25% do orçamento público de R$ 2 bilhões. “A educação é o maior vetor de desenvolvimento social e econômico. O que construímos hoje na escola, colhemos amanhã na cidade”, reforçou.
Infraestrutura precária e desafios tecnológicos
O debate se aprofundou nas condições das escolas municipais e estaduais. Luciana destacou que um terço das escolas de Novo Hamburgo ainda não possui subestação elétrica, o que impede o uso pleno de equipamentos e sistemas de climatização.
“Temos escolas onde a energia cai no meio da aula e outras que precisam suspender atividades por falta de estrutura. É impossível ensinar ou aprender sem conforto térmico e segurança”, alertou.
Ela também citou o exemplo positivo da Escola Municipal Frederico Ludwig, em São Leopoldo, que se tornou referência regional em inovação, com projetos de hidroponia, foguetes, mecatrônica e sala de podcast. “Precisamos multiplicar experiências como essa, onde tecnologia e educação andam juntas”, concluiu.
Educação como missão e herança
A advogada Regina Winger Abel emocionou o público ao relembrar suas professoras e o valor da educação em sua própria trajetória.
“A educação é a base de tudo. Eu agradeço todos os dias à professora que me ensinou a ler — a dona Tejanira, que me dizia: ‘Lê direito!’ — e foi assim que aprendi o valor do conhecimento”, contou, sorrindo.
Regina criticou a falta de investimento público nas escolas e o abandono das estruturas físicas, especialmente nas unidades mais antigas. Para ela, o descaso com o magistério é um dos sintomas de uma sociedade que perdeu o respeito pelos educadores.
“As escolas chovem por dentro. Faltam equipamentos, segurança e apoio. O professor é desrespeitado não só pelo governo, mas muitas vezes pelos próprios alunos. Isso começa em casa, com a educação familiar”, completou.
O olhar do setor técnico: energia e eficiência
O consultor João Hahn, especialista em telecomunicações e gestão pública, trouxe ao programa uma pauta urgente: o desperdício de recursos na iluminação pública. Ele explicou que Novo Hamburgo arrecada cerca de R$ 28 milhões por ano com a Contribuição de Iluminação Pública (CIP), mas ainda possui 17 mil luminárias antigas, que poderiam ser substituídas por LED.
“Com a troca completa, o município economizaria até R$ 3 milhões por ano em energia. É um investimento que se paga rapidamente e ainda moderniza a cidade”, afirmou Hahn.
Ele também defendeu a implantação de sistemas de telegestão para monitorar o consumo e a manutenção da rede, destacando que o dinheiro arrecadado precisa ser usado de forma transparente.
A vereadora Luciana, por sua vez, comprometeu-se a protocolar requerimento para investigar a destinação dos recursos e a aplicação dos fundos municipais. “A cidade precisa saber para onde vai o dinheiro da energia e como ele está sendo usado”, reforçou.
Do céu ao solo: o Aeroclube e o futuro do aeroporto regional
O piloto e escritor Alceu Mário Feijó Filho, presidente do Aeroclube de Novo Hamburgo, trouxe à conversa um tema de grande importância para o desenvolvimento regional: o Aeroporto Regional Pedro Adams Filho.
Feijó explicou que a área é propriedade do Aeroclube, conforme lei municipal de 1983, e tem destinação exclusiva para a aviação civil e instrução técnica. Segundo ele, há especulação imobiliária e interesses econômicos tentando interferir no espaço, mas o Aeroclube mantém a defesa da sua função pública.
“Nós somos um dos poucos municípios do Brasil com escola de aviação. É um patrimônio da cidade e precisa ser preservado. Hoje, temos várias mulheres fazendo curso de piloto, e a aviação agrícola e comercial está cada vez mais aberta à presença feminina”, destacou.
Feijó também revelou que há R$ 2,4 milhões em recursos federais destinados ao aeroporto, provenientes dos senadores Luis Carlos Heinze e Hamilton Mourão, aguardando liberação para obras de pavimentação e modernização da pista.
“A burocracia e os entraves jurídicos não podem travar o desenvolvimento. Manter o aeroporto ativo é essencial para o futuro econômico e educacional da região”, afirmou.
Cultura e literatura em destaque: a Feira do Livro de volta
Uma boa notícia encerrou o programa: a retomada da Feira do Livro de Novo Hamburgo, prevista para acontecer de 17 a 23 de novembro.
Luciana Martins confirmou que o evento foi garantido após emendas parlamentares apresentadas por ela e outros vereadores. A advogada Regina e o apresentador Rodrigo defenderam que a feira seja realizada na Praça do Imigrante, para fortalecer o centro da cidade e incentivar o comércio local.
“A cultura é o motor do desenvolvimento urbano. A feira do livro pode revitalizar o centro, atrair famílias, estudantes e gerar movimento econômico”, defendeu Luciana.
O escritor Alceu Feijó, autor de O Aviador, também anunciou o lançamento do segundo volume da obra, que reúne crônicas de sua vida na aviação e memórias da região. O apresentador elogiou o livro como “um registro poético da história e da coragem de quem viveu o céu e o chão do Vale do Sinos”.
Mulheres, representatividade e futuro
O programa encerrou com um debate sobre o papel das mulheres na política e na sociedade, levantado por Regina Abel. Ela celebrou a posse da nova Secretária Estadual da Mulher, mas alertou para o crescimento dos casos de feminicídio no Rio Grande do Sul.
“Mesmo com formações, cargos e conquistas, ainda somos cortadas, interrompidas e desvalorizadas. O machismo está presente em todos os espaços. É preciso transformar essa realidade com educação e empatia”, afirmou.
Luciana completou lembrando que a atual legislatura é a primeira da história de Novo Hamburgo com três vereadoras eleitas. “Ser mulher e estar na política é um ato de resistência. Nosso desafio é abrir caminho para que outras venham”, concluiu.
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Um retrato do Vale do Sinos em movimento
A edição do Estação Hamburgo mostrou, mais uma vez, por que o programa se tornou um espaço essencial de diálogo comunitário. Entre reflexões sobre educação, cultura, infraestrutura e futuro, ficou evidente que o Vale do Sinos pulsa com ideias, desafios e esperanças.
“O que nos move é a vontade de ver o Vale crescendo com consciência, respeito e oportunidades para todos”, resumiu Rodrigo Steffen, ao encerrar o programa.
Debate realizado no dia 7 de outubro de 2025 no programa Estação Hamburgo, apresentado por Rodrigo Steffen, na Vale TV.